A vida cristã e a luta contra o pecado.


O arrependimento é a coisa mais importante na vida cristã, e o arrependimento não acontece apenas em um momento, mas deve ser uma constante na vida do cristão.
O arrependimento não é apenas um sentimento de pesar pelo pecado, apesar de este sentimento estar presente no arrependimento. O arrependimento deve começar com o sentimento de pesar pelo pecado, mas não é só isso, ele é principalmente caracterizado pela inclinação, pela busca, pelo foco de voltar atrás, de abandonar velhas práticas e perseguir a santidade.
E santidade pra nós não é sinônimo de viver sem pecado, se fosse isso estávamos perdidos, mas é a inclinação em buscar obedecer a palavra de Deus e viver a Justiça do Reino
Se existe uma verdade que João trata com muita clareza na sua primeira epistola é sobre esse assunto, ele diz que aquele que conhece a Cristo não vive no pecado, ou seja, não é inclinado a pecar, ou não se entrega ao pecado, mas ao mesmo tempo ele diz que aquele que diz não cometer pecado, a verdade não está nele.

“Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.” 1 João 1:10
“Qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu.” 1 João 3:6

Temos que tratar o pecado não com sentimentalismo, mas com racionalidade, o pecado habita nosso interior, isso é fato, é impossível ao homem não pecar, porque enquanto estivermos nessa vida estamos contaminados pelo pecado, e não há nada que façamos que seja absolutamente puro ou bom.
Mesmo quando fazemos caridades, essa caridade vai estar suja por pecados, ou por orgulho, ou por menosprezo, ou por justiça própria, sempre, em tudo o que fazermos, haverá uma parcela do pecado se manifestando em nosso interior.
Portanto, diante dessa situação, nos é ofertada apenas duas posições, ou nos conformamos ao pecado e nos entregamos a ele, e não temos qualquer receio em cometê-lo, ou lutamos contra ele resistindo ao pecado, evitando o máximo que conseguirmos, pelo maior tempo que conseguirmos, buscando sempre em Deus o perdão e a misericórdia, confiando firmemente que pelo sacrifício de Jesus na cruz, temos garantido o perdão.
Lutar contra o pecado faz parte do arrependimento. Quando nos arrependemos sentimos pesar pelo nosso pecado, mas mais do que isso, buscamos lutar contra ele.
A nós cabe então a disposição em resistir, lutar, evitar o pecado, mas devemos ter em mente que quem nos fortalece, quem nos ampara, quem nos da graça é Deus. E quando pecamos, porque vamos pecar, temos que recorrer à cruz. Porque nunca será por nosso mérito ou esforço, e sim sempre pela misericórdia de Deus para conosco.
Paulo nos fala sobre isso em Romanos 8 quando diz:

“Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.” Romanos 8:6

Porque a INCLINAÇÃO pra carne é morte, mas a INCLINAÇÃO para o Espírito é Vida, então existe uma parte que nos cabe sim, a de nos inclinar, lutar, resistir. Mas também temos que ter a consciência que nossas forças nada podem contra o pecado. Precisamos confiar na ação sobrenatural do Espírito Santo em nossas vidas.
Alguns pecados nós vamos vencer, alguns vamos abandonar com o tempo pela Graça de Deus operando em nossos corações, mas sempre que chegamos mais perto de Deus, mais vamos perceber outros pecados, principalmente aqueles que acontecem no nosso intimo.
E por isso temos que sempre estar buscando mais e mais a Deus! O verdadeiro cristão é aquele que olha pra si mesmo e se vê um miserável pecador. O cristão que vê a si mesmo e enxerga bondade e justiça, algum problema tem.
Ninguém merece a salvação. O que podemos fazer para nos justificar diante de Deus? Por isso depositamos nossa Fé em Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e quando a bíblia nos chama a viver em arrependimento, ela não esta dizendo pra ficarmos cabisbaixos o tempo todo, choramingando por nossas misérias.
O arrependimento deve ser racional, assim como a Fé é racional. Devemos ter a real ideia de nossa condição de pecado, ao mesmo tempo em que devemos ter a real ideia da grande Salvação que Deus nos deu através de Cristo.
É preciso viver a vida cristã racionalmente, sabendo que temos leis a cumprir, a obedecer, sabendo que há uma Justiça que devemos caminhar nela. E sabendo também que sempre que pecarmos podemos com confiança recorrer ao perdão, sempre buscando o VOLTAR ATRÁS.
As vezes somos tentados a pensar que a Graça de Deus é injusta por nos conceder perdão que não merecemos. Isso é fruto da má compreensão do que é Graça. A Graça é outorgada através do arrependimento.
Arrependimento significa voltar atrás, voltar ao que é correto, mudar a direção. Quando nos dispomos a voltar à origem, ou àquilo que é correto, nos dispomos a lutar contra o nosso pecado.
Por esse esforço, e não pelo mérito de ter conseguido, mas pelo esforço em tentar, é que alcançamos a Graça.
Mas o que é a Graça de Deus? É apenas perdoar quem merece ser condenado? Não!
Livrar um condenado da prisão somente porque ele ficou triste pelo que fez é injusto, não é graça. Mas a Graça não é injusta porque a JUSTIÇA de Deus é operada na GRAÇA.
Quando Jesus morreu na cruz pelos nossos pecados, Ele cumpriu toda a Justiça de Deus. Ele como Homem bebeu do cálice da ira de Deus. Ele como Homem perfeito conseguiu pagar aquilo que nós, mesmo passando toda a eternidade no inferno, não conseguiríamos pagar.
Porque se fosse possível, passaríamos por um tempo no inferno, ate pagar o preço do pecado, e depois estaríamos justificados.
Mas a culpa do pecado é impagável. Mesmo a eternidade inteira no inferno pagando pelos nossos pecados não nos justificaria diante de Deus.
Cristo somente conseguiu pagar porque ele foi Homem perfeito, e assumiu a posição de todos os homens na cruz.
Portanto, todos os homens foram comprados por Cristo pelo seu sangue, e por isso Ele é Senhor de todos.
Portanto Ele pode perdoar ou não perdoar a quem desejar, pois Ele nos comprou.
No entanto ele oferta a sua Graça a todos os homens, ou seja, a Graça é o mecanismo pelo qual Cristo te coloca em uma posição que você não deveria estar.
E Ele coloca porque somente Ele pode colocar, somente Ele nos comprou, e somos dEle. Ele nos coloca então em uma posição de Justiça, Justificados pelo seu sangue.
A partir do momento em que participamos da Graça, ou seja, somos colocados na posição de Justiça, devemos então viver nessa posição, ou seja, viver em Justiça.

“Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” Romanos 6:1-2

E o que é ser Justo?
Justo é aquele que procura agir corretamente, com retidão, não é apenas uma condição de obediência total a lei em sua forma, isso não é ser Justo, é ser Legalista.
O Justo é aquele que coloca em seu coração como parâmetro principal a Palavra de Deus, isso inclui principalmente amar a Deus sobre todas as coisas, amar ao próximo como a si mesmo, olhar para as pessoas com a mesma misericórdia que você alcançou, e nisso esta também o arrependimento todas as vezes que percebemos que erramos.
O Justo não é sem pecado, mas é aquele que mesmo quando peca vive em justiça, quando erra para com o irmão busca retratar, quando erra para com Deus clama por perdão, quando erra para com a verdade, volta atrás e anuncia a verdade.
Vejamos a vida de Davi, porque ele foi justo? Porque quando ele caia em si, e via seu erro, ele procurava voltar atrás, procurava se retratar com as pessoas e com Deus.
Essa é também a diferença primordial que teve entre Judas e Pedro. Judas entregou Jesus e o traiu, e quando percebeu seu erro, ele ficou cheio de remorso. Judas sentiu o peso da sua culpa, ele foi ate os sacerdotes e devolveu o dinheiro a eles, mas ele saiu e foi se matar.
Judas não quis voltar atrás, ele se sentiu imundo demais para isso. Apesar de se sentir culpado, ele não teve a decisão de reconciliar-se com Cristo.
Pedro fez algo muito parecido. Pedro não traiu o mestre, mas o negou publicamente. Envergonhou todo o colégio apostólico com sua postura covarde. Ele rejeitou a verdade por alguns instantes. E quando o galo cantou ele saiu chorando copiosamente.
Pedro sentiu sua culpa, sentiu sua vergonha, mas diferentemente de Judas, quando ouviu as mulheres falarem que Jesus havia ressuscitado, ele e João saíram correndo em disparada até o tumulo, porque Pedro queria reconciliar-se com o Mestre. Ele desejou obter perdão, ele quis encontrar-se com Cristo e essa é toda a diferença.
O homem natural está morto espiritualmente! E a principal característica daquele que está morto espiritualmente é que ele não tem o menor problema com o pecado dele.
Só há uma coisa que pode reviver o homem caído, quando o evangelho é anunciado, e o Espírito Santo convence do pecado, da justiça e do juízo, então este homem tem a oportunidade de reviver, através do arrependimento, e então acontece o milagre em que o espírito morto revive, e ele passa a considerar os caminhos de Deus.
Olhe pra você antes de se converter, você tinha alguma preocupação com o que a Lei de Deus te ordenava? E depois que ouviu o evangelho, e conheceu a Lei de Deus? Você passou a sentir os seus pecados?
Essa é a diferença entre o morto espiritual e o revivido espiritualmente, aquele que está vivo sente, o que está morto não sente nada.
Aquele que está vivo para Deus, busca lutar contra o pecado que habita seu interior, passa a viver uma vida de consagração, buscando o entendimento da Lei de Deus e praticando o louvor e o culto racional a Deus.
Com o espírito renascido, passamos a ter o espírito lutando contra a carne, se andarmos em espírito não atenderemos aos desejos da carne.
Antes nosso espírito estava morto em delitos e pecados, afastado de Deus, vivendo sem esperança, mas quando somos renascidos em Deus, o espírito passa a receber Vida do Espírito Santo de Deus, e então o espírito passa a lutar contra a carne, é isso que Paulo ensina em Gálatas 5
“Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.” Gálatas 5:17

Portanto a vida cristã deve ser marcada por uma luta contra o pecado, e essa luta só pode ocorrer por fruto de um arrependimento genuíno e permanente. E a confiança na Salvação conquistada por Jesus Cristo na cruz, nos dando a Esperança de eterna redenção.


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