Temos visto a
teologia moderna fazendo algumas considerações a respeito da Lei de Deus,
considerações perigosas e heréticas.
A Lei dada
por Deus através de Moisés tem sido motivo de muitas controvérsias na
comunidade cristã ao longo dos séculos. Desde Marcião no inicio do século II
vemos que a comunidade cristã via essa questão com uma enorme miopia.
Por outro
lado, se olharmos um pouco antes, percebemos que apóstolo Paulo lutou
enfaticamente contra aqueles que, sob o pretexto de obedecer a Lei, queriam
judaizar a igreja.
Portanto
vemos que a respeito da Lei de Deus nos cabe muitas considerações.
Primeiro, a
Lei foi dada por Deus e não por Moisés. Moisés foi o instrumento que Deus usou
para que o povo de Israel no deserto conhecesse a Lei. Alguns teólogos erroneamente
afirmam que Moisés legislou sobre o povo de Israel, se lermos a Tora com sinceridade
e sem preconceitos, vamos perceber que estes mandamentos vieram do Senhor, para
fazer o povo de Deus sábio e instruído (Dt4:6-8 || Tg3:13-17).
Se a Lei
provem de Deus então a Lei é primeiramente Boa, Santa, Agradável, e por fim
Eterna (Sl19:7||Rm12:2)(1Cr16:16-17, Sl105:9-10||Mt5:17-18).
No entanto a
teologia moderna, vê principalmente nos ensinos de Paulo (o maior de todos os
fariseus de seu tempo) uma ruptura da Nova Aliança com a Lei da chamada “antiga
aliança”.
Vamos
analisar alguns destes textos primeiramente da carta aos Gálatas:
Em Gálatas 2
Paulo discorre sobre um desentendimento entre ele e Pedro, no qual até Barnabé
estava sendo envolvido. (Gálatas 2:12-13). Paulo diz que antes que viesse alguns
judeus cristãos, vindo da parte do apóstolo Tiago, Pedro se assentava a comer
com os gentios convertidos de Antioquia, mas quando estes judeus vieram, Pedro
passou a evitar essa comunhão com os gentios.
Fica evidente
neste texto que havia uma acepção de pessoas no meio cristão, aqueles que eram
judeus se sentiam superiores a aqueles que eram gentios, e que tinham aceitado
a Jesus como Senhor.
O pensamento
que havia era de que havia a necessidade destes gentios guardarem as tradições
judaicas (que nada tem a ver com a Lei dada por Moisés, mas com dogmas de
homens) para que fossem aceitos. Esse pensamento e essa dissensão entre Paulo e
Pedro culminaram no primeiro concílio de Jerusalém registrado em Atos 15. Cuja
abordagem era: O que é necessário para o gentio que está se convertendo a
Cristo?
Vamos
perceber na decisão final, redigida pelo apóstolo Tiago (principal líder da
igreja apostólica, e irmão carnal do Senhor) nos esclarece muitas coisas.
Primeiro Tiago registra que aqueles judeus não haviam sido enviados para
Antioquia com o propósito que eles foram (At15:24).
Segundo ponto
que vamos ver como resultado desse concilio é a declaração da esperança de
restauração do Reino de Israel (At15:15-16), depois que o mínimo a ser ordenado
aos gentios era que se guardassem dos ídolos, da prostituição, da carne
sufocada e do sangue. E diz mais, diz que Moisés é pregado todos os sábados nas
sinagogas.
Ora, vamos
ver que das 4 recomendações mínimas dadas aos gentios que se abstivessem, duas
delas tratam de leis de dieta, comumente anunciada como extintas pela igreja
moderna. E a recomendação é que os gentios aprendessem os “ensinos da Lei” aos
sábados nas sinagogas.
Paulo
concordou e apoiou o texto da conclusão deste concílio conforme At15:22.
Mas quando
Paulo repreendeu a Pedro, Paulo colocou enfaticamente qual era o papel da Lei,
que todos os judeus sabiam claramente, quando disse:
“Nós somos judeus por natureza, e não pecadores dentre os gentios. Sabendo
que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo,
temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo,
e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será
justificada.” Gálatas 2:15-16
Todo o judeu
sabia claramente que a Lei não justifica a ninguém. O papel da Lei é justamente
definir o pecado, é a Lei quem mostra os nossos pecados (Rm7:7).
Ainda na
carta aos Gálatas, Paulo afirma que Deus nos resgatou da “maldição da Lei”, o
que a teologia moderna tem ensinado que, por estarmos em Cristo não devemos
mais seguir a Lei, pois fomos resgatados da “maldição da Lei”.
Será que
Paulo em algum momento chamou a Lei de Maldita? Ou será que ele se referia às
maldições proferidas no monte Ebal? A quem desobedecesse à Lei? (Dt28:15-68).
Todos nós
pecamos, e por causa das nossas transgressões estamos sujeitos às maldições da desobediência
da Lei, mas através do sacrifício de Cristo estamos livres da maldição da Lei.
Os Gálatas
estavam errando em crer que era necessário guardar a Lei para serem
justificados por Deus, o que justamente o oposto do que a doutrina dos
apóstolos sempre ensinou.
Em sua carta
aos Gálatas, Paulo não está combatendo contra a guarda da Lei, mas o propósito
de usar a Lei para se justificar diante de Deus. Usar a Lei para esse propósito
consiste em legalismo. A Lei não tem poder para salvar visto que estamos
enfermos pelo pecado.
“Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela
carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado
condenou o pecado na carne;” Romanos 8:3
No entanto,
isso não torna a premissa de que a Lei não é mais necessária como verdadeira. O
que Paulo estava combatendo não era o uso da Lei, mas o enfoque que os Gálatas
estavam dando à Lei.
Vamos
compreender melhor isso quando analisamos outra carta escrita pelo próprio
Paulo, agora aos Colossenses.
Em sua carta
aos Colossenses ele inicia sua carta dizendo que estava intercedendo para que
aqueles homens fossem cheios do Pleno Conhecimento de Deus:
“Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos
de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade,
em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar
dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa
obra, e crescendo no conhecimento de Deus;” Colossenses 1:9-10
Onde poderiam
ter o “conhecimento da sua vontade”, “a sabedoria e inteligência espiritual”, “para
andar dignamente diante do Senhor”, “em toda a boa obra” senão através do
conhecimento da Lei de Deus?
Vejamos as
palavras do próprio Paulo a Timóteo:
“E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem
fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus.” 2 Timóteo 3:15
Mas a
teologia moderna diz que em Colossenses 2:20, Paulo diz que não devemos nos
prender mais aos rudimentos do mundo. Ora, o que Paulo chamou de “Rudimentos do
Mundo” acaso foi a Lei de Deus?
O que Paulo
se referiu como “rudimentos do mundo” era conhecido pelos colossenses, e pelos
gregos em geral, como a doutrina estoica, que tratava o corpo e os prazeres da
carne como algo sempre maléfico, e ensinavam a negar os prazeres da carne, com
leis ordenando “não toques, não proves, não manuseies”. Essa doutrina estoica
encontrou um terreno extremamente fértil no meio da igreja gentílica do
primeiro século, a ponto de influenciar grandemente os chamados “pais da igreja”.
Ainda hoje, grande
parte dos ensinos que vieram do puritanismo, não passa de um estoicismo
cristão, que segundo Paulo “têm, na
verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em
disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da
carne.” Colossenses 2:23.
E logo quando
Paulo abre o capitulo 3 da mesma carta, Paulo conclama seus irmãos a:
“Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de
cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de
cima, e não nas que são da terra; (...) Mortificai, pois, os vossos membros,
que estão sobre a terra: a fornicação, a impureza, o afeição desordenada, a vil
concupiscência, e a avareza, que é idolatria;” Colossenses 3:1-5
Ora, quais as
Leis vieram de cima e não da terra senão a Tora? Qual Lei Paulo se referiu ao
ordenar afastar-se da fornicação, impureza, afeição desordenada, vil
concupiscência, e avareza? Não foram das Leis de Deus?
Portanto não
vemos em nenhum momento Paulo rejeitando a Lei de Deus, ou estabelecendo novas
Leis.
A Tora está
em pleno vigor, são Leis que nos fazem conhecer a mente de Deus, que nos
revelam a sua vontade e nos ensinam a viver de maneira digna e agradável ao
Pai. Por isso Jesus mesmo nos alertou dizendo:
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e
aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a
ele.” João 14:21.
O que vamos
perceber é que Paulo, Tiago, Pedro, João, todos eles colocaram a Lei na sua
função devida.
A salvação
que temos em Cristo é pela Graça de Deus, e mediante a Fé. Somos salvos pelo
que Cristo fez na cruz por nós, pagando o preço de nossos pecados, satisfazendo
a Justiça de Deus e possibilitando a nossa reconciliação com o Pai.
No entanto a
salvação não é um fim em si mesmo. Não somos salvos apenas para ir pro céu, se
fosse assim, porque ainda teríamos fôlego nessa terra após depositar nossa Fé
em Cristo?
Somos salvos
para viver a Justiça do Reino de Deus. Somos salvos para sermos Luz no mundo e
Sal na terra. Somos salvos para produzir boas obras, e glorificar com nossos
frutos nosso Pai que está nos Céus. E como cumprir esse objetivo se recusarmos as
Leis de Deus como a teologia moderna nos orienta?
O
arrependimento pelo arrependimento é algo inócuo em si mesmo. Tanto a METANOIA
(mudança de mente) do grego, como o TESHUVA (volta a origem) do hebraico só
possui sentido quando é colocado o “objetivo da mudança” ou o “caminho do
retorno”.
Portanto o
caminho do retorno, ou a nova mente que devemos ter em Cristo é a Lei de Deus.
Não somos salvos pela prática da Lei, mas ao momento em que somos Salvos,
praticamos a Lei.
Tiago
endereçou sua carta aos Judeus que viviam longe de Jerusalém, e ele
expressamente recomendou dizendo:
“E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a
vós mesmos.” Tiago 1:22
E em sua
carta Tiago remete a diversos ensinos da Tora, mostrando que aqueles que se
convertiam a Cristo deveriam produzir frutos concernentes a essa nova
realidade.
Portanto
devemos sim, como cristãos, olhar atentamente para a Lei de Deus, não apenas
para a sua forma, mas principalmente para os ensinos morais que ela transmite,
assim como fez Jesus no sermão da montanha (Mt 5, 6 e 7). Para que ao ouvir a
Palavra de Deus, nossa Fé seja edificada (Rm10:17) e mediante essa Fé sejamos
salvos (Ef2:8).
ÓTIMO
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