“Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da
glória, em acepção de pessoas.” Tiago 2:1
Se existe um
comportamento extremamente maléfico no meio da igreja de Cristo é o
comportamento de fazer acepção de pessoas.
Pode ser
feito acepções de várias formas, pode-se fazer acepção pela posição social de
alguém em distinção aos mais humildes, pode-se fazer acepção pela
intelectualidade ou grau de instrução, pode-se fazer acepção até mesmo pelo
nível de comprometimento com o evangelho.
Infelizmente
o pecado que habita o nosso interior nos leva a fazermos acepções em vários
sentidos, menosprezando uns e exaltando outros. Esse pecado terrível provoca no
corpo de Cristo separação, e por muitas vezes injustiças.
Foi neste
contexto de acepção de pessoas que Deus ordenou ao profeta que anunciasse, como
voz de trombeta, o pecado do povo de Israel.
“Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta
e anuncia ao meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados.” Isaías
58:1
Quando
analisamos o contexto narrado neste capítulo 58 do livro de Isaías, vamos
perceber que o pecado daquele povo, naquele momento, não era terem-se apartado
da Lei do Senhor, nem abandonado o culto à Deus. Muito pelo contrário, Deus
mesmo dá testemunho de que eles estavam buscando a Lei e cultuando ao Deus
verdadeiro.
“Todavia me procuram cada dia, tomam
prazer em saber os meus caminhos, como um povo que pratica justiça, e não deixa o direito do seu Deus;
perguntam-me pelos direitos da justiça, e
têm prazer em se chegarem a Deus, dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não
atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes?” Isaías
58:2-3a
Perceba que a
nação de Israel estava praticando religiosamente a observância das Leis, praticavam
o jejum, e inquiriam de Deus o porquê eles estavam sofrendo adversidades mesmo
estando agindo de forma tão religiosa para com Deus.
Quantos
cristãos hoje estão em situação muito parecida? São assíduos nos cultos das
igrejas, são pessoas que oram, jejuam, meditam na Palavra, no entanto as bênçãos
e a misericórdia do Senhor parecem estar tão longe de nossas vidas? E não são
poucos os que questionam a Deus, como a nação de Israel estava fazendo “Por que afligimos as nossas almas, e tu não
o sabes?”.
A resposta
divina vem apontando que a maneira religiosa que muitas vezes adotamos em nosso
relacionamento com Deus é ineficiente para que sejamos ouvidos por Ele.
“Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua
alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e
cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor?” Isaías 58:5
Muitas vezes
nos apegamos à forma de adorar a Deus e não à sua essência. Aqueles israelitas
estavam de fato jejuando, afligindo a sua alma no dia do Yom Kipur, conforme
estava estabelecido em Levíticos:
“Mas aos dez dias desse sétimo mês será o dia da expiação; tereis santa
convocação, e afligireis as vossas almas;
e oferecereis oferta queimada ao Senhor. E naquele mesmo dia nenhum trabalho
fareis, porque é o dia da expiação, para fazer expiação por vós perante o
Senhor vosso Deus.” Levítico 23:27-28
Porém se
apegaram tanto à forma que se esqueceram da essência do mandamento. O
mandamento ordenava que fosse afligida a alma, pelo pecado, para que fosse
feita a expiação.
Era pedido
aqui pelo Senhor que houvesse contrição no coração de cada israelita, o
mandamento era para toda a nação, todos eles necessitavam da mesma expiação,
pois todos eles haviam pecado diante da Lei.
Como crentes em Jesus, nosso cordeiro pascal, o arrependimento
e contrição pelos pecados deve ser uma constante. Mesmo após termos nos rendido aos pés de
nosso Senhor e Salvador, ainda enfrentamos uma batalha contra o pecado, e por
que o pecado ainda habita em nosso interior nós choramos, contristamos e
buscamos o perdão de Cristo diariamente.
“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;” Mateus
5:4
No entanto, entre muitos crentes em Jesus, o pecado que habita o nosso interior nos leva
a apegarmos às formas "cristãs" de arrependimento, nos leva a ter um
comportamento de aparente santidade, de combate às obras da carne, de jejuns e
orações, mas confiando apenas nessas "características" externas, nos esquecermos da essência do arrependimento.
Aqueles
israelitas apesar de guardarem religiosamente o Yom Kipur, o faziam com acepção
de pessoas, colocando jugo sobre os mais pobres, e obrigando o trabalho no dia
que era para ser um Shabat (dia de descanso).
“Eis que no dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento, e requereis todo o vosso trabalho. Eis
que para contendas e debates
jejuais, e para ferirdes com punho iníquo; não jejueis como hoje, para fazer
ouvir a vossa voz no alto.” Isaías 58:3-4
Shabat
significa “descanso”, e não era apenas o sétimo dia da semana um Shabat, mas
todos os ajuntamentos solenes eram um dia de Shabat (como o nosso feriado),
onde não deveria haver trabalhos, para que toda a congregação dos israelitas
pudesse praticar a adoração a Deus.
O Yom Kipur
deveria ser um Shabat, onde não haveria trabalhos, e todos poderiam afligir as
suas almas, buscando a contrição e o arrependimento, para fazer a expiação
pelos pecados através das ofertas queimadas.
No contexto
de Isaías 58, os pobres e empregados estavam sendo obrigados a trabalharem, impedindo
de praticarem o Yom Kipur.
E pelo que
podemos perceber no contexto de Isaías 58 isso não acontecia apenas no Yom
Kipur, mas fica bem claro que os mais ricos estavam impondo um jugo sobre os
mais pobres:
“Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da
impiedade, que desfaças as ataduras do
jugo e que deixes livres os
oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o
teu pão com o faminto, e recolhas em
casa os pobres abandonados; e,
quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?” Isaías 58:6-7
Na
congregação de Israel nunca foi proibido que um israelita tivesse trabalhadores
ou que tivesse posses, mas sempre foi ordenado que se tratasse com justiça a
seus irmãos, não fazendo acepção entre eles. Pelo contrário, o mais rico
deveria se compadecer do mais pobre.
“Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao
pobre que está contigo, não te haverás com ele como um usurário*; não lhe
imporeis usura**.” Êxodo 22:25
* usurário = avarento.
* usura =
cobrança de juros, agiotagem.
“Quando também teu irmão empobrecer, estando ele contigo, e vender-se a
ti, não o farás servir como escravo. Como diarista, como peregrino estará
contigo; até ao ano do jubileu te servirá;” Levítico 25:39-40
Assim, apesar
de aqueles israelitas estarem observando o mandamento do Yom Kipur, estavam
errando em outros mandamentos, não amando aos seus irmãos, nem tratando-os de
forma igualitária, mas se sobrepujando a seus irmãos.
Eles estavam
participando do shabat do Yom Kipur, mas impedia seus irmãos de terem o seu
shabat (descanso), impondo um jugo (peso) sobre seus irmãos, cobrando-lhes o
seu trabalho.
Nós muitas vezes estamos na mesma situação daqueles israelitas,
aplicando sobre nossos irmãos vários jugos, não observando a essência dos
mandamentos do Senhor, mas praticando apenas a sua forma.
Fazendo assim
estamos fazendo acepção de pessoas, pois julgamos que alguns têm o direito de
impor julgo sobre outro quando deveríamos de fato suportar uns aos outros.
“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da
vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor” Efésios 4:1-2
Mas como
podemos estar fazendo acepção de pessoas na igreja de Cristo?
Podemos fazer
acepção de pessoas pelas condições sociais, intelectuais, ou até por afinidades
pessoais. Mas o que gostaria de chamar atenção é para um aspecto da acepção que
talvez seja a que mais tem destruído vidas no meio da igreja, a acepção moral.
Infelizmente
alguns cristãos se acham moralmente superiores a outros, e se consideram mais
santificados que outros, olhando para os mais fracos com menosprezo, talvez,
por ainda, eles estarem em lutas com pecados mais “simples”.
Não obstante,
também impondo sobre os irmãos um padrão de santidade que nem ao menos é
exigido pelas escrituras, ordenando não tocar, não manusear, não experimentar:
“e, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por
que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não
toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso,
segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma
aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do
corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.” Colossenses
2:20-23
Isso não quer
dizer que, ao ver o seu irmão pecando, você deva fazer “vistas grossas”, em
nenhum momento a bíblia aprova a conivência com o pecado. Mas devemos observar
a maneira correta e bíblica de exortar o irmão ainda fraco na fé:
Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós,
que sois espirituais, encaminhai o tal com
espírito de mansidão; olhando por ti
mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo.
Gálatas 6:1-2
Devemos
entender que assim como no Yom Kipur todos deveriam afligir as suas almas,
buscando contrição e arrependimento para fazerem expiação pelos seus pecados,
assim também todos nós necessitamos do mesmo arrependimento.
Todos somos
igualmente pecadores e condenáveis aos olhos de Deus, e todos nós necessitamos
do mesmo sangue e do mesmo sacrifício (Jesus) para alcançarmos o perdão de
nossos pecados.
Porque nos considerar
melhores que outros que ainda estão fracos e presos no pecado? Não deveríamos nós
atentar para nossos irmãos com a mesma misericórdia que alcançamos junto ao
trono da Graça?
Portanto,
todos nós estamos em igual situação diante de nosso Deus, situação de pobres e
necessitados. Todos nós necessitamos da Graça de Deus sobre nossas vidas. Não
há porque fazermos acepção de pessoas por qualquer motivo que seja.
Da mesma
forma que o jejum daqueles israelitas não estava chegando até Deus, muitos
cristãos têm estado distante do Criador justamente por proceder em acepção para
com seus irmãos.
Por isso o
Senhor nos chama a arrepender e aplicar em nossos corações a essência dos
mandamentos, para podemos nos achegar ao nosso Deus, e sermos ouvidos por Ele
quando suplicarmos.
“Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente
brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua
retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá:
Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar
iniquamente; e se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita;
então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o
Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e
fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial,
cujas águas nunca faltam.” Isaías 58:8-11
“Se desviares o teu pé do sábado, de fazeres a tua vontade no meu santo
dia, e chamares ao sábado deleitoso, e o santo dia do Senhor, digno de honra, e
o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria
vontade, nem falares as tuas próprias palavras, então te deleitarás no Senhor,
e te farei cavalgar sobre as alturas da terra, e te sustentarei com a herança
de teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse.” Isaías 58:13-14
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