A
"teologia cristã" apregoa que Paulo converteu-se do farisaísmo para o
cristianismo, quando de seu encontro com Jesus no caminho a Damasco.
Claro que
após aquele encontro Paulo foi transformado pela Graça de Deus, entregou sua fé
a Jesus, e se tornou o maior dos apóstolos, testemunhando da ressurreição do
Messias a judeus e gentios.
Mas vamos
encontrar nas palavras de Paulo, muitos anos após seu novo nascimento, a
seguinte afirmação:
"Sabendo
Paulo que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no sinédrio:
Varões irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseus; é por causa da esperança da
ressurreição dos mortos que estou sendo julgado". Atos 23:6
A partir
desta declaração podemos tomar dois entendimentos.
Se
entendermos, como apregoa a "teologia cristã", que Paulo se converteu
do farisaísmo para o cristianismo, então é razoável entender que Paulo
fraquejou em sua fé. Diante do sinédrio, e das possíveis consequências de seu
julgamento, ele usou de um argumento falso para criar uma distração.
Sinceramente
essa postura não se encaixa no perfil do apóstolo Paulo, que já havia
enfrentado prisões, apedrejamentos, chibatadas e multidões enfurecidas por
causa do Nome do Senhor.
Mas se
entendermos que Paulo agiu com sinceridade, reconhecendo ser um legítimo
fariseu, crente em Jesus como o Messias de Israel, podemos entender que Paulo
estava apenas introduzindo um argumento (principalmente para os demais fariseus
que o ouviam), para anunciar que Jesus ressuscitou!
Mas será que
havia alguma implicação em Paulo considerar-se um legítimo fariseu mesmo crendo
em Jesus?
Na verdade
não! Quando estudamos sobre as bases da fé farisaica, vamos perceber muita
similaridade com os ensinos de Jesus.
Foram os
fariseus que ensinaram o povo a consultar as Escrituras como meio de ouvir a
voz de Deus. Foram os fariseus quem instituíram as sinagogas, que se tornaram
modelos para estrutura eclesiástica que temos até hoje. Boa parte da estrutura
de culto que assumimos em nossas igrejas tem raízes no farisaísmo.
Claro que,
como em qualquer lugar, encontramos bons e maus elementos, e tanto os
Evangelhos como o livro de Atos registram posturas de maus fariseus que foram
combatidos por Jesus e pelos apóstolos.
Mas a verdade
é que, se você hoje crê que pode estudar as Escrituras para que Deus fale com
você, se você crê em anjos, se crê na ressurreição dos mortos e na vida Eterna,
você pode considerar-se um bom fariseu, pois essas são as bases do ensino
farisaico.
Jesus mesmo
testemunhou que o ensino farisaico tinha elementos corretos, segundo as
Escrituras, mas condenou o proceder de muitos deles:
"Na cadeira
de Moisés se assentam os escribas e fariseus. Portanto, tudo o que vos
disserem, ISSO FAZEI E OBSERVAI; mas não façais conforme as suas obras; porque
dizem e não praticam." Mateus 23:2-3
Mas o que
muda em nossa visão admitir que Paulo continuou considerando-se fariseu após
seu novo nascimento? E o que isso tem a ver com o título dessa mensagem?
Se entendermos
que Paulo era fariseu, e que Paulo foi o único que ensinou diretamente sobre
predestinação, é razoável que pesquisemos sobre o que os fariseus pensavam
sobre esse assunto.
E é
impressionante o que podemos descobrir sobre isso! O melhor relato sobre este tema
vem do historiador Flávio Josepho:
"Quando eles
(os fariseus) dizem que todas as coisas dependem do destino, eles não lançam
fora dos homens a liberdade de agirem tal como pensam; uma vez que sua noção é
de que agradou-se Deus em misturar os decretos do destino com a vontade do
homem, para que o homem possa agir virtuosamente ou viciosamente."
Antiguidades, XVIII, i, 3.
Essa visão
farisaica de predestinação misturada ao livre arbítrio é uma constante na
"teologia judaica" posterior, e, encontramos no Talmude vários
rabinos sustentando essa mesma tese:
"Tudo está
sujeito ao Eterno, exceto o temor ao Eterno" Berachot 33b.
“No caminho no
qual o homem decide andar ele é guiado” Talmud Bavli, Makot 10b.
Para nós isso
parece um tanto contraditório, pois, como conceber conceitos
"antagônicos" coexistindo? Mas é justamente isso que encontramos na
fala do jovem Eliuh a Jó:
"Por que
razão contendes com ele por não dar conta dos seus atos? Pois Deus fala de um
modo, e ainda de outro se o homem não lhe atende.
Em sonho ou em
visão de noite, quando cai sono profundo sobre os homens, quando adormecem na
cama; então abre os ouvidos dos homens, e os atemoriza com avisos, para apartar
o homem do seu desígnio, e esconder do homem a soberba; para reter a sua alma
da cova, e a sua vida de passar pela espada.
Também é castigado
na sua cama com dores, e com incessante contenda nos seus ossos; de modo que a
sua vida abomina o pão, e a sua alma a comida apetecível.
Consome-se a sua
carne, de maneira que desaparece, e os seus ossos, que não se viam, agora
aparecem. A sua alma se vai chegando à cova, e a sua vida aos que trazem a
morte.
Se com ele, pois,
houver um anjo, um intérprete, um entre mil, para declarar ao homem o que lhe é
justo, então terá compaixão dele, e lhe dirá: Livra-o, para que não desça à
cova; já achei resgate.
Sua carne se
reverdecerá mais do que na sua infância; e ele tornará aos dias da sua
juventude. Deveras orará a Deus, que lhe será propício, e o fará ver a sua face
com júbilo, e restituirá ao homem a sua justiça.
Cantará diante dos
homens, e dirá: Pequei, e perverti o direito, o que de nada me aproveitou. Mas
Deus livrou a minha alma de ir para a cova, e a minha vida verá a luz.
Eis que tudo isto
Deus faz duas e três vezes para com o homem, para reconduzir a sua alma da
cova, a fim de que seja iluminado com a luz dos viventes." Jó 33:13-30
Segundo as
palavras de Eliuh, Adonai conduz eventos na vida dos homens para que os homens
tenham a condição de serem "iluminados com a luz dos viventes". Deus
opera na vida de cada um para que todos tenham a oportunidade e a condição de
reconhecer sua necessidade do perdão do Senhor.
Deus é
onisciente, ou seja, sabe de antemão tudo o que está para acontecer. Assim, Ele
predestinou tudo em nossas vidas para que tivéssemos a oportunidade de
conhecê-lo. De usar nosso livre arbítrio de maneira virtuosa, ou viciosa.
Dessa forma
podemos entender melhor as palavras de Paulo quando escreveu:
“De sorte que,
meus amados, do modo como sempre obedeceste, não como na minha presença somente,
mas muito mais agora na minha ausência, efetuai a vossa salvação com temor e
tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo
a sua boa vontade.” Filipenses 2:12-13.
Apesar de
Adonai operar tudo para que possamos querer e efetuar, não tira de nós a
responsabilidade de obedecer e efetuar a nossa salvação. E Deus faz isso com
todos, mesmo com aqueles que, Ele já sabe de antemão, que o resistirão.
As Escrituras
nos ensinam é que é possível que Ele até tire de nós o livre arbítrio por um
tempo, para nos entregar à nossa própria obstinação, assim como fez com Faraó e
Nabucodonosor. Para que ao sermos iluminados novamente, tenhamos a
possibilidade de arrependimento.
Mas por que
Deus daria tantas oportunidades a todos, mesmo a aqueles que Ele já sabe que
não serão salvos?
"Pois os seus
atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos
desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo
que eles são inescusáveis;" Romanos 1:20
Ninguém,
naquele dia, poderá dizer: eu não tive oportunidade de arrependimento.
Todo o agir
de Deus em sua vida visa a sua salvação final. Deus predestinou tudo em sua
vida para que você o conhecesse, e tivesse a oportunidade de voltar-se a Ele. E
esse agir de Deus te torna ainda mais responsável em usar corretamente seu
livre arbítrio.
Que você use
seu livre arbítrio de forma virtuosa, e não viciosa.
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