O Shemá é a base de nossa fé.
Se somos discípulos de Yeshua, o Shemá deve ser o alicerce de toda a nossa teologia. O porquê é muito simples: segundo o próprio Yeshua, o Shemá não é apenas o maior de todos os mandamentos da Torá, mas também é por meio dele que toda a Bíblia deve ser compreendida.
"E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento." Marcos 12:29,30.
"Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas." Mateus 22:40.
O texto citado, conhecido como Shemá, é encontrado em Deuteronômio 6:4-9, e recebe esse nome devido à primeira palavra que aparece em hebraico, "Shemá" (שמע), que significa "Ouvir". No entanto, a palavra Shemá significa mais do que simplesmente "ouvir"; ela carrega a conotação de "ouvir com atenção" ou "ouvir com disposição".
A tradução literal do verso 4 seria: "Ouça com atenção, Israel, o Eterno é o nosso Deus, o Eterno é UM."
Ao declarar que o Eterno é UM, a Torá vai além da designação de que não há outro Deus além do Senhor, como é frequentemente apresentado em nossas traduções. A Torá apresenta aqui a natureza única do Eterno. Só há um Deus, e este Deus é UM. Com isso, a Torá afirma que o Eterno é íntegro, perfeito e imutável, além de ser incomparável.
Tudo o que conhecemos em nossa experiência e na história passa por mudanças e transformações ao longo do tempo, dependendo de vários fatores. Nós mesmos mudamos ao longo dos anos, adquirimos experiências, erramos e acertamos.
Nada disso é aplicável ao Eterno. Ao dizer que Ele é UM, as Escrituras estão atestando que Ele É. Nada pode afetá-lo, nada pode mudá-lo, nada pode surpreendê-lo. E ninguém pode compreendê-lo plenamente!
É exatamente por esta razão que devemos amar o Eterno. Simplesmente não há nada semelhante ao nosso Deus, nada que possa ser comparado a Ele. Sua essência é a fonte de tudo o que existe. E, mesmo assim, Ele se manifesta para se revelar a nós, pois de outra forma seria impossível ao ser humano conhecê-lo.
O verso 5 diz: "Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças," o que é a consequência direta do reconhecimento de que Ele é UM.
Pelo fato de Ele ser único, íntegro, perfeito, imutável e incomparável, devemos amá-lo com todo o nosso ser: coração, alma e poder. A forma como devemos expressar o amor a Deus é representada pelas palavras: "levav," "nefesh" e "meod."
Essas palavras nos ensinam muito sobre a maneira como devemos amar o Eterno:
"Levav" (לבב): Significa "coração" e aponta para a mente, para a intenção e para a inclinação interior. Devemos amá-lo com todo o nosso coração, com toda a nossa intenção.
"Nefesh" (נפש): Traduzida por "alma", também é um sinônimo de "vida". Devemos amar a Deus de forma vívida, entusiástica, com uma vontade efetiva direcionada para este amor.
"Meod" (מאד): Traduzida por "força" ou "poder", designa com toda a nossa capacidade ou possibilidade. Devemos amar a Deus com tudo o que temos dentro de nossa capacidade e possibilidade.
As consequências práticas deste amor na vida daquele que reconhece o Eterno como UM é o que aparece a partir do verso 6, até o verso 9:
"E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas." Deuteronômio 6:6-9.
Em outras palavras, teremos a Torá do Eterno em tão alta conta para nossas vidas que a guardaremos em nossos corações, ensinaremos diligentemente aos nossos filhos, e seus ensinamentos permearão todas as nossas atividades cotidianas, de maneira que falaremos de seus mandamentos ao assentar, ao levantar, ao caminhar e ao deitar.
Assim, para aquele que reconhece que o Eterno é UM e que O ama, a Torá e seus ensinamentos são extremamente importantes e relevantes. É a partir dos princípios da Torá que direcionamos nossas vidas, realizando nossas escolhas, fazendo da Lei do Senhor o nosso estilo de vida.
Este aspecto se torna ainda mais relevante para nós, discípulos de Yeshua, quando entendemos o que Paulo ensina em Romanos 8:
"Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito." Romanos 8:3,4.
Embora a Torá seja a luz pela qual o Eterno nos concede sabedoria para trilhar nosso caminho (Salmos 119:105), na mesma medida ela apresenta o resultado para os desobedientes. Em Deuteronômio 27:26 encontramos: "Maldito aquele que não confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo. E todo o povo dirá: Amém."
Nossa inclinação carnal, que domina nosso íntimo, nos leva a escolhas que contrariam a sabedoria da Torá. Por isso, é impossível ao ser humano fazer plenamente o bem, não porque a Torá seja imperfeita, mas porque nossa carnalidade é má.
Foi por isso que Yeshua veio: para, através de seu sacrifício, fazer aquilo que era impossível à Torá — transformar o interior do homem, cumprindo a promessa da Nova Aliança: "Escrever a Torá no coração e na mente do servo de Deus" (Jeremias 31:33). Essa promessa se materializa através da outorga do Espírito Santo na vida do crente, a "Lei do Espírito de Vida".
A obra do Messias veio para trazer plenitude ao propósito da Torá, corrigir o caminho do ser humano, conduzindo-o a uma vida de justiça diante do Eterno. Não através de imposição, não através do medo, mas através de um coração regenerado (Ezequiel 36:27).
Por isso, o Shemá aponta para a maneira como devemos interpretar toda a Torá e os Profetas. Pois a forma como vamos entender os mandamentos do Eterno e praticá-los passa necessariamente pelo reconhecimento de quem Deus é e do nosso amor e devoção a Ele e à Sua Obra em nós.
O Shemá é o remédio que o Eterno deu contra o legalismo. Obedecer aos mandamentos da Torá sem observar os princípios do Shemá, sem desejar um alinhamento do nosso interior aos desígnios do Eterno, sem o amor a Ele, é uma perversão da própria Torá. É impossível que essa conduta agrade a Deus.
Portanto, se cremos em Yeshua, devemos pautar toda a nossa teologia e nossa prática no Shemá.
Que o Eterno nos abençoe!
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