A água e o sangue

O evangelho de João é o único que nos traz uma informação importante a respeito da crucificação de Yeshua. João relata que viu o que aconteceu quando o soldado romano transpassou Yeshua com uma lança: de seu lado saiu água e sangue:

“Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. E aquele que o viu testificou, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade o que diz, para que também vós o creiais.” João 19:34-35.

Talvez a sua proximidade a Yeshua neste momento (ele estava aos pés da cruz juntamente com Maria) permitiu que ele fosse a única testemunha ocular do fato dentre os discípulos de Yeshua.

A relevância desde fato pode ser percebida pela parashá que estudamos esta semana (Tazria/Metzorah: Levítico 12:1-15:33). A parashá desta semana nos fala sobre os diversos tipos de situações em que alguém seria considerado imundo, ou impuro.

A situação de impureza é uma situação peculiar que pode ser vista sob dois aspectos distintos. O primeiro aspecto, e mais simples de ser percebido, é o aspecto sanitário. Estamos vivendo dias em que estamos nos isolando do contato físico para tentar restringir a disseminação do vírus causador da Covid-19. A Torá já prescrevia essa situação de isolar pessoas com suspeita de uma doença contagiosa. Neste sentido, a declaração de impureza mediante a análise do sacerdote tinha o objetivo de evitar a disseminação de um mau entre os habitantes do arraial de Israel.

Mas, esse aspecto não é o único, e nem o mais importante que esta parashá nos ensina. O aspecto mais importante desta parashá é o aspecto espiritual. O final da parashá destaca que o a razão destes cuidados com impurezas era devido ao Tabernáculo do Eterno que estava no meio do povo:

“Assim separareis os filhos de Israel das suas imundícias, para que não morram nas suas imundícias, contaminando o meu tabernáculo, que está no meio deles.” Levítico 15:31.

A realidade que esta parashá nos aponta é sobre a contaminação das impurezas, e como essas impurezas podem nos afastar de Deus. 

Importante destacar que as impurezas não são classificadas como pecado. O pecado é quando há a transgressão ao mandamento de Deus. Há uma ação, deliberada ou não, que contraria a Lei de Deus. A impureza é uma condição ligada à nossa carne, e que é resultado, muitas vezes, da condição de corrupção da nossa natureza.

Alguém estar doente com tzarát (traduzido como lepra em nossas bíblias, mas que não se trata de hanseníase, mas de uma doença de pele) não é exatamente pecado. Os rabinos associam o aparecimento da tzarát à maledicência, mas a tzarát não é pecado em si, assim como a menstruação também não é pecado, muito menos o parto de filhos e filhas, e a relação sexual entre marido e mulher. Nenhuma destas coisas são apresentadas como pecado na Torá, mas geram impurezas.

A atenção especial que a Torá da para as impurezas se deve à situação triviais de nossa vida, ligada à questões de nossa carne, e que exige de nós purificação para o nosso próprio bem físico. É importante isolar pessoas com doenças contagiosas, importante lavar-se com água a si e ás roupas e utensílios de secreções e de sangue. Essas questões sanitárias nos garante saúde.

Ninguém pode servir plenamente a Deus estando doente, sofrendo de algum mau. Muitas pessoas até querem fazer mais pelo Reino, mas estão acamados, ou cuidando de algum familiar acamado.

Assim como para trabalhar, estudar, realizar coisas, precisamos de saúde, também para servir plenamente a Deus é importante estarmos plenos em nossas capacidades. Assim, estar atendendo à questões de higiene e sanitárias nos coloca em condições de servir a Deus com maior disponibilidade.

Mas essas situações a quais estamos sujeitos, nos fazem lembrar que a corrupção de nossa carne é que propícia tais condições. O pecado trouxe uma condição espiritual que contamina nossa carne. E é imprescindível que, para estarmos em pleno contato com nosso Deus, essa situação de corrupção seja também resolvida, assim como a expiação dos pecados.

Por isso o relato de João sobre a crucificação de Yeshua é tão relevante. Nesta parashá vemos o como o uso da água é relevante para combater as impurezas física, e manter o povo de Deus puro. Vemos também nesta parashá a mistura de água com sangue para a purificação dos leprosos curados. 

A figura da mistura da água e do sangue na cerimônia de purificação dos leprosos, aponta para o fato de ter saído água e sangue do lado perfurado do corpo de Yeshua, que testifica tanto da expiação de nossos pecados, através do sangue, como a purificação da condição de corrupção da nossa natureza.

Assim como o batismo aponta para nossa ressurreição no Messias, a água que saiu de Yeshua nos mostra que nEle, isto é, no seu sacrifício, teremos na ressurreição uma nova natureza incorruptível, totalmente purificado de todos os males que o pecado trouxe à nossa natureza.

A ressurreição que aguardamos no Messias é garantido pelo fato da água que saiu de seu lado, e da ressurreição do próprio Messias. Assim, quando Ele vier, e trazer consigo a ressurreição dos santos, estaremos em condição plena de estarmos em contato íntimo com o Eterno.

Enquanto a ressurreição não vem, podemos ter um vislumbre do que será, através das experiências que temos com o Espírito de Deus, agindo em nossos corações, trazendo santidade e entendimento de sua Palavra.

Yeshua é aquele que não apenas perdoa nossos pecados, mas também nos purifica de toda a corrupção.

O Eterno nos abençoe!
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