A Lei da Liberdade!

“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade. Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo.” Tiago 2:10-13.

O assunto que apóstolo Tiago inicia no capítulo 2 de sua carta, e culmina na conclusão exposta acima, nos versos 10 a 13, é a acepção de pessoas. Ele repreende as comunidades que dão lugares privilegiados aos ricos, e ignoram os pobres. Qualquer semelhança com algumas comunidades da atualidade não é mera coincidência.

Essas palavras estão sendo dirigidas às lideranças das comunidades messiânicas, e que, ainda em nossos dias, são tentados a viverem em religiosidade, aparência e legalismo. E é muito importante atentarmos para as conclusões que Tiago apresenta sobre o uso da Torá, e o juízo que todos um dia enfrentaremos.

O primeiro ponto é sobre a integridade da Torá. Este ponto é muito importante, principalmente se tivermos em vista que a maioria dos cristãos tendem a dividir a Torá em mandamentos válidos e mandamentos revogados.

Essa tendência dos teólogos cristãos em dividir a Torá em leis morais versus leis cerimoniais, ou leis válidas versus leis revogadas, simplesmente não se sustenta nas palavras do apóstolo Tiago. A Torá é uma, e a integridade da Torá pode ser vista em todo o contexto bíblico.

Quando o povo de Israel foi liberto do Egito, o Eterno os conduziu pelo deserto até o monte Sinai. Neste monte o Eterno propôs uma aliança com seu povo, e revelou-lhes a sua Torá.

A Torá, na verdade, consiste em todos os cinco primeiros livros da Bíblia, mas os Dez Mandamentos, proclamados pelo Eterno aos ouvidos de todo o povo, são uma importante representação da Torá do Eterno. Eles são considerados a espinha dorsal da Torá. E uma característica intrigante é a interligação entre estes mandamentos.

O primeiro mandamento "Eu sou o Senhor teu Deus" está intimamente ligado ao "Não terás outros deuses diante de mim", e ao "Não tomarás o Nome do Senhor teu Deus em vão". Mas há ligações ainda mais profundas que vamos aprendendo conforme ampliamos nosso entendimento sobre a Torá. Um exemplo disto é a relação entre idolatria e adultério, rebeldia e feitiçarias. 

Quando Yeshua ensina sobre o adultério, ele diz: “aquele que atentar numa mulher para a cobiçar, já adulterou com ela". Yeshua recorre a esta interligação dos mandamentos para explicar que não basta não adulterar se está cobiçando a mulher do próximo, ambos mandamentos escritos na mesma tábua.

Afinal, a representação dessas leis escritas em tábuas de pedras representa claramente esta unidade e integridade dos mandamentos. Por isso o apóstolo Tiago usa exatamente este argumento:

"Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos." Tiago 2:10.

O segundo ponto que chegamos na conclusão que Tiago descreve é que todos seremos julgados pela Torá. 

“Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade.” Tiago 2:12.

Lembremos que Tiago está dirigindo suas palavras à liderança, que todos os shabatôt ensinavam a Torá nas suas comunidades, e falavam dela ao povo. Como poderiam falar de uma forma e proceder de outra?

A designação que Tiago dá a Torá também é interessante, ele a chama de Lei da Liberdade. A Torá foi dada a um povo livre, para que vivessem a liberdade que o Eterno havia lhes dado. Se em Yeshua somos libertos dos nossos pecados, é claro que precisamos da Torá para permanecer nesta liberdade.

Mas, lembremos que a Torá foi inicialmente dada em tábuas de pedras, integras, inflexíveis, duras e pesadas. Ela está a todo o tempo acusando nossos pecados, revelando nosso caráter, apontando para aquilo que devemos abandonar se quisermos continuar vivendo na liberdade que o Eterno nos concedeu. 

Se seremos julgados pela lei da liberdade, algo tem que acontecer para que essa liberdade faça parte de nossa natureza. Pois o homem natural é, de fato, incapaz de reproduzir perfeitamente essas leis em suas ações, dada a corrupção de nossa natureza. 

A única solução que o próprio Eterno nos apresenta na sua Torá é tirar os mandamentos da Torá das pedras, e escrevê-las em nosso coração. Isso é chamado na Torá de “circuncisão do coração”, e só pode ser feito mediante a obra de Yeshua em nós.

Neste ponto vamos concluir que, primeiro, a Torá é integra, e descumprir apenas um de seus mandamentos nos torna culpados diante de toda a Torá. Segundo, seremos julgados pela Torá, que tem a finalidade de nos manter na liberdade, mas que pela nossa fraqueza precisamos do milagre de Yeshua, para que essa Torá seja escrita em nossos corações. Terceiro, agora estamos em condições de entender o que Tiago diz sobre: 

“Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.” Tiago 2:13.

O uso da misericórdia em nosso trato com o próximo, obedecendo ao que Tiago chama de Lei Áurea “amarás a teu próximo como a ti mesmo” é o que nos permite também usufruir da misericórdia do Eterno. E sobre essa misericórdia há duas considerações importantes. Primeiro que Yeshua mesmo indica que o uso da misericórdia trás a misericórdia a nós quando ensina enfaticamente:

“Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas.” Mateus 6:14-15.

A segunda consideração importante é que a misericórdia do Eterno não deve ser confundida com impunidade. Quando Tiago diz que a misericórdia triunfa sobre o juízo, ele não está dizendo que a misericórdia se opõe e vence a Torá, seria uma baita incoerência. A misericórdia do Eterno se manifesta em nós perdoando os nossos pecados, e escrevendo sua Torá em nossos corações.

A vitória do pecado está na morte, e a vitória da misericórdia está na ressurreição e na nossa natureza transformada. Na execução da misericórdia do Eterno teremos um novo corpo, uma nova natureza, onde a liberdade estará em nós, e viveremos para sempre com o Eterno.

Enquanto aguardamos a ressurreição e a nossa vitória sobre o pecado e a morte, seguimos estudando e conhecendo a Torá, afinal ela é a nossa Lei da Liberdade, ao mesmo passo que recorremos a Yeshua para vencer nossos pecados e inclinações carnais, clamando para que Ele nos encha com seu Espírito, manifestando a misericórdia a todos os nossos irmãos.

Que o Eterno nos abençoe!

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