Yeshua violava o Shabat?

“Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.” João 5:18.

O texto acima é utilizado para defender a tese de que Yeshua não guardava o Shabat, e que, por esse motivo, deveríamos entender que as leis acerca do Shabat foram anuladas pelo Messias, sendo que não precisamos considerar essas leis como algo relevante para nós.

Afinal, será que essa tese encontra amparo em outras passagens dos evangelhos? Será que este verso de João aponta exatamente para essa ideia de anulação do Shabat?

Primeiro ponto que precisamos ter em mente é que a guarda do Shabat como sendo o sétimo dia da semana é prescrita reinteradas vezes na Torá e nos profetas. Em cima destes mandamentos os judeus desenvolveram regras que visavam orientar a população sobre como guardar o Shabat.

Por exemplo, a Torá ordena não trabalhar no dia de Shabat: 

“Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas.” Êxodo 20:9-10.

A pergunta honesta diante deste mandamento é: o que será considerado “trabalho”? A resposta a essa pergunta parece ser simples, mas não é. Afinal, todo o tipo de atividade pode ser, em certa medida, considerado trabalho. No entanto, se aceitarmos isso, o Shabat seria um dia de restrições tão grande que seria quase impossível guardá-lo.

Na ânsia de criar um protocolo factível e prático, os judeus, principalmente os fariseus, criaram um conjunto de regras para considerar o que era ou não trabalho. E foi esse conjunto de regras que, em diversos momentos, Yeshua questionou.

Fazer remédios e curar, andar mais do que a distância de um estádio (aproximadamente 1 quilômetro), panhar ou debulhar cereais, todas essas atividades eram consideradas trabalho, e foram questionados por Yeshua. 

No entanto, analisando a postura e a resposta de Yeshua diante destas atividades, vamos entender que Yeshua não está questionando o fato destas atividades serem ou não consideradas trabalho, mas a falta de contexto na definição de uma atividade como sendo ou não trabalho.

Veja, não há dúvidas de que panhar e debulhar cereais era uma das atividades mais recorrentes e remuneradas nos dias de Yeshua, portanto, considerado trabalho por qualquer pessoa naqueles dias.

No entanto, encontramos em Lucas 6:1 os discípulos realizando esta atividades em um contexto completamente diferente:

“E ACONTECEU que, no segundo sábado após o primeiro, ele passou pelas searas, e os seus discípulos iam arrancando espigas e, esfregando-as com as mãos, as comiam.” Lucas 6:1.

Os discípulos estavam panhando cereais e os debulhando para comer, pois estavam famintos, e a pergunta que surge é, seria legítimo fazer isso no Shabat? Isso deveria ser considerado um trabalho, ou uma necessidade?

A resposta de Yeshua, neste sentido, é esclarecedora:

“E Jesus, respondendo-lhes, disse: Nunca lestes o que fez Davi quando teve fome, ele e os que com ele estavam?” Lucas 6:3.

Yeshua resgata a passagem em que Davi, fugindo de Saul, e estando faminto, foi ao Tabernáculo e comeu os pães da proposição. Eram pães consagrados ao Eterno, e que somente os sacerdotes poderiam comer deles. No entanto, eram os únicos pães disponíveis, e se Davi não os comessem, certamente desfaleceria.

A necessidade que Davi estava passando naquele momento justificava a atitude de comer um pão consagrado. Da mesma forma, a necessidade de comer justificava o debulhar grãos no Shabat. Aquela ação dos discípulos estava acontecendo não para buscarem uma remuneração, nem estavam fazendo para guardar ou estocar, mas para saciarem a fome que estavam naquele momento.

Perceba que o contexto mudou a finalidade da atividade, que não poderia ser considerado trabalho, nem algo proibido no Shabat.

Em outro momento Yeshua é pego curando no Shabat, e de igual forma foi questionado se não estaria trabalhando no Shabat. Ali, a questão foi até mais séria, e a proposição de Yeshua ainda mais contundente:

“Então Jesus lhes disse: Uma coisa vos hei de perguntar: É lícito nos sábados fazer bem, ou fazer mal? Salvar a vida, ou matar?” Lucas 6:9.

As proibições que estavam sendo impostas pela regras farisaicas com relação ao Shabat estavam desvirtuando seu propósito. O que era para ser um dia de alegria e esperança, estava se tornando em um fardo, onde até o fazer o bem e salvar vidas, estava sendo proibido.

Voltemos agora a um dos simbolismos do Shabat. O Shabat aponta para o Reino Milenar, onde haverá a ressurreição dos mortos e a cura de todas as doenças. O Reino onde a natureza será transformada de tal forma que o lobo pastará com o cordeiro. Diante deste simbolismo do Shabat, não seria o mais correto curar e fazer o bem no Shabat? Esta não seria a razão de Yeshua realizar tantas curas no Shabat? Anunciando que Ele era o Messias, o Senhor do Shabat Milenar, que pessoalmente trará a ressurreição e a Vida Eterna?

Assim, novamente vemos as regras religiosas ignorando o contexto e impondo sobre as pessoas obrigações desnecessárias, que na verdade estavam afastando as pessoas da realidade do Shabat.

Neste contexto, vamos ver que Yeshua não violou o Shabat, mas restaurou seu significado e a forma de avaliar o que deveria ou não ser feito no Shabat. Yeshua não fez nada além daquilo que os Profetas já haviam anunciado sobre o Shabat:

“Se desviares o teu pé do sábado, de fazeres a tua vontade no meu santo dia, e chamares ao sábado deleitoso, e o santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falares as tuas próprias palavras, então te deleitarás no SENHOR, e te farei cavalgar sobre as alturas da terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do SENHOR o disse.” Isaías 58:13-14.

De fato o Shabat é um dia que deve ser honrado, um dia que não devemos gastar com as atividades corriqueiras e com empreendimentos, mas, acima de tudo deve ser um dia de deleite, de alegria e celebração. Um dia que fazemos o bem, e nos alegramos no Eterno. 

Se a alegria e o deleite são mandamentos para o Shabat, algumas necessidades estão acima do Shabat, principalmente aquelas relacionadas à vida. Por isso os discípulos panharam cereais no Shabat para comer, e é por isso que Yeshua curava no Shabat.

Mas, se Yeshua não violou o Shabat, por que em João 5:18 encontramos que ele violava o Shabat?

O texto de João 5:18 não está afirmando que Yeshua violava os mandamentos da Torá em relação ao Shabat, mas que Ele violava as regras farisaicas acerca do Shabat. O que Yeshua violava eram as regras religiosas que aprisionavam as pessoas e as impediam de ver a realidade da Torá.

Neste sentido, Yeshua combateu frontalmente a religião para remover o véu religioso que estava sendo colocado quando as pessoas olhavam para a Torá, e não conseguiam enxergar o que a Torá dizia, pois liam sob a ótica da religiosidade.

Ainda hoje isso acontece em todas as religiões, e ainda hoje o Espírito de Yeshua trabalha para desvendar nossos olhos do véu da religiosidade, que nos cega para as verdades da Torá e das palavras de Yeshua.

Que o Eterno nos abençoe!

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