"A Lei e os
Profetas vigoraram até João; desde esse tempo, vem sendo anunciado o evangelho
do reino de Deus, e todo homem se esforça por entrar nele." Lucas 16:16. (tradução
Almeida Revista e Atualizada)
É necessário
prestarmos bem a atenção neste verso para perceber seu real significado, e não
tirarmos conclusões equivocadas. Precisamos nos ater ao contexto para
compreender o que Yeshua estava dizendo. Será que a Lei e os Profetas perderam
o valor depois da vinda de João, o batista? O que mudou de João até Yeshua? E o
que significa "esforçar por entrar"?
Desde o
início do capítulo 16, Yeshua está falando da avareza. Para introduzir o
assunto, ele conta a parábola do mordomo infiel. O sentido desta parábola é que
o “mordomo infiel” não ficou apegado à riqueza, antes, abriu mão de um ganho
extraordinário para fazer amizade com os devedores de seu senhor.
Aqueles
valores que ele dispensou dos devedores de seu senhor era a parte da
"comissão" dele. Não sabemos ao certo se esta comissão estava
acordada com seu senhor, ou se o mordomo estava usando da sua mordomia para extorquir
os devedores de seu senhor. A acusação contra o mordomo era de que ele estava “dissipando”
os bens de seu senhor. É provável que esse “dissipar” esteja relacionado com o
empréstimo desordenado, sem as devidas garantias, com o fim de ganhar através
da extorsão, semelhante ao que os agiotas fazem em nossos dias.
Mas o foco da
parábola é que, ao dar a quitação de valores expressivos, provavelmente o ágio
que estava cobrando sobre os empréstimos, ele reduziu a dívida daqueles homens,
e garantiu a amizade daquelas pessoas que o receberiam em suas casas quando
fosse dispensado do seu trabalho de mordomia.
Yeshua
concluí dizendo que, da mesma forma, não devemos ser apegados às riquezas, mas
usar as riquezas para abençoar pessoas, ganhando-lhes a confiança, e apregoando
a mensagem do Reino.
O sentido da
parábola é esse: “Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando
estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.” Lucas 16:9.
Mas, no verso
14, nós vemos que alguns fariseus avarentos ouviram isso e ridicularizavam o
ensino de Yeshua. A exemplo da doutrina calvinista, muitos fariseus daquele
tempo sustentavam a ideia de que a prosperidade financeira era sinal das
bençãos e da aprovação de Deus. Portanto, para esses fariseus, ser ricos era a prova
de que Deus era com eles, e a pobreza era sinal de reprovação da parte de Deus.
Neste momento
que Yeshua diz: "a Lei e os profetas vigoraram até João". Parece que
essa frase não se conecta à ideia inicial do capítulo. Qual o sentido de Yeshua
dizer isso? De forma alguma essa frase quer dizer que a Lei e os Profetas
perderam a validade, a importância, ou a autoridade. Não faz nenhum sentido entender
isso a respeito desta frase, pois no verso 17 Yeshua diz que é mais fácil
passar o céu e a terra que cair um só traço da Torá. Não faria sentido no verso
16 Yeshua dizer que a Torá durou só até João, e depois dizer que é mais fácil
passar o céu e a terra que a Torá cair. Yeshua não está diminuindo a Lei ou os
Profetas, mas está introduzindo o que será dito no verso 18:
"Quem repudiar
sua mulher e casar com outra comete adultério; e aquele que casa com a mulher
repudiada pelo marido também comete adultério." Lucas 16:18.
Porque Yeshua
está falando disto se o assunto até então era a avareza? Porque no verso 15 Yeshua
fez uma acusação:
"Mas Yeshua
lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas
Deus conhece o vosso coração; pois aquilo que é elevado entre homens é
abominação diante de Deus." Lucas 16:15.
Yeshua
sustenta a acusação de que "vocês justificam a si mesmos diante dos
homens, mas Deus conhece os vossos corações" trazendo à tona outra
inconsistência do ensino daqueles fariseus, a de que o homem poderia divorciar
de sua esposa por qualquer motivo e casar-se com outra, violando o mandamento
de Deus "não adulterarás".
E na
sequência ele conta a parábola do rico e do Lázaro, que é uma verdadeira bomba
atômica em cima da ideia que os fariseus sustentavam sobre a riqueza e a
pobreza. Nesta parábola o rico é condenado e Lázaro é acolhido ao seio de
Abraão.
As palavras
de Abraão para o rico são muito intrigantes. Ele primeiro diz que a riqueza
daquele rico, que agora estava em tormento, funcionou como uma espécie de consolo:
"Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em
tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está
consolado; tu, em tormentos." Lucas 16:25.
Outro ponto
muito intrigante é o que Abraão diz ao final. O rico pede para que Lázaro
ressuscite, para anunciar aos seus irmãos que se arrependam, e não caiam na
mesma condenação que ele por causa da avareza. E Abraão diz: "Respondeu
Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos. Mas ele insistiu: Não, pai
Abraão; se alguém dentre os mortos for ter com eles, arrepender-se-ão. Abraão,
porém, lhe respondeu: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se
deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos." Lucas
16:29-31.
Aqui
retornamos ao verso 16. Segundo as palavras de Abraão nesta parábola, o
arrependimento só pode ser gerado naquele que dá ouvidos à Lei e aos Profetas,
que anunciaram e testificaram a respeito do que viria após João. Com João
deu-se início à manifestação do Reino do Messias. Tanto João como Yeshua
iniciaram seus ministérios dizendo: “arrependei-vos porque é chegado o Reino de
Deus” (Mt 3:2 e 4:17).
João veio
como precursor do Rei. E Yeshua, como Rei, é a personificação do Reino. Todo o
reino funciona em torno do rei. Todo reino tem um rei e as leis deste rei. Yeshua
é o Rei do Reino Vindouro. Ele é a personificação do Reino, ao qual toda a Torá
e todos os profetas anunciaram.
Quando Felipe
anuncia a Natanael que encontraram o Messias ele diz: "Filipe encontrou a
Natanael e disse-lhe: Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem
se referiram os profetas: Yeshua, o Nazareno, filho de José." João 1:45.
Ao dizer
então que a Lei e os Profetas "vigoraram" (outras traduções diz
"profetizaram") até João, Yeshua está afirmando ser Ele o Messias, o
Rei do Reino, e que a Torá é a Lei deste Reino. E esta é a razão de Abraão
dizer “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que
algum dos mortos ressuscite”. Ao olharmos para a Lei de Deus, somos
confrontados com nossos pecados, e somos inclinados ao arrependimento.
Não tenha
dúvidas, o arrepender é um esforço de auto negação, e de sujeição à Deus. E não
há como entrarmos no Reino sem este esforço. É necessária muita coragem para
reconhecer nossas fraquezas e pecaminosidade, descer do pedestal do orgulho, e
buscar unicamente no perdão de Deus a Graça que nos coloca no Caminho do Reino.
Perseverar neste Caminho também exige uma vida de abnegação e de esforço. Yeshua
disse: "Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto
tem não pode ser meu discípulo." Lucas 14:33.
Assim,
podemos entender que, muito longe de menosprezar, ou diminuir a Torá, o verso
16 de Lucas 16 vem para nos dar uma real dimensão da importância da Torá e dos Profetas
na nossa fé em Yeshua, e na exigência do esforço correto para entrarmos no Reino.
Não o esforço legalista que aqueles fariseus apregoavam, que anulava a Torá
para sustentar suas ideias religiosas equivocadas, mas o esforço de sujeição e
submissão à vontade de Deus expressa em seus mandamentos.
O Eterno nos abençoe.
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