Como Jacó.



“Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu. E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Jacó, lutando com ele. E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó. Então disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens, e prevaleceste. E Jacó lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva. E saiu-lhe o sol, quando passou a Peniel; e manquejava da sua coxa.” Gênesis 32:24-31

Existem momentos em nossas vidas que parece estarmos nadando contra a correnteza, nada nos parece favorável, e cada passo que se tenta dar, parece que pior fica a situação.
Existe na bíblia a história de um homem, que sempre lutou com suas forças para conseguir o que queria. Foi um homem muito astuto, mas tudo o que conseguiu de fato foi arrumar muita confusão. Estou falando de Jacó.
Jacó era filho de Isaque, neto de Abraão. Sua linhagem havia sido escolhida por Deus para que fosse formada uma nação que deveria servi-Lo. Deus havia chamado Abraão para sair de sua terra, do meio de sua família, e peregrinasse por uma terra que seria dada a sua posteridade como herança. Abraão pela fé creu em Deus e fez conforme Deus mandou. Da mesma forma Isaque, filho de Abraão, serviu a Deus e peregrinou pelas terras da sua promessa, e agora vemos Jacó, que conhecia as promessas de Deus feitas à sua ascendência, e queria ser abençoado da mesma forma.
Jacó não era o primogênito de Isaque, apesar de ser gêmeo, Esaú seu irmão fora quem saíra primeiro da madre. É importante sabermos que em uma sociedade tribal, como viviam Isaque, Jacó e Esaú, os bens e as responsabilidades não eram repartidos de igual forma entre os filhos. Caberia sempre ao primogênito substituir o pai quando este viesse a falecer. A herança do primogênito era melhor, e os mais novos serviriam sempre ao mais velho.
Diz a bíblia que Jacó ao nascer segurava o calcanhar de seu irmão Esaú, por isso lhe foi dado o nome de Jacó que significa “suplantador ou trapaceiro”, mas a vida de Jacó fez justiça ao seu nome, pois usou de artimanha para roubar de Esaú o direito de primogenitura e as bênçãos do primogênito dadas por seu pai.
Diz a bíblia que em certo momento, Esaú havia saído para caçar, e retornando sem ter conseguido presa, e muito faminto, sentiu o cheiro de um cozido de lentilhas que seu irmão Jacó acabara de fazer. Esaú então pede a seu irmão um prato do cozido, pois estava faminto, e Jacó usou dessa situação para “negociar” com Esaú. Jacó propôs que daria o prato de lentilhas se Esaú lhe vendesse o direito à primogenitura. Esaú arrazoou consigo: “estou faminto, do que me adianta ser o primogênito se morrerei de fome”, assim aceitou o acordo e Jacó lhe entregou o prato.
Anos se passaram e Isaque já bem velho e não podendo mais ver, pediu para que chamasse a Esaú, este entrando em sua tenda ouviu de seu pai um pedido, para que lhe trouxesse um prato, feito de alguma caça, e assim Isaque abençoaria a Esaú. O que eles não sabiam é que atrás da tenda, Rebeca, mãe de Jacó e Esaú, escutava a conversa, e sabendo o que aconteceria, chamou Jacó e pediu para que ele pegasse dois cabritos no rebanho, que ela iria preparar um prato como seu pai gostava e enquanto Esaú estivesse na caça, Jacó se passaria por Esaú e daria de comer a seu pai e receberia as bênçãos no lugar de seu irmão.
A artimanha foi tão bem bolada que Jacó entrou na presença de seu pai com as roupas de Esaú e ainda usando “pelos postiços” em seus braços e pescoço, para que seu pai não descobrisse a farsa. Verdade que Isaque ficou bem desconfiado, mas acabou caindo na conversa de Jacó e o abençoou com as bênçãos reservadas ao primogênito.
Quando Esaú chegou da caça e entrou na tenda de seu pai, ficou sabendo que seu irmão havia lhe roubado as bênçãos. Seu furor e indignação foram tanta que Esaú jurou que mataria a Jacó assim que Isaque falecesse.
Diante da fúria de seu irmão, e temendo por sua vida, Jacó fugiu para a casa de seu tio, irmão de sua mãe, chamado Labão. Durante a sua fuga, Deus apareceu a Jacó em sonho e deu a ele as mesmas promessas que haviam sido dadas a Abraão.
Durante sua estada na casa de seu tio, que durou vinte anos, Jacó se casou com suas duas filhas, e conseguiu com seu trabalho um grande rebanho, mas também ali na casa de Labão, se viu em situação difícil, pois por ter se tornado muito próspero, temeu por sua vida, afinal os filhos de Labão estavam enciumados e queriam matá-lo para se apoderar de seu rebanho.
Agora encontramos Jacó, vinte anos após sua partida, regressando à casa de seu pai, com sua família e seus pertences, saindo “fugido” da casa de Labão, temendo por sua vida, e preocupado com seu irmão Esaú, que havia jurado mata-lo. Para melhorar um pouco mais a situação, Jacó enviara mensageiros a Esaú, para avisá-lo que Jacó estava retornando, e seus mensageiros retornam dizendo que Esaú estava vindo ao seu encontro, com mais quatrocentos homens.
Agora Jacó, tendo certeza de sua morte, passa toda a sua família para outro lado do ribeiro chamado Jaboque, e fica sozinho do outro lado, e finalmente depois de tantos erros cometidos, resolve buscar a presença de Deus, do Deus que lhe havia aparecido no caminho e lhe abençoado. Neste momento aparece um homem que começa a lutar com Jacó.
A bíblia nos conta sobre uma luta corpórea que aconteceu entre Jacó e um homem até então desconhecido, uma luta que durou toda a noite, até o amanhecer. Este homem vendo que não prevalecia contra Jacó, com um golpe desloca a sua coxa. Neste momento, ele pede para que Jacó o deixe ir, porque já estava amanhecendo, Jacó diz que não deixaria ir enquanto não o abençoasse.
Durante toda a vida de Jacó vemos que ele lutou com suas próprias forças para que fosse um homem abençoado. Usou de sua esperteza e sutileza em vários momentos, enganou seu irmão, seu pai, seu tio. E agora estava ele ali, aguardando a qualquer momento a chegada de seu irmão com quatrocentos homens, sua morte era certa.
Mesmo ouvindo do próprio Deus que o abençoaria, ele ainda estava tentando conquistar as bênçãos com suas próprias mãos. Lendo este texto podemos achar estranho que Deus lutasse com Jacó corporeamente da forma como a bíblia narra, mas vemos que durante toda a vida de Jacó ele não fez outra coisa a não ser lutar com Deus. Jacó não esperou em Deus para receber as suas bênçãos, mas tentou conquistá-las com as próprias mãos.
Este homem que apareceu no meio da noite e lutou com Jacó, sabemos ser Jesus, pelo que foi dito posteriormente, mas vemos que Jesus não estava lutando com Jacó para destruí-lo, Jacó nunca teria a menor chance, mas Jesus estava ali se fazendo como homem, para mostrar a Jacó que com suas próprias forças ele não conseguiria vencer. Vendo que Jacó não desistia de lutar, Jesus deslocou a sua coxa, e foi neste momento de dor, que Jacó finalmente perceber que estava diante de alguém diferente. Jacó desta vez se agarra a Jesus não para lutar, mas para pedir desesperadamente que o abençoasse.
Muitos séculos depois deste fato, Jesus novamente se fez homem, e veio a terra como homem, para chamar os homens ao arrependimento. Sofreu e morreu na cruz pelos nossos pecados, e ressuscitou como homem, sendo visto como homem por mais de quinhentas pessoas, por um espaço de quarenta dias. Mas a humanidade ainda insiste em lutar, inutilmente, com suas próprias forças para conseguir se justificar diante de Deus e de suas próprias consciências.
Quando Jacó pede para ser abençoado, Jesus pergunta a ele qual era seu nome, e ele diz “Jacó”. Acredito que nunca foi tão difícil para ele dizer seu próprio nome, pois o que ele estava fazendo não era apenas repetir seu nome, mas reconhecer quem ele tinha sido até então, nada mais do que um “suplantador e trapaceiro”.
Da mesma forma somos chamados a reconhecer quem verdadeiramente somos diante de Deus, nada mais do que homens pecadores, falhos, tendenciados ao pecado, maus por natureza, inimigos de Deus, mais amantes dos prazeres do que da lei de Deus. Enquanto não reconhecemos nossa situação diante de Deus, Ele nunca poderá nos abençoar.
Jacó naquele momento estava reconhecendo tudo o que ele tinha feito de errado, estava ferido, caído no chão, clamando desesperadamente por uma benção, pois sabia que estava à beira de sua morte. Para sermos transformados por Deus é necessário estarmos na mesma situação de Jacó. Reconhecendo que estamos condenados, prostrados ao chão sentindo a dor pelos nossos pecados, e clamando desesperadamente por salvação ao único que pode nos salvar!
Jesus o disse que não chamaria mais Jacó mais sim Israel, que significa “aquele que governa com Deus” e retirou-se. Israel então se levanta, e manquejando, pois havia sido ferido na luta, atravessa o Jaboque, e sai ao encontro de seu irmão. Esaú vendo seu irmão caminhando, manquejando, tem seu coração mudado por Deus, e se arrepende do mal que intentara fazer. Os dois se abraçam e choram, o perdão acontece, e a vida de Israel é transformada.
Jesus promete àqueles que se dispõe ser fieis que concederá que reine com Ele. Jesus, através de sua morte e ressurreição, conquistou o perdão para os nossos pecados, cabendo a nós tão somente reconhecer nossas falhas e voltarmos para Ele. As bênçãos que Ele tem para nos dar são infinitamente superiores a qualquer coisa que você tente conquistar com suas próprias mãos, não são apenas para esta vida, mas principalmente para a eternidade. Se você se encontra como Jacó, lutando com as suas próprias armas para conquistar suas bênçãos, e o que tem conseguido é apenas mais problemas e dificuldades, pare de lutar, se renda àquele que é o abençoador de sua vida, e tenha seu nome mudado.

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