O estudo da
Bíblia deve ser feito com muita humildade e oração, pedindo a Deus que abra
nossos olhos espirituais, e permita-nos entender a sua Palavra. Além disso, se
faz necessário reconhecer que a interpretação das Sagradas Escrituras está
conectada ao seu contexto original.
O estudo das
Sagradas Escrituras deve ser feito mediante o diálogo entre texto escrito e a
história que cerca este texto. A este recurso, dá-se o nome em hebraico de
Midraxe, que é a tarefa de recorrer às outras passagens das Escrituras Sagradas
com o fim de interpretação.
Fazer uma
midraxe não envolve apenas construir um significado histórico do texto, mas
também mostrar como o texto se posiciona sobre nós. Portanto, deve-se
principalmente considerar que o nosso contexto (histórico e cultural) é
diferente do contexto das escrituras.
A tarefa de
qualquer interpretação bíblica, que seja hermeneuticamente moldada, é tornar
visível esse acordo. Pois, nenhum texto contradiz o outro, mas ambos se
completam.
É
indispensável para o entendimento do leitor não ignorar que as Sagradas
Escrituras são estruturadas precisamente sobre tal princípio, pois quem estar
lendo, muitas das vezes requer que as Escrituras sejam atualizadas em linguagem
e formas de vida diferentes daquelas nas quais foram originariamente compostas.
A simples
tradução, na medida em que as línguas são históricas, bem como gramaticais, não
completam o sentido do texto em sua totalidade e sim apenas traduz o
significado de uma língua para outra. Ou seja, não traz o texto com toda a sua
bagagem informacional do contexto o qual se insere, no caso das Escrituras
Sagradas, as palavras dentro do contexto judaico.
Sem atualizar
a maneira de ler, certamente também não haverá a transferência do significado
do texto em sua totalidade. Dessa forma, se sabe que a tradução, em muitos
casos não formula o mesmo sentido pelo qual o texto original foi escrito. Isso
é, a situação cultural de quem lê está tão distante que a interpretação literal
de um texto seria tão incompreensível quanto uma tradução literal dele.
Nesse caso, a
interpretação não equivale apenas saber o significado da palavra, mas sim o
sentido da mensagem, construído por trás dela, em seu contexto, e as condições
ao qual ela se aplica.
Sabe-se pois,
que uma mesma palavra pode ter mais de um significado de acordo com os contexto
em que se aparece. Por isso, uma sentença é verdadeira em virtude da maneira
como se mostra consistente com outras tidas como verdadeiras. Tudo isso,
contudo, significa dizer que é impossível dizer se uma sentença é verdadeira ou
não considerando essa sentença isoladamente e fora de seu contexto. Portanto,
tirar um texto de seu contexto abre espaços para pretextos.
Jesus deixou
claro esse principio quando conversou com a mulher Samaritana. Aquela mulher
era de outra religião, também baseada na Torá, mas com doutrinas contrárias e
desvinculados dos judeus. Assim Jesus afirma:
''Vós adorais o que não
conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus''
João 4:22
Naquele
momento, Jesus se referiu ao legado que foi instituído para Israel, no qual o
próprio Criador os fizeram um reino de sacerdotes [Êxodo 19:6], com a função
ministerial de trazer conhecimento do Deus de Israel à todas as famílias da
terra, ou seja, aos gentios.
O apóstolo
Paulo também confirma a importância da história de Israel e dos patriarcas,
afirmando aos romanos:
‘’Qual é logo a vantagem do
judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a maneira, porque,
primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas.’’ Romanos 3: 1-2
Assim como a
mulher samaritana, também os cristãos da atualidade possuem um livro judaico
(bíblia), porém a tem sem vinculo nenhum com os judeus.
Pautado na
palavra de Jesus para a mulher samaritana, devemos ter em mente que não se deve
ignorar que Deus escolheu Israel para se manifestar a todos os povos, por meio
dos relatos dos profetas e do Messias prometido no antigo testamento.
O que não
significa dizer que Deus faz acepção de pessoa no que se refere à salvação, mas
Ele constitui pessoas ou nações para serem usadas em algum propósito conforme
Sua vontade soberana.
Até aqui,
concluímos que o leitor que conhece o contexto e os significados originais dos
escritos judaicos, pode ter maior elevação de seu grau de compreensão e
interpretação da bíblia, do que outro que ignora essas questões.
Em outras
palavras, a compreensão do Novo testamento se faz completamente dependente do
legado de Israel e do Antigo testamento (Tanach). Porque entender um texto
sempre envolve algo como compreender a situação presente do escritor e a
cultura o qual ele estava integrado.
Todo o Novo
Testamento foi produzido imerso na cultura do povo Judeu.
Lemos na carta
aos Gálatas, que o apostolo Paulo disse que Abraão foi o primeiro a receber o
evangelho:
‘’Ora, tendo a Escritura previsto
que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho
a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.’’Gálatas 3:8
Mais uma vez
fica claro que, os ensinos do Messias e seus apóstolos estão ligados à Torá,
que é a base de instrução para todo o povo de Deus, assim como de todos os que
se aproximam da fé ao Deus de Israel por meio do Messias.
Por isso,
tirar um texto de seu contexto abre espaços para pretextos. Se a bíblia foi
escrita em sua totalidade no contexto histórico e cultural do povo judeu,
retirar esse contexto abre caminho para entendimentos e interpretações
equivocadas sobre os textos bíblicos.
Nos meios
cristãos são inúmeras as doutrinas contrárias as Escrituras, devido a situação
cultural greco-romana (politeísta) encontrada no I século, com insuficiênte
carga de conhecimento das Escrituras para entender a obra do Messias e a
doutrina do Deus de Israel.
Para os
filósofos gregos que haviam se convertido ao cristianismo, era impossível o
Deus Santo entrar em contato com a humanidade pecadora e continuar sendo Deus,
mesmo o anjo tendo assegurado a Maria que até esta, e todas as outras
impossibilidades diante da lógica humana, seriam vencidas.
“porque para Deus não haverá
impossíveis em todas as suas promessas” (Lc 1:38).
Na mentalidade
da Grécia, somente é possível aquilo que pode ser compreendido e explicado pela
mente humana. Mas o Senhor, assim como seus planos, embora esteja ao alcance da
lógica humana, transcende em muito todo o conhecimento de nossa mente.
Por isso,
podemos afirmar que, baseados nas Escrituras Sagradas, Maria, mesmo sendo
pecadora, foi eleita por Deus para ser a mãe do exaltado Messias prometido.
Maria não precisava ser “sem pecado” para gerar o Messias como afirma o dogma
romano.
Esse, e outros
exemplos de doutrinas foram criados devido ao pouco conhecimento dos Escritos
Sagrados (a Tanach dos judeus é o nosso antigo testamento).
A palavra 'trindade’,
por exemplo, foi criada para tentar definir o Pai (יהוה//Eterno) o Filho (o Messias), e o Espirito
Santo (Rúach em hebraico) pelo concilio de Nicéia, já com as influencias de
Roma. Essa nomenclatura muitas vezes produz mais confusão do que
esclarecimentos com relação à natureza de Deus e Seu Ungido, Jesus, e o
Espírito Santo.
Outro exemplo
é a Eucaristia praticada na igreja católica romana, entendida como presença
real e substancial. Essa presença também é chamada de Transubstanciação, que
segundo o dogma romano, é a conversão de toda a substância do pão na substância
do Corpo de Cristo e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue.
Novamente a
falta de conhecimento da linguagem e do costume cultural culminou numa doutrina
contrária à Torá, visto que ingerir sangue é abominável por Deus.
Jesus ao
instituir a Ceia estava celebrando uma tradição judaica chamada de Kidush. Ao
dizer “Este é o meu corpo(...) e (...)este é o meu sangue’’ [Lucas 22: 19],
Jesus fazia referencia e associação dEle com a páscoa.
Por isso,
aquele que come da Ceia, come em memorial d’Ele, internalizando o Filho de
Deus, ou seja, a natureza do Messias. Aquele que bebe do vinho da Ceia está
internalizando as bênçãos da nova aliança, outorgadas pelo sangue de Jesus, e
não literalmente bebendo seu sangue. E todos nós somos chamados a internalizar
o Filho de Deus em nós, portanto todos aqueles que creem em Jesus como o Filho
de Deus devem tomar da Ceia (completa) e não apenas alguns.
Nisso sabemos
que a situação cultural greco-romana (politeísta) encontrada na época da
difusão do cristianismo foi grande responsável para a interpretação deturpada
das Sagradas Escrituras. Na mentalidade da Grécia romper com alguns costumes
foi o mais difícil para se adequar a fé ao verdadeiro Deus.
É por essa e
várias outras doutrinas contrárias aos princípios de Deus que o antigo
testamento (Tanach) deve ser lido como uma midraxe do Novo Testamento, assim
como o Novo é um midraxe do Antigo. Os dois textos estão em diálogo mútuo e
lançam sua luz um sobre o outro, e sobre todos aqueles que ficam ao seu
alcance. Portanto, não se deve violar o principio básico da crítica histórica,
segundo o qual é preciso situar um texto em seu próprio lugar e época, antes de
começar a interpretá-lo.
Vale lembrar
que quando Paulo escreve sua carta a Timóteo, ele certifica da importância das
Escrituras como fonte de poder para comunicar sabedoria que conduz à salvação
na fé em Jesus. Quando Paulo afirmou isso, ele se referia a Tanach (antigo
testamento):
“...toda
Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender,
para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de D’us seja
perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” (II Tim 3:16-17).
Isso porque,
até aquele momento em que Paulo escrevia esta carta, o Novo Testamento não
havia sido compilado. Quando Paulo diz “Escrituras”, estava referindo-se ao
Tanach (antigo testamento).
Deduzimos,
pois, que não se entende o Escrito Sagrado do Deus de Israel, sem o contexto
precioso dos filhos de Israel. Muito menos se estuda o novo testamento como um
livro que contradiga o antigo testamento.
Assim, os
processos interpretativos, correlações de passagens, informações históricas
culturais, doutrinas e associações conceituais representam uma pequena fração
do contexto judaico das Escrituras que devem ser levados em consideração ao
estudar a bíblia.
Desse modo,
ler as Sagradas Escrituras à luz de eventos que ocorrem muito depois de o texto
ter sito escrito não se tornará uma maneira ingênua ou não crítica de ler.
Tudo isso que
foi dito até aqui não é apologia às práticas judaicas, pois judaizar a igreja
foi o que Paulo mais combateu em suas cartas. Mas tirar um texto de seu
contexto abre espaços para pretextos.
Se a bíblia foi
escrita em sua totalidade no contexto histórico e cultural do povo judeu,
retirar esse contexto abre possibilidades para entendimentos e interpretações
equivocadas sobre os textos bíblicos.
Enfim, o
grande desafio no momento é resgatar as raízes da Igreja do primeiro século,
procurando saber como os seguidores e discípulos do Judeu Jesus se relacionavam
e viviam sua fé.
''Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus'' João 4:22
ResponderExcluirNaquele momento, Jesus se referiu ao legado que foi instituído para Israel, no qual o próprio Criador os fizeram um reino de sacerdotes [Êxodo 19:6], com a função ministerial de trazer conhecimento do Deus de Israel à todas as famílias da terra, ou seja, aos gentios.
Entendo também que Yeshua estava se referindo a Ele quando diz que a salvação vem dos judeus, o Sumo Sacerdote de Israel, pelo fato Dele ser o próprio Verbo encarnado e pelo seu sacrifício no calvário. Pois embora os sábios, escribas, e todos que usavam da midrash conforme a tradição, não puderam conceber a maior interpretação de todas as revelações do Tanah , Yeshua HaMashia.