O que o calvinismo, o arminianismo têm em comum? Todas essas
filosofias nascem de uma visão limitada a respeito da salvação que temos em
Yeshua.
O Cristianismo, de uma forma genérica, conceitua a Salvação de
forma unicamente espiritual, como sendo a garantia do indivíduo ir para o céu
após a morte. E desenvolve seu estilo de vida totalmente baseada neste
princípio.
O cristão é ensinado desde o início da fé a respeito de como
viver de forma a não perder essa garantia de céu pós morte. Assim tudo na vida do
cristão é voltado unicamente em prol da salvação individual.
Assim, no calvinismo, desenvolve-se a ideia de que não
depende de suas escolhas pessoais. O sucesso de alcançar os céus é uma escolha
unilateral de Deus. Se você permanecer fiel aos pressupostos de uma vida salva,
é porque Deus te escolheu para isso, se não, é sinal de que Deus te escolheu
para perdição eterna.
No arminianismo desenvolve-se a ideia de que Deus fez tudo o
que era necessário para prover a salvação espiritual, agora tudo depende
unicamente de suas escolhas estarem alinhadas à uma vida salva, e se você
falhar e pecar, não haverá esperança para você após a morte.
Em todas essas premissas a ideia de uma salvação individual,
que se limita ao céu após a morte, e a ideia central.
No entanto, se analisarmos friamente os sermões apostólicos
do livro de Atos, os evangelhos, as cartas apostólicas, não vamos encontrar
essa centralidade na salvação individual. Na verdade, não encontraremos nenhuma
expectativa de “céu pós morte”, e a maioria das vezes que a palavra “Salvação”
é apresentada nas Escrituras, ela se refere a um livramento tanto físico quanto
espiritual.
A grande esperança que as Escrituras nos apresenta no âmbito
individual é o ingresso no Reino de Deus, o que tem implicações físicas muito
peculiares, e a Ressurreição, que não é desconectada de aspectos físicos e
naturais. Em tudo isso a Salvação anunciada tem uma abrangência maior do que o
âmbito individual, e tem um aspecto coletivo muito bem definido.
Não estou a negar a salvação individual que alcançamos
através da obra de Yeshua. O perdão de nossos pecados e a salvação pessoal que
alcançamos ao depositar a nossa fé em Yeshua é de fato de suma importância, e o
passo inicial para que todos os demais aspectos da salvação se concretizem em
nossas vidas.
O problema é que, ao limitar a salvação a apenas uma
garantia individual de um futuro esperado, desconectado da vida física e
natural, os crentes deixam de experimentar plenamente o propósito de Deus ao
ser inseridos no Reino do Eterno.
Ao oferecer-se como sacrifício no madeiro, Yeshua se fez o
veículo da Nova Aliança. Segundo as palavras de Yeshua, seu sangue é o sangue
da Nova Aliança. Ao depositarmos nossa fé em Yeshua adentramos nessa Nova
Aliança.
O que precisa ser entendido definitivamente é que a Nova
Aliança não é uma Aliança diferente da Primeira Aliança, mas sim a forma que o
Eterno planejou para que os objetivos da Primeira Aliança pudessem ser
alcançados. De fato, a Nova Aliança é o complemento necessário à Primeira Aliança,
para que o Reino do Eterno seja implantado na terra.
“E subiu Moisés a Deus, e o Senhor o chamou do monte,
dizendo: Assim falarás à casa de Jacó, e anunciarás aos filhos de Israel: Vós
tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos
trouxe a mim; agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes
a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os
povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o
povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel.” Êxodo
19:3-6
“E tomou o livro da aliança e o leu aos ouvidos do povo,
e eles disseram: Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos. Então
tomou Moisés aquele sangue, e espargiu-o sobre o povo, e disse: Eis aqui o
sangue da aliança que o Senhor tem feito convosco sobre todas estas palavras.” Êxodo
24:7,8
“Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança
nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz
com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do
Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado,
diz o Senhor.
Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois
daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei
no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará
mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o
Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus
pecados.” Jeremias 31:31-34
Tanto na Primeira Aliança como na Nova Aliança vamos
encontrar alguns pontos de ligação que precisam ser entendidos. A Primeira
Aliança foi estabelecida para que Israel fosse o Reino Sacerdotal e o Povo
Santo. A Nova Aliança foi prometida para que Israel fosse o Povo do Eterno.
A Primeira Aliança seria confirmada com a obediência de Israel
à Torá revelada no Sinai. A Nova Aliança se fez necessária justamente porque
Israel falhou neste propósito. A solução para a restauração da Aliança então é apresentada
pelo Eterno: “Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu
coração”.
Temos então principalmente duas constantes na Primeira e na
Nova Aliança:
- Israel sendo
levantado como Nação Sacerdotal, Povo Santo, Povo de Deus;
- A Torá sendo o
documento da Aliança;
Aliança é um compromisso. Ao dizermos que temos uma aliança
com o Eterno dizemos que temos um compromisso com o Eterno. E o compromisso que
foi estabelecido através do sacrifício de Yeshua não elimina os dois pontos
destacados acima: Israel e a Torá.
Infelizmente o conceito de Salvação limitada apregoada nos
meios cristãos tem anulado os dois pontos destacados na Aliança. A igreja se ensoberbeceu
e declarou “A Igreja substituiu Israel”. Não bastasse, ainda decretou “a Torá
foi anulada pela fé”.
Se Paulo tivesse escrito uma carta diretamente para a igreja
contemporânea, ele com certeza destacaria:
“Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes
estabelecemos a lei.” Romanos 3:31
“Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não
sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo:
Senhor, mataram os teus profetas, e derribaram os teus altares; e só eu fiquei,
e buscam a minha alma? Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim
sete mil homens, que não dobraram os joelhos a Baal. Assim, pois, também agora
neste tempo ficou um remanescente, segundo a eleição da graça.” Romanos 11:2-5
“Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te
gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os
ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua
incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. Então não te
ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que
não te poupe a ti também.
Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para
com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres
na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado.” Romanos 11:18-22
“Coincidentemente” essas palavras de Paulo foram
direcionadas à igreja em Roma, exatamente a mesma localidade onde se
desenvolveu a Igreja Católica Romana, da qual vieram o antissemitismo, a
teologia da substituição e a doutrina de que a Torá foi anulada. E as igrejas
protestantes não romperam com Roma nestes aspectos.
Precisamos entender de uma vez por todas que Yeshua morreu
na cruz para que nós pudéssemos ser incluídos no Reino de Deus. Portanto, o
mais importante não é aguardar “os céus” após a morte, mas vivermos de maneira
ativa o Reino de Deus, obedecendo aos mandamentos do Eterno, apresentando com
nosso procedimento a Justiça do Reino, influenciando a nossa geração, sendo luz
para o mundo caído no qual estamos inseridos, tendo a Torá como base de todo o
nosso pensar e proceder, e as promessas dadas a Israel como a garantia da
fidelidade do Senhor.
Por isso Paulo escreveu ao jovem Timóteo as seguintes
palavras:
“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste
inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes
as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que
há em Cristo Jesus.” 2 Timóteo 3:14,15
A Salvação individual que as Escrituras apresentam começa no
momento em que somos reconciliados com o Eterno, através da Fé em Yeshua, e
passa por uma vida de serviços ao Rei nesta geração, e a confiança na
ressurreição para um reino milenar, onde Yeshua reinará sobre toda a terra a
partir de Jerusalém.
Essa expectativa não pode ignorar nenhum aspecto da redenção
prometida a Israel!
Israel é o povo eleito pelo Eterno para ser a prova de seu
amor e de suas promessas. O mesmo capítulo 31 de Jeremias continua afirmando de
forma contundente:
“Assim diz o Senhor, que dá o sol para luz do dia, e as
ordenanças da lua e das estrelas para luz da noite, que agita o mar, bramando
as suas ondas; o Senhor dos Exércitos é o seu nome. Se falharem estas
ordenanças de diante de mim, diz o Senhor, deixará também a descendência de
Israel de ser uma nação diante de mim para sempre.
Assim disse o Senhor: Se puderem ser medidos os céus lá em
cima, e sondados os fundamentos da terra cá em baixo, também eu rejeitarei toda
a descendência de Israel, por tudo quanto fizeram, diz o Senhor.” Jeremias
31:35-37
O Reino do Eterno é composto por judeus e gentios aliançados
com o Eterno. Tanto judeus como gentios tem seus respectivos papeis neste Reino.
E o propósito deste Reino é a Salvação coletiva, a restauração da criação,
extirpando a corrupção da terra, trazendo á realidade um mundo restaurado.
“Porque a ardente expectação da criatura espera a
manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não
por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a
mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da
glória dos filhos de Deus.
Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente
com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as
primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a
saber, a redenção do nosso corpo.” Romanos 8:19-23
Este é o aspecto final da Salvação! Uma Salvação abrangente,
que aponta para a restauração de toda a terra.
Se esta é a esperança de nossa fé, seria de se esperar que
por meio dessa fé, apresentássemos posicionamentos e atitudes em direção à essa
restauração, mesmo tendo a consciência de que esse objetivo será alcançado
apenas quando Yeshua retornar.
No entanto, o que temos visto nos meios cristãos é uma
esperança mesquinha de uma salvação individual, sem nenhum esforço no sentido
de transformação do mundo à sua volta.
Que o Eterno restaure a sua Igreja, restaure nossa
esperança, nos traga à lucidez do que consiste sermos servos de Yeshua neste
mundo, e que possamos cumprir o nosso propósito no Reino do Eterno, fazendo a
diferença nesta geração.
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