Ser justo.


Logo após a revelação dos Dez Mandamentos no monte Sinai, em voz audível do Eterno, e muitos sinais grandiosos, os lideres de Israel chegam a Moisés e pedem:

 

"Fala tu conosco, e ouviremos: e não fale Deus conosco, para que não morramos." Êxodo 20:19.

 

Moisés sobe até o cume do monte, este ainda não é o momento em que ele ficaria quarenta dias recebendo do Eterno instruções sobre o tabernáculo, as festas, e demais leis.

 

Neste momento o Eterno apresenta a Moisés um conjunto de leis que deveriam reger a sociedade de Israel.

 

Lembrando que, até este momento, o Eterno estava apresentando as Leis que Israel deveria guardar e obedecer, caso desejassem seguir em frente com a aliança proposta no capítulo 19 de Êxodo.

 

Porém, veremos no capítulo 21 uma dinâmica muito diferente daquelas Dez Palavras pronunciadas no capítulo 20.

 

Enquanto em Êxodo 20 o Eterno estabeleceu os princípios que deveriam reger o nosso relacionamento, primeiro com Deus, depois com nossos semelhantes, no capítulo 21 nós vamos encontrar leis em um conceito bem diferente.

 

O primeiro dos Dez Pronunciamentos do Eterno (Dez Mandamentos) diz:

 

"Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão." Êxodo 20:2

 

Se o Eterno é aquele que liberta seu povo da escravidão, é claro que a escravidão não é um regime que está no centro da vontade do Eterno para seu povo.

 

Mas porque a seqüência dos mandamentos do capítulo 21 começa com:

 

"Se comprares um servo hebreu, seis anos servirá; mas ao sétimo sairá livre, de graça." Êxodo 21:2

 

Por isso os críticos da Torá se utilizam da deturpação destas palavras para desmerecer a Torá, sugerindo que neste capítulo existem leis que "aprovam" a escravidão, os maus tratos, a bigamia e o aborto.

 

Não há nada mais distante da realidade do que estas conclusões superficiais extraídas de um texto fora de contexto.

 

Por isso, vamos olhar mais de perto sobre o que se trata as diversas leis no inicio do capítulo 21.

 

Precisamos entender um princípio que a Torá trata neste capítulo, e que o mundo cristão ignora quase que completamente.

 

O que vamos aprender com as leis do capítulo 21 é: como o Eterno determina que seja feita justiça, após seus mandamentos serem descumpridos.

 

Todas as leis apresentadas no inicio deste capítulo tratam do que fazer após uma transgressão, para que a justiça seja estabelecida.

 

Interessante ressaltar que, no hebraico, a palavra Tzedek (justo) designa não necessariamente uma pessoa sem pecados, afinal muitos homens são chamados "justos" em toda a Tanach (Antigo Testamento), apesar de a própria Tanach registrar seus pecados.

 

Justo, na Tanach, é aquele que coloca as coisas no seu devido lugar, e isso envolve o princípio da indenização.

 

Por isso, no capítulo 21, o Eterno dá leis para que houvesse a devida indenização aos danos causados por vários tipos de transgressões.

 

O Eterno limita o período de escravidão a no máximo seis anos, garantindo aos escravos também o direito ao Shabat, o direito ao casamento, o direito à integridade física.

 

O Eterno ordena que, aquele que se casar com mais de uma esposa, não despreze uma em função da outra, mas mantenha as mesmas obrigações para com ambas.

 

Não se trata de concessões para transgredir os mandamentos do Eterno, mas essas leis devem ser entendidas como formas de garantir a devida indenização que nossos pecados produzem na sociedade e na vida de terceiros.

 

A Torá trata de dois aspectos distintos da transgressão. O primeiro é a culpa, cuja a solução é a expiação e a busca pelo perdão do Eterno.

 

O segundo aspecto é que, nossas transgressões geram algum tipo de prejuízo para a sociedade ou terceiros. Este aspecto só pode ser resolvido mediante a compensação ou restituição.

 

Um aspecto não elimina o outro. O fato de indenizar as vítimas de nossas transgressões não elimina a culpa pela transgressão. Ao mesmo tempo em que também, a expiação da culpa e o perdão não elimina a responsabilidade de indenizar as vítimas da transgressão.

 

No mundo cristão muito se fala sobre a necessidade de buscarmos o perdão do Eterno, confiando na expiação provida por Yeshua na cruz, arrependendo e confessando os pecados.

 

Isso é verdadeiro, válido, importante e necessário. Mas não deve eliminar a conscientização sobre o segundo aspecto. Devemos procurar promover as devidas compensações para quem sofreu as conseqüências dos nossos pecados.

 

O perdão que recebemos do Eterno deve ser um fator motivador a agir de forma a indenizar aqueles a quem defraudamos com nossas atitudes.

 

Veja o que o próprio Yeshua falou a respeito de Zaqueu:

 

"E, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor: Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado. E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão." Lucas 19:8-9.

 

Yeshua disse que "a salvação veio a esta casa" quando Zaqueu se dispôs a "restituir quatro vezes mais a quem foi defraudado".

 

O Eterno tem para nós uma salvação plena, que envolve todos os aspectos da transgressão. Ele nos enviou seu Filho Yeshua, para prover a expiação, ao passo que também nos deu a sua Torá, para que aprendêssemos a agir com justiça para com nossos semelhantes.

 

Que o Eterno nos abençoe!

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