Morrer para viver.

Os capítulos 21 a 24 de Êxodo (parashá Mishpatim) são muito importantes para a compreensão da relação que o Eterno propõe em sua aliança. 

No capítulo 24 a aliança do Sinai é celebrada, onde jovens de Israel sacrificam holocaustos e novilhos. Moisés pega do sangue destes sacrifícios, metade os derrama no altar (como forma de libação) e a outra metade coloca em tigelas. Em seguida Moisés lê o "livro da aliança", que basicamente consiste nos capítulos 20 a 23 de Êxodo, onde estão os mandamentos do Eterno para seu povo.

O povo, ao ouvir as palavras do livro, a uma responde: "Tudo o que o Senhor tem falado faremos". Diante destas palavras, Moisés aspergiu o sangue das tigelas sobre o povo dizendo: "Este é o sangue da aliança conforme essas palavras".

Como já estudado em outro momento, os mandamentos contidos em Êxodo 21, 22 e 23, tratam de como proceder para exercer justiça em casos de transgressão. (recomenda-se a leitura do artigo: https://www.facebook.com/fesalvacaoeobras/posts/1548502011894773).

É importante entender que, em nenhum momento, estes mandamentos tratam da expiação da culpa pelo pecado, mas unicamente tratam das penas impostas pelos diferentes tipos de pecados, e, em muitos deles, a pena era a morte do transgressor.

Paulo vai usar justamente isso para alegar que a justificação não pode vir pela prática da Torá. Em sua argumentação em Gálatas capítulo 2 ele diz:

"Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.  
Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? 

De maneira nenhuma. 

Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor. 

Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim." Gálatas 2:16-20.

A relação das palavras de Paulo com a parashá Mishpatim é impressionante. A parashá Mishpatim traz julgamentos, orientações aos juízes de Israel para julgarem e estabelecerem justiça. No entanto, esta justiça apenas condena o pecador.

Se formos transgressores, e necessitamos ser justificados, e se confiarmos apenas na Torá para essa "justificação", o meio seria unicamente a nossa morte. 

Por isso Yeshua se fez homem, e tomou sobre si a nossa culpa, e morreu em nosso lugar. Para que, por meio da morte dEle, nós pudéssemos ser justificados.

Portanto, a justificação vem unicamente por meio da fé em Yeshua.

Mas Paulo diz: "se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado?"

A questão levantada por Paulo é: se nós que cremos em Yeshua para remissão de nossos pecados, ainda continuamos no pecado, será que Yeshua é "ministro do pecado"? A resposta é clara: "De maneira nenhuma".

E ele diz na seqüência: "Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor".

O que foi destruído pela nossa fé no Messias? Justamente a nossa culpa. Ou seja, se eu tenho confiado no Messias para expiação da minha culpa, mas continuo nas mesmas práticas que me tornou culpado, estou constituindo a mim mesmo como transgressor.

Lembremos que a parashá Mishpatim termina no capítulo 24 de Êxodo com o sangue da aliança do Sinai. O sangue demonstra que, aquele que violar a aliança é culpado daquele sangue.

Em Yeshua temos uma Nova Aliança, não em sangue de animais, mas no sangue do Filho de Deus. Esta Nova Aliança traz a solução para a transgressão, primeiro por trazer a expiação perfeita, segundo por escrever a Torá no coração e na mente do homem.

Para adentrar na Nova Aliança a exigência é arrepender dos pecados e crer no Filho de Deus. Uma vez na Nova Aliança, através de Yeshua, morremos para a velha natureza, e somos vivificados pelo Espírito de Deus para vivermos em novidade de vida.

Assim, cumprimos em Yeshua a exigência da Lei, pois se a Lei ordena a morte do transgressor, em Yeshua morremos para a vida de pecados, e, pela ação do Espírito Santo, buscamos viver uma vida de obediência aos mandamentos do Eterno.

Não quer dizer que nunca mais pecaremos, mas não estaremos mais na vida de pecado. 

Por isso Paulo diz: "Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim."

Estar morto para a lei consiste em que a punição da Lei não cabe mais para nós. Não sendo mais punível pela Lei, temos agora paz com Deus, isso se de fato estivermos mortos em Yeshua, para também com Yeshua vivermos uma vida de obediência.

Assim, a Torá não é mais algo que nos acusa, mas é a instrução do Eterno escrita em nossos corações para caminharmos em justiça na nova vida que temos em Yeshua.

Mas, se uma vez estando na Nova Aliança, voltarmos a uma vida de rebeldia contra o Eterno, edificando aquilo que em Yeshua destruímos, nos tornamos também culpados da morte do Messias. Por isso encontramos Paulo também dizendo a respeito da Santa Ceia: 

"Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor." 1 Coríntios 11:27.

Segundo a Torá, o transgressor deve morrer. Pela graça do Eterno somos convidados a morrer com Yeshua, para vivermos para Deus, em uma vida de santidade e obediência. Mishpatim fala de julgamentos, e fala também sobre Aliança. Temos uma Aliança com Deus através de Yeshua. Uma aliança muito superior a aquela feita no Sinai. Portanto, devemos viver em conformidade com essa Aliança, para não sermos julgados.

Que o Eterno nos abençoe!

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