A Graça guardada e manifestada.

A parashá Êkev (Dt.7:12-11:25) é um convite à uma reflexão profunda com relação à nossa fé e nossa obediência aos mandamentos do Eterno. O verso que abre esta parashá é muito interessante:

"Será, pois, que, se ouvindo estes juízos, os guardardes e cumprirdes, o Senhor teu Deus te guardará a aliança e a misericórdia que jurou a teus pais" Deuteronômio 7:12.

Há um detalhe muito interessante neste verso, pois, onde em nossas bíblias está traduzido por "misericórdia", no original hebraico está a palavra (חסד - Chessed) que significa Graça.

Uma tradução mais literal do texto seria "o Senhor teu Deus guardou para ti a Aliança e a Graça que jurou a teus pais".

O texto é muito interessante pois ele parte da premissa de que: "Se ouvindo estes juízos, os guardardes e cumprirdes, o Senhor te guardará a Aliança e a Graça".

A teologia contemporânea sustenta que a Graça se opõe à obediência aos mandamentos, e o que a Torá apresenta é justamente o oposto, a manifestação da Graça guardada por Deus para nós é feita se ouvirmos os juízos do Eterno e nos dispormos à obediência.

Assim, aquele que ouve os mandamentos do Eterno, mas não se dispõe a obedecê-los, não terá manifestada a Graça do Eterno sobre a vida deste.

Mas, será que a base neo testamentária de salvação pela Graça e não pela pratica da Lei está em confronto com o que está estabelecido na Torá?

Paulo diz: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" Efésios 2:8,9.

De maneira nenhuma. O ensino apostólico está totalmente, e profundamente alinhado com o ensino na parashá Êkev. Mas a nossa percepção sobre os escritos de Paulo está também profundamente prejudicada pela falta de compreensão dos ensinos da Torá.

A parashá vai ressaltar, e ordenar Israel, a não se esquecer que eles foram rebeldes no deserto, vai alertar Israel que não é pela justiça deles que o Eterno expulsaria as nações cananéias da terra, e a daria a Israel, muito pelo contrário, pois Israel era um povo obstinado.

"Lembra-te, e não te esqueças, de que muito provocaste à ira ao Senhor teu Deus no deserto; desde o dia em que saístes do Egito, até que chegastes a esse lugar, rebeldes fostes contra o Senhor" Deuteronômio 9:7

"Quando, pois, o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti." Deuteronômio 9:4

No entanto, não obstante a todos os pecados de Israel, o Eterno estava cumprindo a sua palavra, dando a eles a graça de conquistarem a terra prometida.

Como então a Torá pode ensinar que a graça do Eterno só será manifestada se os mandamentos forem guardados?

Nessa mesma parashá, o Eterno vai destacar o que de fato ele estava exigindo de Israel:

"Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma" Deuteronômio 10:12

O texto acima destaca o viés da verdadeira obediência que é capaz de fazer a Graça guardada ser manifestada.

O Eterno não pede de nós uma obediência cega, ritualística, religiosa. O que o Eterno pede é que nossa obediência seja motivada pelo sentimento de amor ao Eterno.

Destaco a seqüência de verbos apresentados neste verso: "temer", "andar", "amar", "servir". Essa seqüência demonstra que primeiro, e acima de tudo, devemos temer ao Eterno, e por esse temor nos colocar em seus caminhos, e conhecendo seus caminhos o amamos, e por amá-lo servimos em obediência.

A obediência que o Eterno deseja ver em nós é aquela que é resultado do reconhecimento de que seus caminhos são os melhores, seus projetos são maiores, seus mandamentos são justos, seu caráter é perfeito.

É por amar a Deus que nos colocamos em sujeição aos seus mandamentos para o servir. E para este, a Graça do Eterno, guardada e prometida aos "pais", é manifestada.

Yeshua (Jesus) disse:

"Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele." João 14:21.

É importante destacar que a Graça guardada é o Messias. Em referencia a essa Graça que João escreveu:

"Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo." João 1:17.

Por isso, nesta mesma parashá vamos encontrar o seguinte mandamento:

"Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz." Deuteronômio 10:16.

A rebelião, o endurecimento do coração, a soberba são coisas que nos levam à desobediência e ao afastamento do Eterno e da sua Graça. Mas quando o homem arrepende-se de seus pecados, e volta seu coração ao Eterno, tendo o coração "circuncidado", a Torá passa a ter relevância para este.

Por isso, o chamado inicial do Messias foi: "arrependei-vos, e crede no evangelho".

Yeshua, com seu sacrifício no madeiro, providenciou para nós o perdão de nossos pecados, inaugurou a Aliança prometida e revelou-nos o caminho para a Graça que estava guardada.

É necessário ter o coração convertido para Deus, a fim de entrar nesta Aliança, e que essa Graça seja manifestada em nossa vida. E é este coração convertido que levará o individuo a obedecer aos mandamentos do Eterno, conforme seu entendimento e fé.

Perceba como o escrito de Paulo estava totalmente alinhado ao ensino desta parashá, pois não é a pratica religiosa, ou forçada, de mandamentos, regras e cerimoniais que podem nos justificar diante do Eterno. Mas a Fé (fidelidade confiante) é o que nos conecta à Graça.

O que nos conecta novamente à Deus é a conversão a Deus, a mudança de coração, e esta é a verdadeira expressão da nossa Fé, que no hebraico (emuná) significa "fidelidade confiante".

A obediência nunca foi o meio, mas o resultado de uma fé verdadeira em Deus. Portanto, se quiser medir a sua fé, meça a sua disposição em servir ao Eterno.

Que o Eterno nos abençoe!
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