O princípio do perdão.

Se há um princípio deveras importante no ensino de Yeshua (Jesus) é o ensino a respeito do perdão.

Podemos ter uma idéia da importância deste princípio nas palavras de Yeshua enquanto ensinava seus discípulos a orarem:

"Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas." Mateus 6:14,15.

O perdoar, ou não perdoar, pode ser determinante para nós recebermos, ou não, o perdão de nossos pecados. Por isso, perdoar é algo que deveria ser considerado prioritário para todos os que temem ao Eterno.

De fato, não creio que haja algum discípulo de Yeshua hoje que tenha alguma dúvida com relação à necessidade de perdoar, dada à clareza das palavras de Yeshua em seus ensinos.

Mas, o que creio seja importante definir à luz das Escrituras, seja no que consiste o ato de perdoar.

É natural que, ao sermos ofendidos por outro semelhante, nos sentirmos tomados por raiva, indignação, desejo de justiça.

Claro que devemos lidar cuidadosamente com os sentimentos que nos vem ao coração, mas não podemos achar que o ato de perdoar consista apenas em apaziguar as emoções.

Perdoar, assim como amar, podem envolver muitos sentimentos, mas no fundo, consistem principalmente em ações concretas.

A Torá nos ensina sobre isso quando diz:

"Se encontrares o boi do teu inimigo, ou o seu jumento, desgarrado, sem falta lho reconduzirás. Se vires o jumento, daquele que te odeia, caído debaixo da sua carga, deixarás pois de ajudá-lo? Certamente o ajudarás a levantá-lo." Êxodo 23:4,5.

A Torá ensina que, se caso ver o boi, ou o jumento daquele que é nosso inimigo, mesmo sendo alguém que nos odeia, devemos agir para com ele com justiça, restituindo ou ajudando mesmo que não esperemos nada em troca.

Em outras palavras, o ato de perdoar consiste em abdicar de fazer justiça com as próprias mãos, pelo contrário, mesmo que alguém se interponha como nosso adversário, devemos continuar agindo para com ele com justiça.

Na vida do rei Davi, nós vemos alguém que teve muita sabedoria ao lidar com este princípio.

O rei Saul tentou matar a Davi por, pelo menos, três vezes. Impôs uma perseguição implacável contra Davi enquanto ele fugia pelas cavernas de Adulão.

Por duas vezes Davi teve a oportunidade de vingar seu inimigo e matá-lo. Davi agiu com justiça, mesmo diante de toda a injustiça que sofrera, e poupou a vida de Saul.

"Julgue o Senhor entre mim e ti, e vingue-me o Senhor de ti; porém a minha mão não será contra ti." 1 Samuel 24:12.

Há outro princípio importante que deve ser observado para entendermos o que é perdoar. A Torá nos exorta, mais de uma vez, a imitarmos ao Eterno nosso Deus em sua Santidade.

"Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus." Levítico 20:7.

Yeshua usa deste mesmo princípio para nos ensinar como devemos agir para com o nosso semelhante, independente de ser nosso amigo ou inimigo.

"Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus." Mateus 5:44-48.

Assim, o perdoar consiste em fazer o bem a todos, mesmo, e principalmente, a aqueles que nos ofendem. E isso deve ser feito porque nosso Deus age da mesma forma. Imitemos ao Eterno, para que sejamos filhos de Deus.

Mas alguém pode achar isso demais. Abdicar de pagar o mal com mal, ou de retribuir a ofensa com outra ofensa, pode ser algo tido como difícil para alguém.

Para esses Yeshua nos faz lembrar que nós temos ofendido a Deus com nossos pecados, e Deus tem agido de misericórdia para conosco. É justo que, tendo nós recebido um grande perdão da parte de Deus, executemos perdão sobre aqueles que nos ofendem.

"Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?" Mateus 18:32,33.

O ato de perdoar deve ser motivado pelo reconhecimento de que recebemos de Deus um perdão muito maior.

Mas será que o perdoar que Deus exige de nós compreende em promover a injustiça dos homens maus?

A resposta é não. Definitivamente, o perdoar que devemos ter em nossos corações não deve eximir de buscar a justiça. E a justiça implica em colocar as coisas no seu devido lugar.

Ao perdoar alguém, devemos abdicar de fazer a justiça com as próprias mãos, mas, dependendo das circunstâncias, é justo que se leve o caso às autoridades que irão julgar e aplicar a justiça, não com o objetivo de vingar-se, mas com a intenção de interromper o mal.

A Torá trata da necessidade de se estabelecer juízes que julguem as demandas das pessoas com justiça e imparcialidade. Sobre isso a Torá diz:

"A justiça, somente a justiça seguirás; para que vivas, e possuas em herança a terra que te dará o Senhor teu Deus." Deuteronômio 16:20.

E Paulo nos orienta a como tratar as demandas que tivermos entre crentes:

"Para vos envergonhar o digo. Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre seus irmãos?" 1 Coríntios 6:5.

Portanto, o perdoar consiste não em promover injustiças, mas em agir com justiça a quem quer que seja, sendo beneficente, independente das circunstâncias, reconhecendo acima de tudo que devemos imitar nosso Deus, que nos tem dado do seu perdão.

Que o Eterno nos abençoe!
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