Justiça que vem da fé.

“Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. 
Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte; para ver se de alguma maneira eu possa chegar à ressurreição dentre os mortos.” Filipenses 3:4-11

A carta de Paulo aos Filipenses talvez seja a sua última carta. Paulo foi decapitado por ordem do imperador Nero, que, em sua sanha em combater a nova fé, ordenou a primeira perseguição oficial do império contra os discípulos de Yeshua.

Diante da eminente morte do apóstolo, os filipenses estavam angustiados, temerosos pela vida do apóstolo e pelos dias maus que estavam por vir.

Diante deste cenário, Paulo envia aos filipenses, através de Epafrodito, uma carta consolando e animando seus discípulos. Em sua carta Paulo demonstra que a nossa perspectiva diante da morte e da vida não é a mesma do ímpio. O ímpio, diante da morte, está a ver o juízo sobre seus pecados, e apega-se à vida como o seu único consolo. Já o crente vê a vida como a oportunidade de servir à Deus, e a morte, apesar de inimiga, nos leva à consolidação de nossa salvação. Este pensamento é resumido por Paulo na seguinte frase:

“Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.” Filipenses 1:21.

Diante deste cenário, no capítulo três, Paulo alerta seus discípulos a se guardarem dos “circuncidadores”. Durante todo seu ministério, o maior embate que Paulo teve foi contra esses “circuncidadores”. Atos 15:1 nos identifica corretamente quem eram eles. Eram religiosos, muitas vezes prosélitos, que anunciavam a necessidade dos gentios se converterem ao judaísmo para serem salvos. 

O argumento deles era simples: Deus tem uma aliança com Israel, portanto, para serem salvos, os gentios devem se fazer judeus. Hoje em dia há alguns grupos seguindo este mesmo raciocínio. 

Mas outro extremo surgiu desta admoestação de Paulo. Ao perderem o contexto da vida e dos escritos de Paulo, alguns teólogos enxergaram nas suas palavras um discurso anti Torá e anti Israel. Nada mais pode ser tão longe da realidade.

A questão que Paulo levanta em sua argumentação é que, o que os “circuncidadores” anunciavam, não passava de “confiança na carne”. Ou seja, confiavam que somente através de suas práticas podiam ser aceitos por Deus, e se esforçavam em suas práticas religiosas com este objetivo.

Paulo demonstra que a “confiança da carne” é uma vã confiança. E toma como principal exemplo a sua própria vida. Lembrando que boa parte destes “circuncidadores” eram prosélitos, ou seja, gentios que haviam se convertido ao judaísmo, Paulo demonstra que ele mesmo tinha muito mais o que confiar na carne. Ao contrário dos prosélitos circuncidadores, ele era hebreu de hebreus, circuncidado ao oitavo dia conforme a Torá, um fariseu que seguia com exatidão a prática farisaica.

E foi por causa deste zelo religioso e legalista que Paulo perseguiu a igreja de Yeshua. Foi por causa de seu zelo religioso que Paulo teve sua participação no assassinato de Estevão. Foi a sua religiosidade e seu legalismo que o levou a transgredir os mais importantes mandamentos da Torá. 

Quando Paulo teve seu encontro com Yeshua no caminho de Damasco, arrependeu-se de sua religiosidade, e passou a confiar não em sua carne, mas em Yeshua. Por isso, aquilo que ele tinha em alta conta: sua posição no Sinédrio, seu reconhecimento por seus pares religiosos, sua prática religiosa, tudo se transformou em nada. Por confiar em Yeshua Paulo foi expulso do meio religioso que vivia. De fato ele reputou tudo como perda para ter a Yeshua.

Aos que enxergam nessas palavras uma posição anti Torá, é importante entender que, o combate de Paulo nunca foi contra a Torá, e sim contra o mau uso da Torá, a religiosidade e o legalismo. A própria Torá se posiciona contra essas coisas, declarando a necessidade de não confiarmos em nossa própria justiça, e a necessidade de circuncidarmos o nosso coração.

“Quando, pois, o SENHOR teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o SENHOR me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o SENHOR as lança fora de diante de ti.” Deuteronômio 9:4.

“Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz.” Deuteronômio 10:16.

A Torá defende que não é nossa prática que nos aproxima à Deus, e sim o coração convertido à Deus que nos leva a sermos aceitos por Ele. Essa é a tese que Paulo defende. Os gentios, por meio da conversão à Deus, confiando na obra expiatória do Messias Yeshua, se aproximam à Deus, e são capacitados sobrenaturalmente, através do Espírito de Deus, a viverem em conformidade aos ensinos da Torá.

Assim, onde os teólogos enxergam uma declaração anti Torá, há na verdade uma declaração pró Torá, e anti religiosidade.

Essa admoestação pode e deve ser adaptada a nós, pois, a exemplo dos “circuncidadores” dos dias de Paulo, hoje há religiosos que anunciam que apenas na sua igreja, ou na sua doutrina há salvação. São legalistas que impõe práticas e proibições, como se isso pudesse nos aproximar a Deus, quando na verdade a prática é consequência da fé, e não o contrário. Na ânsia de terem seguidores, e demonstrarem sua relevância religiosa, exibem com arrogância seus conhecimentos e suposta santidade, se tornam “irrepreensíveis” diante da religião.

Devemos ter em mente que Deus quer o nosso coração. Converter de fato a Deus, confiando na obra de Yeshua, e procurando viver, não para homens, mas para Deus, alinhamos a nossa prática conforme aprendemos seus mandamentos. Isso é a justiça que vem da fé.

Que sigamos o exemplo do apóstolo Paulo, e busquemos viver nessa confiança, sabendo que no tempo que temos nesta vida, devemos servir a Deus com todo nosso coração, pois estamos certos que Yeshua nos dará participar da sua ressurreição, para uma vida plena com Ele.

Paulo termina expressando sua esperança na ressurreição. Essa ressurreição guardada para os justos. Nessa ressurreição teremos a Torá plenamente escrita em nosso coração e em nossa mente, como anunciou o profeta Jeremias. Por isso, devemos olhar para a Torá com os olhos corretos, não com os olhos dos “circuncidadores” nem com os olhos dos antinomistas, mas com os olhos da fé.

O Eterno nos abençoe!
#Yeshua #Torá #Confiança #Ressurreição #Circuncisão #Fé #Salvação

Comentários