Um versículo muito deturpado é onde Paulo, exortando os romanos, diz:
“Porque o reino de
Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.”
Romanos 14:17.
O
contexto em que este verso foi escrito, foi em meio à dissenção entre alguns
discípulos de Yeshua, devido às restrições alimentares auto impostas dos
estoicos. O estoicismo era uma escola filosófica muito comum nos primeiros
séculos, e os adeptos dessa corrente filosófica não comiam carnes nem bebiam
vinhos, visto que, dentro da ótica estoica, os prazeres do mundo físico deviam
ser evitados, pois impediam o homem de desenvolver sua racionalidade.
Essa
dedicação do capítulo 14 a este problema estoico fica evidente logo no verso 2
deste capítulo, quando Paulo afirma que o “fraco” na fé é justamente aquele que
só come legumes:
“Porque um crê que de
tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes.” Romanos 14:2
O
foco do discurso do capítulo 14 de Romanos pode ser resumido da seguinte forma:
não condene o seu irmão por causa de alimentos. E essa recomendação deve ser
expandida para os dois lados da disputa. Nem o que come carne deve condenar o
que não come, nem vice e versa.
A
disputa também envolve a questão de dias de festas e guardas, pois, assim como a
questão alimentar, os estoicos tinham severas restrições com relação à
celebrações de qualquer natureza, e, como bem sabemos, os judeus crentes, e
muitos gentios, celebravam as festas bíblicas no primeiro século.
Diante
do exposto, precisamos nos questionar: Deus se preocupa com o que eu me
alimento?
Sim,
há recomendações claras na Torá sobre o que deve ser tido como alimento ou não
para nós. Embora haja muitas resistências quanto às restrições alimentares da
Torá em Levíticos 11, elas existem.
Mas,
haja visto a recomendação de Paulo em Romanos 14, e a deliberação apostólica em
Atos 15, devemos ter bem firmes em nossa mente que, a aplicação ou não das
restrições alimentares da Torá para o gentio crente não pode ser feita por
imposição, mas fruto de entendimento e fé.
Assim,
se você colocar diante de Deus a questão, e, diante das Escrituras for
convencido de que as restrições alimentares da Torá são para o seu benefício, e,
de alguma forma, importante para o seu relacionamento com Deus, aplique isso em
sua vida, com cautela e sem legalismos.
Mas,
o que gostaria de desenvolver com você a partir deste texto, e a partir desta
questão, é a maneira educativa como Deus utiliza a questão alimentar em sua
Torá, para revelar-nos verdades profundas.
Não
sei se você já percebeu isso, mas, o primeiro mandamento dado por Deus ao homem
foi justamente uma restrição alimentar.
“E ordenou o Senhor
Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da
árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que
dela comeres, certamente morrerás.” Gênesis 2:16,17
O
pecado entrou na humanidade porque Adão não obedeceu a um mandamento que era
uma simples restrição alimentar. Uma vez que ele ingeriu do fruto proibido,
toda a sua natureza foi transformada.
Mas
os mandamentos alimentares não param por aqui, na instituição da mais
importante festa que Deus deu a seu povo ele ordenou que fossem observadas
regras alimentares:
“E naquela noite
comerão a carne assada no fogo, com pães ázimos; com ervas amargosas a comerão.
Não comereis dele cru, nem cozido em água, senão assado no fogo, a sua cabeça
com os seus pés e com a sua fressura.” Êxodo 12:8,9.
Se
você acha que essas ordenanças envolvendo alimentos é típico do antigo
testamento, no novo testamento também nos é dado um mandamento que também envolve
o comer e o beber:
“Porque todas as vezes
que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até
que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor
indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o
homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come
e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o
corpo do Senhor.” 1 Coríntios 11:26-29
E o
próprio Yeshua, usando do princípio implícito nessas regras alimentares, afirmou
categoricamente:
“Jesus, pois, lhes
disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do
homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.” João 6:53.
Mas,
o que há de tão especial em comer ou beber algo, e no que isso pode nos ensinar
verdades profundas?
Tudo
o que comemos ou bebemos é processado e ingerido pelo nosso organismo, se
quebrando em cadeias de proteínas, carboidratos, vitaminas e etc, que são carregadas
pelo nosso sangue até as células do nosso corpo. Definitivamente, nós somos o
que comemos.
Não
por menos, a natureza de Adão foi transformada quando ele ingeriu da árvore do
conhecimento do bem e do mal. Essa transformação na natureza de Adão foi tão
profunda, que nos transmitiu através da herança. E não tente espiritualizar o
pecado, pois a nossa experiência é clara em afirmar que o pecado não é algo
metafísico.
O
pecado afetou nosso corpo e nossa psiquê de forma espiritual e física, e o
aspecto físico é aquele em que mais facilmente o podemos perceber.
Assim,
o ensino por trás das questões alimentares é de que, da mesma forma como quando
comemos algo, este algo acaba fazendo parte de nosso corpo, através da transmissão
de suas moléculas até as nossas células, aquilo que alimentamos nossa alma,
nossa mente e coração tem o poder de formatar nossas emoções, pensamentos,
sentimentos e decisões.
Ao
comer o matzah na pessach, somos chamados a nos alimentar da pureza e
honestidade, para que nossa mente, e alma seja como o matzah: sincero e puro.
Ao
comer do cordeiro pascoal, assim como os vários mandamentos da Torá em que o
ofertante comia do sacrifício, somos ensinados que o sacrifício deve fazer
parte de nossa natureza. Assim, da mesma forma em que, através da morte do
substituto o ofertante tinha vida, era necessário ao ofertante morrer para
aquilo que causou o sacrifício.
Seguindo
esta mesma linha, comer do pão e beber do vinho da Ceia do Senhor, celebrando a
sua morte e ressurreição, nos alude à necessidade de sermos participantes de
seu sacrifício. Se ele morreu pelos nossos pecados, cabe a nós agora, morrer
para nossas inclinações carnais, e para o sistema que governa o mundo, para
vivermos segundo os parâmetros do Reino ao qual pertencemos.
Exatamente
isso que Yeshua quis ensinar ao afirmar que era necessário comermos de sua
carne e bebermos de seu sangue.
Devemos
nos alimentar da obra do Messias de maneira a termos nossa mente, emoções,
sentimento e pensamentos dominados por esta obra. O sacrifício do Messias deve
ser internalizado em nós de tal forma que ele faça parte de nossa natureza.
“E dizia a todos: Se
alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e
siga-me.” Lucas 9:23.
É
verdade que o evangelho promete a ressurreição, mas a ressurreição só é
possível onde há morte. O evangelho é um convite para a morte das inclinações
carnais e do viver em pecado, para a experiência de uma ressurreição plena, e
vida eterna.
Só
irá experimentar a ressurreição para a Vida, aquele que se alimentar da morte
da carne.
Que
o Eterno nos abençoe!
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