Não diga que os mandamentos de Deus são difíceis.

Algo muito comum de ouvirmos nas igrejas é de que ninguém é capaz de obedecer aos mandamentos de Deus. Entendo que esta premissa parte de uma constatação óbvia, a de que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23). Mas, mesmo diante desta contatação óbvia, a sentença “ninguém é capas de obedecer aos mandamentos” é um erro enorme.

Na Torá encontramos o Eterno advertindo seu povo justamente contra este pensamento, quando ele diz:

“Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.” Deuteronômio 30:11-14

Em outras palavras, o que o Eterno está dizendo a seu povo é que seus mandamentos não são absurdos, nem impraticáveis, pelo contrário, são mandamentos que facilmente podemos constatar suas virtudes.

Imagine, por um momento, como seria o mundo em que vivemos se apenas estes dois dos seiscentos e treze mandamentos da Torá fossem universalmente aceitos e obedecidos: Não matarás, e, Não furtarás.

Assim como o Eterno afirma em diversos momentos, suas leis foram-nos dadas para a vida, para que, ao cumpri-los, pudéssemos ter qualidade de vida, tanto no nosso relacionamento com Deus, como em nosso relacionamento com o próximo.

Mas, se a Torá não possui mandamentos absurdos, nem difíceis de praticar, por que então da constatação do apóstolo Paulo que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”.

O problema não está na Torá, mas sim em nossas inclinações carnais, que naturalmente se opõe aos mandamentos de Deus.

Embora enxerguemos virtudes em “não adulterarás”, ainda assim nossa natureza se inclina ao adultério. Embora enxerguemos virtudes em “não cobiçarás”, ainda assim nossa natureza se inclina à cobiça. O problema não está na dificuldade da prática do mandamento, mas em nossa natureza corrompida que se opõe à Lei de Deus.

A realidade é que o pecado que atua em nossa natureza nos escraviza debaixo de uma prática que racionalmente nós mesmos a condenamos. Essa realidade apenas expõe que, de fato, estamos destituídos da glória de Deus.

Uma fez que fomos criados para resplandecer as obras de Deus neste mundo, e não conseguimos fazê-lo devido às nossas inclinações carnais, estamos fora do propósito de Deus, e necessitamos de salvação.

E é neste contexto que podemos entender facilmente o midrash que o apóstolo Paulo faz quando cita o texto de Deuteronômio 30:11-14, quando ele escreve:

“Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. Ora, Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas.

Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo.) Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.

Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido.” Romanos 10:4-11

Inicialmente, é importante dizer que a expressão “o fim da lei é Cristo” em nenhum momento está dizendo ser o Messias o término da Lei. A palavra grega traduzida por “fim” é “telos” que significa “objetivo” e não “término”. Uma tradução mais coerente para este versículo seria “o objetivo da Torá é o Messias”.

Dito isso, podemos claramente ver que, a partir do verso seis, Paulo está citando expressamente Deuteronômio 30:11-14, associando as figuras de “céus” e “mares” com a encarnação e ressurreição do Messias.

O que Paulo está fazendo é traçando o meio pelo qual Deus estipulou para que fôssemos libertos da escravidão do pecado, e assim tivéssemos a liberdade de cumprir o propósito da nossa existência, obedecendo aos mandamentos de Deus.

Corrobora com esta ideia a promessa acerca da Nova Aliança, que expressamente afirma: “Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração” (Jeremias 31:33). Esta operação sobrenatural que transforma a nossa natureza, escrevendo a Lei de Deus em nosso coração é fruto direto da Nova Aliança, possível unicamente pela encarnação, sacrifício e ressurreição do Messias.

Por isso Paulo complementa dizendo que: “Se com tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10:9).

A confissão de que Yeshua é o Senhor, implica no reconhecimento de sua autoridade e sua Torá, ao mesmo tempo em que a fé em sua ressurreição é a confiança na sua obra que, assim como prometido, também trará a ressurreição em nossa natureza mortificada pelo pecado. Se pela obra do Messias podemos experimentar a Torá do Eterno sendo escrita em nosso coração e mente, assim como descrito em Deuteronômio 30:11-14, então estaremos experimentando a salvação do poder escravizante do pecado em nossa natureza carnal.

Este é um ponto que de fato precisamos compreender. Muitas pessoas creditam a necessidade de salvação com a salvação do inferno. Mas não é essa a salvação que de fato necessitamos almejar, visto que a condenação eterna é um reflexo da escravidão do pecado, do qual realmente necessitamos ser salvos.

Se formos salvos das inclinações carnais que dominam nossa natureza, então, com o relacionamento com o Eterno restabelecido, estaremos para sempre com Ele, desfrutando da completude do propósito de nossa existência. Essa é a salvação que de fato precisamos.

Muitas pessoas correm para as igrejas para fugirem do inferno, mas não buscam a liberdade da escravidão do pecado. Enquanto o indivíduo não estiver liberto da escravidão do pecado, ele ainda necessita de salvação.

Por isso a obra do Messias é tão valiosa, pois ela não apenas trás o perdão dos nossos pecados, mas também nos capacita a enveredar pelo caminho da salvação, onde nossa natureza vai sendo transformada pelo seu poder, que escreve a Torá em nosso coração. E sem o Messias, é impossível que alcancemos essa salvação.

Todos nós sabemos as falhas e fraquezas que temos. Sabemos do que precisamos ser libertos. Não somos chamados a viver apáticos à essa escravidão, mas somos chamados a buscar viver a liberdade que Yeshua conquistou para nós.

Por isso, apegue-se às promessas que o Eterno tem dado na sua Palavra, e busque vive-las com intensidade. Busque viver a salvação que Yeshua conquistou para você no madeiro. Clame ao Eterno pela transformação de sua natureza caída, para que os frutos do Espírito de Deus se manifestem em sua vida, e assim, você cumpra com o propósito da sua existência.

E nunca mais diga que ninguém é capaz de cumprir a Torá. O problema não está na Torá, e sim em nós mesmos. Mesmo assim, em Yeshua podemos clamar e experimentar essa libertação, tendo a Torá bem próxima a nós, em nossa boca e em nosso coração.

Que o Eterno nos abençoe.

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