Princípios morais dos mandamentos - Não matarás!

“Não matarás.” Êxodo 20:13

Eu confesso que por muitos anos eu questionei essa situação do não matarás, pois apesar de proibir expressamente o homicídio Deus deu ordens explícitas para executar a pena capital no caso de adultério, feitiçaria, blasfêmia e o próprio homicídio, e durante a conquista da terra de Canaã Deus ordenou a morte e destruição de vários povos.
Ainda temos o caso em que o rei Saul recebeu ordens claras de matar todos os amalequitas, incluindo mulheres e crianças, e todos os seus rebanhos. Coisa que Saul não fez, e por isso, foi rejeitado como rei de Israel.
Mas existe algo que passa despercebido nesta leitura, o decálogo foi escrito em hebraico antigo, e foi dito e escrito pelo próprio Deus conforme nos mostra o relato de Êxodo. A pergunta que cabe aqui é: qual a palavra Deus usou para não matarás?
A palavra usada ali no original é "ratsahh" que significa literalmente "quebrar" ou "reduzir a pedaços".
Em seu léxico hebraico, o perito John Parkhurst explica que, na Bíblia, ratsahh “indica homicídio simples ou homicídio qualificado, i. e., quer tirar de modo acidental quer premeditado a vida dum homem”.
Interessante que na própria lei foi estabelecido as "cidades de refúgio", que eram cidades previamente estabelecidas, para onde um homem que tenha assassinado outro poderia se refugiar até seu julgamento. Caso a morte que provocara tenha sido acidental, o homem viveria para sempre na cidade de refúgio, caso não, o homicida seria morto pelo crime que cometera.
Lembre-se agora do que Cristo disse a respeito desse mandamento:

"Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo.
Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno. " Mateus 5:21-22

Perceba que o Cristo não somente condena o assassinato, mas também os sentimentos que levam ao assassinato, como raiva e ódio, colocando o desejo de praticar no mesmo patamar do ato praticado.
Assim podemos facilmente entender que o decálogo está prevendo casos de assassinatos, quer motivados por ira ou ódio, ou motivos banais "sem motivo".
O principio moral contido neste mandamento não se limita apenas não tirar a vida de outro semelhante, mas também de não desejar a morte de seu semelhante, nem nutrir em seu coração sentimento de ódio ou rancor contra o próximo.
Deus é amor, e a expressão máxima de seu amor está na pessoa e obra de Jesus Cristo, que se deu por amor a todos nós.
Assim aquele que quer se parecer com Cristo deve ter em si o mesmo sentimento que também houve em Cristo: Amor.
Mas e quanto ao mandamento de Deus para exterminar tantos povos no velho testamento?
Quando o povo hebreu conquistou a terra de canaã e destruiu várias cidades, o próprio Deus afirmou que o motivo era porque as obras más daqueles povos estavam chegando até Ele.
O que Deus ordenou não foi um assassinato motivado por ódio ou raiva, mas sim a aplicação de sua justiça.
Nos países onde existe a pena de morte, o carrasco não é tido como assassino ao executar a pena, ele é tido como um oficial da justiça. Perceba a diferença.
Mas antes de olharmos para Deus como um ser impaciente e desmedido, vamos olhar para as práticas daqueles povos que exigiram que Deus fizesse justiça.

“Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne, para descobrir a sua nudez. Eu sou o Senhor.
Não descobrirás a nudez de teu pai e de tua mãe: ela é tua mãe; não descobrirás a sua nudez.
Não descobrirás a nudez da mulher de teu pai; é nudez de teu pai.
A nudez da tua irmã, filha de teu pai, ou filha de tua mãe, nascida em casa, ou fora de casa, a sua nudez não descobrirás.
A nudez da filha do teu filho, ou da filha de tua filha, a sua nudez não descobrirás; porque é tua nudez.
A nudez da filha da mulher de teu pai, gerada de teu pai (ela é tua irmã), a sua nudez não descobrirás.
A nudez da irmã de teu pai não descobrirás; ela é parenta de teu pai.
A nudez da irmã de tua mãe não descobrirás; pois ela é parenta de tua mãe.
A nudez do irmão de teu pai não descobrirás; não te chegarás à sua mulher; ela é tua tia.
A nudez de tua nora não descobrirás: ela é mulher de teu filho; não descobrirás a sua nudez.
A nudez da mulher de teu irmão não descobrirás; é a nudez de teu irmão.
A nudez de uma mulher e de sua filha não descobrirás; não tomarás a filha de seu filho, nem a filha de sua filha, para descobrir a sua nudez; parentas são; maldade é.
E não tomarás uma mulher juntamente com sua irmã, para fazê-la sua rival, descobrindo a sua nudez diante dela em sua vida.
E não chegarás à mulher durante a separação da sua imundícia, para descobrir a sua nudez,
Nem te deitarás com a mulher de teu próximo para cópula, para te contaminares com ela.
E da tua descendência não darás nenhum para fazer passar pelo fogo perante Moloque; e não profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o Senhor.
Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é;
Nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele; nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; confusão é.
Com nenhuma destas coisas vos contamineis; porque com todas estas coisas se contaminaram as nações que eu expulso de diante de vós.” Levítico 18:6-24

Conforme relato de Levíticos 18, vemos que aqueles povos praticavam toda a sorte de depravação sexual, desde adultérios a pedofilia, homossexualismo e zoofilia.
Também na adoração a outros deuses, que era desempenhada por aqueles povos, tinham como prática o sacrifício de crianças ao deus Moloque.
A corrupção e o pecado daquele povo tinham chegado a níveis intoleráveis para Deus, e a destruição destes povos pelas mãos dos hebreus nada mais era do que a execução da justiça de Deus.
Muitos anos após, os próprios hebreus se desviaram das leis de Deus e começaram a praticar tudo aquilo que os cananeus praticaram, e Deus levanta dois povos para exercer sua justiça, os Assírios e Babilônicos.
Então a lei "Não matarás" não contradiz o restante da lei, muito menos as ordens de Deus quanto aos povos que habitavam naquela terra.
Mas se você ainda acha que Deus de alguma forma foi injusto, ou severo em demasia com os povos da terra de Canaã, convido você a considerar isso:
Deus é soberano, ele nos criou, e estamos todos sujeitos à suas leis.
Você é brasileiro, vive e mora no Brasil, e está sujeito às leis do Brasil, não por sua vontade, mas pelo fato de ter nascido brasileiro e habita em terras brasileiras.
Da mesma forma você está sujeito às leis de Deus, porque foi criado por Ele, Ele te deu a vida e você pertence a Ele, não por sua vontade. Assim mesmo que você não concorde ou não acredite, está sujeito às leis de Deus.
Você então pode me dizer: mas você também transgrediu a lei de Deus, você um dia mentiu, um dia tomou o nome de Deus em vão, um dia teve ódio de alguém a ponto de querê-lo morto.
Sim é verdade, e pela lei de Deus sou tão culpado quanto você ou qualquer outro ser humano, e destinado ao inferno de igual forma. Qual é a razão então de minha esperança de não ser condenado? A Justiça de Deus!
A morte e ressurreição de Jesus Cristo foi o cumprimento da justiça de Deus. Jesus, mesmo sendo Deus (Filho de Deus) esvaziou-se de sua glória, nasceu como um humano, viveu uma vida como homem, e diferente de nós, Ele cumpriu a Lei de Deus completamente.
Mas Ele morreu, e sabemos que a morte é para os transgressores da lei. No entanto Ele não morreu por seus pecados, mas pelos nossos pecados, tomando o nosso lugar e abrindo um direito legal para que nós pudéssemos escapar da condenação da lei. E o fato que nos permite crer que Jesus cumpriu toda a Justiça de Deus foi justamente a sua ressurreição.
Todavia este direito é dado através do arrependimento de nossos pecados e da fé em Cristo. Cristo abriu o caminho para Salvação, cabe a nós agora trilhar este Caminho através do arrependimento de nossos pecados e obediência aos mandamentos.
Este é o evangelho, é essa a mensagem que Cristo e os apóstolos difundiram pelo mundo. E é essa a mensagem da salvação. Portanto esqueça aquela estória da carochinha que diz que você deve tomar a comunhão, frequentar as missas ou cultos, ser obediente ao padre ou ao pastor e ser um bom menino pra Deus te aceitar no céu.

Nunca seremos bons o suficiente para isso, se existe uma oportunidade de salvação não é por nossos méritos, é pelo que Cristo fez na cruz. A única parte que cabe a nós é desejarmos nos reconciliar com Deus, arrependendo de nossos pecados e buscar com todas as nossas forças fazer a vontade de Cristo.

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