Princípios morais dos mandamentos - Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.

“Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.” Êxodo 20:16

Com certeza, um dia sua mãe já lhe disse: “Não minta menino!” Porém o que a bíblia ordena é um pouco mais além de simplesmente “não mentir”.
Antes de entrarmos no estudo acerca do mandamento, vamos definir o que é a Verdade!
Vivemos tempos em que a verdade tem sido tratada como algo subjetivo, ou seja, que depende da pessoa. Com isso a sociedade atual acredita que o que é verdade para uma pessoa talvez não seja verdade para outra pessoa.
Esse entendimento sobre o que é a verdade vem justamente da incapacidade dos homens de compreender a verdade.
Este pensamento é totalmente descabido, e com um pouco de reflexão, qualquer pessoa pode chegar à conclusão que a verdade não depende do que as pessoas acham, mas ela é por si mesma.
Certa vez, para defender a subjetividade da verdade, alguém contou a seguinte parábola: Um elefante foi examinado por seis homens cegos, cada um destes homens cegos apalpou uma parte do elefante, e depois descreveu o que seria o elefante.
Um deles disse que o elefante parecia-se com uma cobra, pois tinha apalpado sua tromba. Outro disse que não, que o elefante se parecia com um tronco de uma árvore, pois tinha apalpado sua perna, outro retrucou que não, que o elefante se parecia com uma corda, pois tinha apalpado seu rabo, ainda outro disse que todos estavam errados, pois o elefante parecia-se com uma lança, pois tinha apalpado suas presas, imediatamente outro disse que o elefante se parecia com uma ventarola, já que tinha apalpado suas orelhas, e por fim o ultimo disse que o elefante parecia-se com uma parede, pois tinha apalpado seu dorso.
Com essa parábola, o homem argumentou que os seis cegos não estavam totalmente errados em suas conclusões, pois cada um descreveu daquilo que conheceu sobre o elefante, assim nenhum deles estaria de todo errado.
Portanto a verdade seria subjetiva, já que ninguém é capaz de conhecer a verdade como um todo.
Bom, essa argumentação parece realmente muito persuasiva a concluir a subjetividade da verdade, porém esse pensamento demonstra o quanto somos mentirosos e tendenciados a mentir.
Primeiro que a mentira não é o contrário da verdade, mas a deturpação da verdade, ou seja, todos os seis homens da parábola mentiram com relação ao elefante, porque deturparam o que é um elefante. Um elefante não se parece com nada do que aqueles homens afirmaram, apesar de partes do elefante sugeriram a comparação, mas por não conhecerem toda a verdade, aqueles cegos mentiram.
O elefante não se tornará parecido com uma parede só porque aquele cego apalpou apenas seu dorso, nem se tornará parecido com uma árvore só porque outro cego apalpou apenas sua perna. O elefante continuará sendo elefante, com as formas de um elefante.
A verdade é a expressão exata da realidade! Ela não muda por causa daquilo que pensamos sobre ela, ou daquilo que conhecemos sobre ela. A verdade é imutável, e por ser imutável ela é única e objetiva.
A verdade aponta para aquilo que é real, seja essa realidade um fato, ou um conceito. Quando falamos de verdade factual estamos expressando sobre um fato que ocorreu em determinado tempo e espaço. E quando falamos de verdade formal, estamos falando sobre conclusões que podemos afirmar através de postulados e axiomas. Mas em todas as suas formas, a verdade sempre expressará uma realidade.
O fato é que o ser humano é limitado e incapaz de conhecer toda a verdade sobre toda a realidade, mas isso não quer dizer que não devemos procurar conhecer a verdade, pelo contrário, só poderemos fazer afirmações verdadeiras quando conhecemos a verdade sobre o assunto que queremos abordar.
E só podemos concluir ou afirmar sobre a verdade de um assunto quando temos convicção de ter conhecido a realidade sobre este assunto.
Com certeza se os cegos tivessem apalpado o corpo inteiro do elefante, suas afirmações sobre o que seria um elefante seriam mais coerentes com a verdade.
É muito comum vermos as pessoas fazendo afirmações e conclusões sobre certos assuntos, e nessas afirmações vemos algum resquício de verdade, mas depois o pensamento é complementado com distorções, para encaixar-se naquilo que a pessoa quer ver da verdade e não o que é a verdade.
Agora podemos entender melhor o que Cristo afirmou sobre si mesmo quando disse:

“Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” João 14:6

Vimos que a verdade é imutável, única e objetiva. Também vimos que a verdade é a expressão de uma realidade. E que só pode ser afirmada por quem tem conhecimento total da realidade. Ora quem, senão Deus, para ser o detentor de toda a verdade? Pois somente Ele é oniciente e onipresente. Somente Deus conhece toda a realidade, e se faz presente em todos os lugares em todos os tempos, e vê não apenas as obras exteriores, mas também o íntimo dos corações.
Assim, quando Jesus arrogou sobre si, ser Ele a Verdade, Ele estava afirmando sua divindade. Por ser oniciente e onipresente, Deus é a única testemunha da verdade em sua totalidade, e Ele mesmo afirma isso quando diz:

“E chegar-me-ei a vós para juízo; e serei uma testemunha veloz contra os feiticeiros, contra os adúlteros, contra os que juram falsamente, contra os que defraudam o diarista em seu salário, e a viúva, e o órfão, e que pervertem o direito do estrangeiro, e não me temem, diz o Senhor dos Exércitos.” Malaquias 3:5

Vemos que o Juízo de Deus é perfeito, pois Ele é a própria Testemunha dos pecados do seu povo. Por isso mesmo todos seremos indesculpáveis diante de seu juízo se não o temermos.
Assim se a Verdade está em Deus e em Cristo, necessitamos conhecê-lo para conhecermos a verdade! Por isso a mentira é uma característica muito comum do ser humano, pois o homem está distante de Deus, e tenta como que um cego, conhecer a verdade por si só, apalpando “partes” do que pode ser conhecido, e afirmando coisas tão discrepantes da verdade. A mentira é tão natural ao ser humano que a bíblia afirma:

“Deus não é homem, para que minta;...” Números 23:19a

Mas agora que aprendemos um pouco sobre a verdade, vamos olhar para o que o mandamento bíblico ordena:

“Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.” Êxodo 20:16

O que seria então dizer “falso testemunho contra o teu próximo”?
Toda a testemunha tem um testemunho a relatar. O testemunho é o relato daquilo que alguém viu ou ouviu, ou seja, é a verdade sobre um fato que a testemunha tem pleno conhecimento para a afirmar.
Assim o testemunho tem dois aspectos, o primeiro é que ele deve ser verdadeiro, ou seja, a testemunha deve relatar o fato que viu ou ouviu; deve falar com verdade. O segundo aspecto é que, para ser testemunha, a pessoa deve estar apta a testemunhar com certeza do que viu ou ouviu. Se não houver o pleno conhecimento dos fatos, a pessoa não pode ser testemunha.
Então o homem pode descumprir este simples mandamento de duas formas, ou quando deturpa a verdade que conhece, afirmando uma mentira, ou quando se propõe a afirmar daquilo que não conhece, sendo falsa testemunha, mentindo.
Mas podemos aprofundar ainda um pouco mais sobre a questão do testemunho e entender que, a verdade afirmada, deve estar em consonância com a verdade praticada!
Na questão religiosa, não basta alguém simplesmente dizer o que é correto a respeito da verdade, essa verdade deve ser uma prática de vida. Ou seja, o cristão que se dispõe a testemunhar de Cristo deve fazê-lo de palavras e de ações. Quando há contradições entre suas afirmações e sua prática de vida, seu testemunho é falso.
Portanto cabe a nós a profunda avaliação de como tem sido nosso testemunho! Pois se Cristo é a Verdade, e agimos e falamos com mentira, estamos agindo contra a Verdade que é Cristo!
A mentira é uma característica do ser humano, mas é um pecado terrível, não apenas porque pode prejudicar outros, ou deturpar o conhecimento de outros sobre a verdade, mas principalmente porque a mentira é uma afronta a quem Cristo é.
Veja o que Cristo disse aos fariseus por causa de suas mentiras:

“Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.” João 8:44

Portanto, viver na prática da mentira, seja ela qual for, é o mesmo que se fazer filho do diabo.
Também necessitamos estar alertas para o fato de que devemos conhecer a verdade para testemunhar da verdade. Se, como vimos, a verdade em sua totalidade está em Deus, sendo Ele a própria Verdade, só poderemos conhecer a Verdade se Ele nos revelar.
E nos conforta saber que Deus tem se revelado a nós para que conheçamos a Verdade, como disse o escritor de Hebreus:

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho,” Hebreus 1:1

Durante toda a história da humanidade, Deus tem se revelado ao homem, seja através dos patriarcas, do povo hebreu, dos profetas, e por fim a revelação máxima de Deus: Jesus Cristo! E toda essa revelação de Deus nos foi entregue através da bíblia.
Por isso podemos afirmar que a Bíblia, apesar de não conter toda a verdade sobre todos os assuntos, ela é toda a Verdade que Deus revelou ao homem para que este conhecesse a Deus.
A bíblia obviamente não responde a todas as questões, nem trata de todas as realidades, mas traz toda a verdade necessária para que o homem conheça a Deus, e o tema.
Por ser Cristo a própria verdade, toda a busca pela verdade deve ser norteada pela palavra de Deus.
E daquilo que temos conhecido de Deus, através da sua Palavra, devemos testemunhar, afirmar e proclamar com nossas palavras e principalmente com nossas atitudes, a fim de sermos testemunhas verdadeiras.

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8:32


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