Princípios morais dos mandamentos - Não cobiçarás!

“Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.” Êxodo 20:17

Algumas pessoas olham as leis do velho testamento e pensam que se tratam apenas de regras que condenam práticas exteriores. Como se a obediência a estes mandamentos estivessem apenas na jurisdição das obras. Mesmo alguns teólogos fazem esta afirmação colocando como que somente Cristo tivesse feito a relação dessas leis com as intenções do coração.
Este último mandamento nos mostra que essa premissa é falsa.
No original em hebraico o termo usado para “Não cobiçarás” é “CHAMAD” que pode ser traduzido também como “desejar”, “ter prazer em” ou “deliciar-se em”.
Sem dúvida alguma este mandamento trata do pecado no interior do coração, e podemos associa-lo a todos os demais mandamentos. A cobiça pode ser a fonte para todos os demais pecados. Pela cobiça podem nascer os furtos, adultérios, assassinatos, a idolatria (Efésios 5:5 e Jó 31:24-28), o desrespeito aos pais (Mateus 15:3-6), a violação do descanso (sábado) e etc.
É interessante notarmos que Deus trata tanto do pecado externo (associadas a práticas) como do pecado interno (associado aos desejos e vontades) nos dez mandamentos.
Aqueles crentes que acreditam que para o pecado existir é necessário praticá-lo tem um sério problema a resolver aqui neste último mandamento, pois a violação deste não está em alguma prática externa, mas no desejo do coração, na forma e local onde somente você e Deus pode conhecê-lo.
Portanto devemos dar importância aos pecados internos, ou seja, aos pecados que ocorrem no interior de nosso coração.
Jesus Cristo veio como um grande reformador. Quando vemos seu discurso em Mateus capítulo 5, vemos como ele se preocupa em resgatar este ensino do último mandamento, associando todos os demais mandamentos ao interior do homem. De fato Cristo veio trazer novamente a interpretação correta das leis de Deus.
Jesus não teve compromisso com nenhuma escola judaica de seu tempo, mas Ele se preocupou em restaurar todas as coisas, a partir do entendimento correto da Torah, até o cumprimento das Leis e dos Profetas na cruz e na ressurreição.
Se a história da humanidade conheceu um verdadeiro Reformador, este reformador foi Jesus Cristo. Não há nenhum que tenha sido como Ele.
Mas o que temos a aprender com este último mandamento?
O pecado da cobiça não pode ser evidenciado em práticas, mas ela ocorre no íntimo do seu coração. Portanto é completamente plausível que você já o tenha cometido, ou o está cometendo neste momento, e ninguém a sua volta tenha percebido, ou sequer desconfiado de seu pecado.
Mas este mandamento nos indica que Deus não está atendo apenas às suas obras, ou práticas, como os homens normalmente fazem, mas Ele conhece e pode julgar seu coração e seus pensamentos mais íntimos.
Esse mandamento nos dá um vislumbre de como Deus nos vê, e como Ele nos julgará.
Não somente isso, mas podemos concluir a partir deste mandamento, que devemos nos guardar não apenas de praticar o mal, mas também de desejar ou deliciar-se no mal, mesmo que seja em pensamentos íntimos.

“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” Provérbios 4:23

Em outras palavras, não adianta nada para você simplesmente não praticar o adultério, se em seus pensamentos íntimos você se delicia no adultério. Você estará violando os mandamentos da mesma forma.
O próprio Jesus fez essa associação em Mateus 5:

“Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.” Mateus 5:27-28

Após fazer a declaração mencionada acima, Jesus faz uma outra declaração, que nos ensina justamente sobre a necessidade de guardar nosso coração do mal:

“Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.” Mateus 5:29-30

Ao contrário do que se possa imaginar, este texto não está incitando a automutilação, mas declara a importância de guardar nosso coração do mal.
Mais a frente Jesus dirá que os olhos são a lâmpada do homem, ou seja, aquilo que colocamos diante de nossos olhos, naquilo que fitamos como nosso objetivo e objeto de desejo, é o que alimenta nosso interior e nossa alma.

“A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” Mateus 6:22-23

Se você tem alimentado seu coração de trevas, essas trevas dentro de você se tornarão cada vez mais densas, até chegar ao ponto que toda a imoralidade contida em seu coração venha a se manifestar em ações, práticas e escândalos.
Assim o ensino moral que este mandamento nos transmite está justamente em guardar o coração das perversidades que o cercam.
O homem é mal, tendenciado para o mal, e constantemente flerta com o mal.

“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.” Tiago 1:14

No entanto somos chamados em Cristo para sermos santos, puros, renovados e vivificados.

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” 2 Coríntios 5:17

Por si só é impossível ao homem evitar que o mal contamine seu coração. Pois é fato que o mal nos atrai, e sozinho o homem não tem forças para resistir a isso.
Mas Cristo nos propiciou um caminho de perdão e restauração. Ele morreu pelos nossos pecados e ressurgiu dentre os mortos para nos mostrar que nossos pecados podem ser perdoados, e que podemos desfrutar de uma nova esperança, a ressurreição. Pois assim como Ele ressurgiu dentre os mortos, nos prometeu ressuscitarmos com Ele em novas criaturas.
Mas a obra da graça não terminou neste momento. Cristo não nos deixou órfãos, mas enviou-nos o Espírito Santo da promessa. E este Espírito Santo é o agente vivificador e santificador em nossas vidas.
 Quando nos arrependemos de nossos pecados e nos rendemos a Cristo somos vivificados, e uma nova esperança brota em nossos corações. Mas ainda continuamos carnais e o pecado ainda habita o nosso interior. Mas a partir deste momento não estamos mais sozinhos na luta contra o pecado, pois o Espírito Santo que habita nos salvos nos ajudará em nossas fraquezas, fazendo-nos lembrar das palavras de Cristo, e nos guiando a toda à verdade.
Então a partir de agora o cristão tem uma luta constante entre a vontade do Espírito (obedecer os mandamentos do Senhor) e a vontade da carne (obedecer a lei do pecado).

“Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.” Gálatas 5:17

É certo que o Espírito Santo nos ajuda em nossas fraquezas, dando-nos graça para resistir às tentações, mas é certo também que o cristão tem o dever e a responsabilidade de guardar o seu coração do mal.
Se o cristão negligenciar a guarda do seu coração, novamente o pecado ganhará forças, e inundara o coração de perversidades, até que o cristão caia, e produza através de seus membros o escândalo.
Portanto este último mandamento vem como um clamor de Deus a nós para estarmos atentos e vigilantes contra o mal que rodeia nosso coração. Para guardarmos dos pecados que ocorrem em nosso interior, para estarmos constantemente arrependidos de quem somos (maus e perversos) e buscar sempre em Cristo e no Espírito Santo as forças necessárias para vencer a cobiça do nosso coração, lembrando-nos de que sem Ele, nada podemos fazer.

“Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.” Romanos 8:5-6



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