Se sou salvo pela Graça, porque devo obedecer a Lei?

Aconteceu em um determinado debate em que estava sendo discutida a questão do Sábado, o quarto mandamento do decálogo. E desde já quero deixar claro que o Sábado, como memorial do dia da Criação, e como sinal do futuro repouso prometido aos salvos, é bíblico, e portanto, válido para nossos dias.
Infelizmente no decorrer da história a igreja perdeu essa visão, mas este assunto cabe a outro tópico.
No decorrer do debate, foi dito que o Sábado, apesar de válido e bíblico não é preceito de salvação, ou seja, não é por isso que alguém será salvo, mas nem por isso não deixa de ser um mandamento do Senhor.
Neste momento, um dos interlocutores lançou a seguinte frase: “Então porque preciso guardar o sábado se o que me importa é a salvação?”.
Por ocasião desta frase eu ofereci a ele uma resposta, e achei por bem colocar também aqui, pois essa visão distorcida sobre a Lei e a Graça é muito comum em nossos dias. Portanto creio que esta resposta também possa servir de edificação a todos os demais cristãos.
A resposta que coloco aqui obviamente está mais elaborada, com alguns acréscimo que são pertinentes para um melhor aprofundamento do assunto.
Espero que o texto abaixo possa falar a você:


Olá, desculpe entrar na conversa, mas gostaria de fazer algumas colocações que creio podem contribuir para a sua edificação pessoal.
Durante o debate em certo momento você colocou a seguinte frase: “Então porque preciso guardar o sábado se o que me importa é a salvação?”.
Bom, esta frase expõe um pensamento muito comum no cristianismo moderno, não estou dizendo que este seja seu caso, mesmo porque não conheço você, mas o cristianismo moderno tem uma visão parcial e equivocada sobre a cruz de Cristo, e a limita em apenas “livrar o homem do inferno”.
Veja, a Salvação que temos em Cristo com toda a certeza é a Graça das Graças que recebemos de Deus, no entanto ela não é o fim em si mesma. O propósito da cruz de Cristo foi RECONCILIAR o homem com Deus. Esta reconciliação não limita a simplesmente leva-lo ao céu, mas torná-lo participante das PROMESSAS e ALIANÇAS de Deus. Ou seja, não é apenas “ir para o céu”, mas principalmente reaver a COMUNHÃO com Deus que foi quebrada no Éden.
Pode parecer muito forte o que vou dizer agora, mas infelizmente, a maioria dos que se dizem cristãos, querem sim muito ir para o céu, mas adoraria se Deus não estivesse lá, porque boa parte deles não ama a Deus de fato, e se apegam à sua religiosidade apenas na esperança de escapar do inferno.
E digo que não amam a Deus pelo simples motivo de que NÃO CONHECEM a Deus, e é impossível amar quem não se conhece.
É neste ponto que vem a tona a importância da LEI de Deus. Pois a Lei nos revela o caráter e a vontade de nosso Deus.
Ora, a Lei é também manifestação da Graça de Deus aos homens. Infelizmente a cristandade contemporânea entende a Lei como algo pesado, maléfico. Mas o que a bíblia diz é que a LEI do Senhor é perfeita e refrigera a alma (Salmo 19:7) e que Deus nos deu sua Lei para que vivêssemos por ela (Ezequiel 20:11). A Lei não é para a morte, mas para a Vida conforme Paulo também diz em Romanos 7:10, e na sequencia Paulo declara:

“E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” Romanos 7:12.

O que nos leva a morte não é a Lei, mas o Pecado que habita o nosso interior e que nos leva a transgredir os mandamentos de Deus, e para nos livrar da LEI DO PECADO (aquele que habita em nosso interior) que Cristo nos resgatou, não para nos livrar da Lei de Deus, afinal isso seria o maior contracenso do universo: Deus Filho anulando a Lei de Deus Pai.
Se nós cremos que Deus é UM, então Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo estão em unidade perfeita, assim a vontade de Deus Pai é a vontade de Deus Filho, e a Lei de Deus Pai é a Lei de Deus Filho.
E Cristo declara com todas as letras no evangelho de João:

“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” João 14:21

Cristo não veio ao mundo para nos transformar em um povo sem Lei, mas veio nos resgatar da maldição da Lei, ou seja, a morte àqueles que a descumprem. Como todos nós pecamos, todos nós estávamos sujeitos à maldição da Lei que diz:

“Então disse o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro.” Êxodo 32:33
“Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada um morrerá pelo seu pecado.” Deuteronômio 24:16
“Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.” Ezequiel 18:4

Foi por causa dessa condenação que cairia sobre todos nós, porque todos nós pecamos, foi que Cristo morreu em nosso lugar. E nos tornou aptos a sujeitar-nos novamente às Leis de Deus.

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;” Gálatas 3:13

A Lei nos aponta para a Pessoa e Obra de Deus e de Cristo. Portanto devemos amar a Lei e estudar a Lei se nós quisermos conhecer a Deus, pois Deus se revela através dos seus mandamentos.
Quando Paulo escreve aos Colossenses (2:17) que as festividades judaicas (luas novas e sábados [perceba que “sábados” está no plural porque não se refere apenas ao dia da semana mas a todas as festas judaicas que eram também dias de descanso]) eram sombras daquilo que estava por vir: Cristo. Paulo está ligando as leis cerimoniais do povo hebreu à revelação de Cristo. Ou seja, os cerimoniais são sombra de Cristo, Cristo é a essência, mas a sombra mostra Cristo. Portanto quanto mais você conhecer os cerimoniais judaicos que apontam pra Cristo, mais você conhecerá sobre a obra de Cristo.

“Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” Colossenses 2:16-17

Mas quando começamos a entender a Lei dessa forma, nos vem logo a mente: Eu como cristão devo guardar toda a Lei?
Ora, a Lei de Deus mostra o caráter e a vontade de Deus, porém nem todas as leis que temos escritas na Torah são para nossa prática, e o próprio texto limita essa prática.
A Lei pode ser dividida em praticamente em quatro partes: As Leis Morais, Leis Cerimoniais, Leis Civis e Leis de Identidade.
As Leis morais são mandamentos universais que todos devem obedecer e ninguém tem a menor dúvida quanto a isso. Por exemplo: ninguém discute o Não Matarás! É uma lei universal.
As Leis cerimoniais são aqueles rituais que em sua maioria só podiam ser exercidas pelos levitas no templo, e estas nem mesmo os judeus de hoje as cumpre pelo simples motivo de que eles não têm o templo.
Essas leis cerimoniais tipificavam e apontavam para Cristo, para sua obra expiatória na cruz. Por isso não matamos mais animais em sacrifícios a Deus, pois estes sacrifícios apontavam (eram um tipo) para Cristo, e Cristo já veio, e já fez o sacrifício perfeito diante dos céus e da terra.

“Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados.” Hebreus 10:4

As Leis civis são aquelas que tratam das orientações aos Juízes de Israel quando um caso lhes era apresentado, a maioria são relacionadas a litígio entre pessoas, e é aqui que entra o famoso “olho por olho, dente por dente”, que infelizmente vemos errado esse texto, pois ali Deus não está excitando a violência, mas delimitando os limites das penas, ou seja, os juízes de Israel somente poderiam aplicar a pena até aonde a outra parte foi lesada: olho por olho e dente por dente.
Essas leis não são aplicadas a nós, visto que vivemos em uma sociedade que possui leis civis e juízes estabelecidos. No entanto elas nos apontam princípios espirituais da justiça de Deus. Apesar de não serem praticáveis, devem ser estudadas.
E as leis de identidade são aquelas dadas ao povo de Israel por um único motivo, para dar a Israel uma identidade distinta de entre as nações. Esta inclusa nessas leis o uso das franjas nas vestes, o uso do Tefilin amarrado na testa ou na mão, e a própria circuncisão. 
De toda a Lei, o que cabe a nós cumprir como cristãos é o “espírito da Lei”, ou seus ensinos morais. Lembre-se que sobre o “Não Matarás”, Cristo disse que se em teu coração se encolerizar contra teu irmão, você já é réu de juízo.
A prática da Lei apenas em sua forma, sem a prática do “espírito da Lei”, constitui-se em mera ritualidade e religiosidade, que para Deus não tem nenhum valor.
Assim, apesar de não haver a obrigatoriedade do exercício desses mandamentos, todos eles têm a nós cristãos o valor de ensino. E o oposto também é verdadeiro, ou seja, não há nada de errado em um cristão decidir usar chale de oração, tefilins, celebrar um memorial da páscoa, pentecostes e etc. No entanto, mesmo que decida praticar essas coisas, não deve observar a pratica apenas, mas principalmente seu ensino, o "espírito da Lei".
Outro ponto importante que não pode ser deixado de lado é que não existe nenhuma Lei que seja PRECEITO de salvação. Somos salvos pela fé em Cristo, através do arrependimento e confissão de nossos pecados, e isso é fruto de nosso amor por Ele, porque Ele nos amou primeiro. Mas este amor deve nos levar a guardar os seus mandamentos. Portanto não somos salvos pela Lei, mas o salvo tem prazer na Lei do Senhor (Salmos 1:2)
Com relação ao Sábado, mais especificadamente, o Sábado é uma graça! Você poder descansar neste dia, trazendo à memória que este dia reflete a toda a criação, e lembrar que a criação foi também um ato de amor de Deus para conosco, pois mesmo sabendo que iríamos pecar, ele nos chamou a existência, não havendo nenhuma necessidade de nós, pelo contrario, ao nos criar, Cristo foi destinado a cruz.
O entendimento errado que se dá sobre o Sábado é quando damos o enfoque legalista de que neste dia não se pode isso ou aquilo, e isso Cristo combateu abertamente, no entanto também vemos Cristo e os apóstolos usando o Sábado para ensinar nas sinagogas.
Assim, o que gostaria de deixar para sua meditação, é a importância de olhar para as escrituras, para os mandamentos do Senhor com os olhos corretos, a fim de conhecer a Deus, saber o que ele pensa sobre as práticas humanas, saber qual a sua vontade.
Quanto mais conhecemos as Leis de Deus, mais nós conhecemos os nossos pecados, e temos a oportunidade de nos arrepender e sujeitar novamente à Deus.
Devemos conhecer as Leis de Deus, para amar a Deus, e não apenas desejar o “fugir do inferno”.
Pois Ele, e somente Ele é a nossa Vida e Paz.


Comentários

  1. - Os ASD afirmam que aqueles que não guardar o sábado perderá a salvação e invalidamos o sacrifício de Jesus Cristo na cruz do calvário que morreu por nossos pecados, tornando a obra da redenção em vão! (Texto distorcido).
    REFUTAÇÃO! Veja o que a Bíblia diz: Ef 2:8-9. Pois vocês são SALVOS pela GRAÇA, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é DOM de Deus; não vem das OBRAS, para que ninguém se glorie.

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  2. As aliancas de Deus p nós não e para salvação e sim obediência e santificação, qnd enterdmos pq a guarda do sábado seremos abençoado ainda mais, VC está certo tbm

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