Muitos
cristãos insistem em afirmar que a Lei dada por Deus através de Moisés foi
abolida por Cristo através de seu sacrifício. Essa premissa tem origem
principalmente na abordagem do livro de Hebreus sobre a questão cerimonial da
Lei, descriminada principalmente pelo livro de Levíticos, e que tratava dos
serviços dos sacerdotes no Templo de Jerusalém.
No entanto,
alguns extrapolam os limites abordados pelo livro de Hebreus, afirmando que
toda a Lei foi cumprida por Cristo, e que agora os cristãos não possuem mais
Lei a obedecer.
O Novo
Testamento é claro ao afirmar que Jesus não "aboliu", mas sim, veio tornar "pleno" os ritos cerimoniais. Parece uma singela diferença, mas ela
é muito mais profunda do que se imagina.
Neste blog
muito já foi falado sobre este tema, e se quiser aprofundar sobre a validade da
Lei, segue os links:
Mas aqui
neste artigo iremos abordar especificadamente sobre os ritos cerimoniais
constantes na Torá.
Inicialmente
precisamos reforçar em nossa mente um dos principais atributos de Deus: Ele é
imutável:
“Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não
sois consumidos.” Malaquias 3:6.
Entendendo
que Deus não muda, aquilo que era Lei no antigo testamento, continua sendo Lei
no novo testamento, aliás, essa separação entre antigo e novo testamento só
existe para fins didáticos.
O problema é
que sempre que se fala em Lei vem em nossas mentes a visão legalista e
dogmática que todo o ser humano atribui às leis, principalmente as Leis
divinas.
Torá em
hebraico não significa Lei, mas INSTRUÇÃO. É como se através dos seus
mandamentos Deus nos desse instruções de como viver da maneira correta,
considerar os valores corretos, tratar a Deus e ao próximo de maneira correta,
e com isso, vivermos de maneira correta. Por isso Deus disse:
“E dei-lhes os meus estatutos e lhes mostrei os meus juízos, os quais,
cumprindo-os o homem, viverá por eles.” Ezequiel 20:11
Os
mandamentos foram nos dados para nos mostrar a vida e não a morte.
O problema
que temos com o legalismo é condicionar a obediência aos mandamentos com o
perdão dos pecados. Não existe nada nem na Torá, nem nos Escritos, nem nos
Profetas, muito menos no Novo Testamento que ligue a obediência à Lei com a
Salvação ou o perdão dos pecados. Muito pelo contrário, nós vemos que Abraão
foi justificado porque creu em Deus:
“E creu ele no Senhor, e imputou-lhe isto por justiça.” Gênesis 15:6
Outro
problema é que o pecado que habita em nosso interior nos leva constantemente a
desobedecer a Lei, e isso Paulo retrata de forma bem didática em Romanos 7
Assim vamos
perceber outra faceta da Lei, além dela nos instruir quanto ao que é bom e
correto, ela define o que é pecado, como Paulo disse:
“Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. Mas eu não conheci o
pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não
dissesse: Não cobiçarás.” Romanos 7:7
Se não
bastasse isso, a Lei também nos apresenta a culpa para quem transgride as suas
instruções, mostrando as maldições para quem desobedece a Lei.
Então vemos
que a Lei não pode salvar ninguém, nem perdoar pecados, mas ela é especialmente
importante por dois motivos, primeiro porque nos aponta para o que é bom e
correto, e segundo porque nos mostra e nos dá a consciência do pecado, e sem
consciência do pecado não há como haver arrependimento.
Mas além do
aspecto moral, a Lei também nos apresenta um aspecto cerimonial, muito
conhecido pelos sacrifícios e ofertas que eram realizadas pelos sacerdotes no
templo.
Esse aspecto
cerimonial (que também apresenta princípios morais) foi instituído por Deus
para ensinar o povo de Israel sobre a obra expiatória do Messias, e não só a
obra expiatória, mas também sobre o governo de Cristo.
Temos neste
exemplo, além dos sacrifícios feitos no templo as festas anuais como Pessach
(Páscoa), Shavuot (Pentecostes), Sucot (Tabernáculos) e etc. Todas essas festas
possuem ensinos profundos sobre a pessoa de Cristo, sobre sua obra expiatória e
sobre seu governo e sua vinda.
Essas Leis
não foram abolidas, pelo contrario, se tornaram plenas no Messias, ou seja, seu ensino permanece até hoje!
Um exemplo
que quero mencionar com os irmãos é sobre a Lei que ordenava o sacrifício para
a expiação do pecado. Todos nós sabemos que Jesus é o nosso cordeiro, não há
necessidade mais de sacrifícios, pois nosso sacrifício perfeito já foi feito.
Mas se não
formos a Cristo nos mesmos parâmetros estabelecidos pela Lei cerimonial, não
estaremos indo a Cristo com legitimidade.
A Lei dizia
que quando alguém pecasse, deveria tomar um cordeiro novo, de um ano, o mais
perfeito de todo o seu rebanho. Deveria levar esse cordeiro até o sacerdote,
impor as mãos sobre o animal e confessar o seu pecado. Neste momento o
sacerdote cortava o pescoço do animal e o seu sangue derramado. Aquele sangue
era recolhido e apresentado diante do altar para expiação do pecado, e aquele pecador
confiava no sangue do animal e sentia-se perdoado.
Primeiro
vemos a necessidade de CONFISSÃO. A Lei nos ensina que para chegarmos a Cristo
devemos confessar os nossos pecados. A confissão não é feita de qualquer forma,
mas é feita ao Sacerdote, a aquele que pode interceder por nós junto ao Pai.
Segundo, a
visão de um animal inocente, um filhote ainda, tendo seu sangue derramado por
causa da confissão do pecado, deveria suscitar no coração do pecador o
sentimento de que seu pecado levou um inocente à morte. Quando olhamos para
nossos pecados devemos ter em mente que alguém muito superior a animais, o
Filho de Deus, sofreu e morreu por esse pecado. Essa consciência deve nos levar
a lutar e rejeitar o pecado.
Por fim,
devemos ter a confiança de que o Sangue de Jesus Cristo foi suficiente para
expiar nossas culpas e nos dar a garantia de Perdão.
Perceba que a
Lei cerimonial nos ensina sobre como chegar à expiação realizada pelo Messias, por isso não foi abolida.
O que a carta
endereçada aos Hebreus nos ensina é que a Nova Aliança feita por Cristo é
superior à antiga aliança, e o sacerdócio de Cristo é superior ao sacerdócio
levítico, mostrando que este era apenas figura do sacerdócio pleno do Messias.
Com isso
corrobora o ensino de Paulo que diz que a Lei serve de “aio” que conduz à
Cristo:
“De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo,
para que pela fé fôssemos justificados.” Gálatas 3:24
E ainda aos
Colossenses diz:
“Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” Colossenses
2:17
Com isso,
tanto Paulo como o escritor de Hebreus está nos ensinando que a Lei não tem
sentido em si mesma, mas que apontam para Cristo. E somente em Cristo podemos
alcançar a plenitude daquilo que a Lei apresenta.
Quando Paulo
diz que os sábados, luas novas e demais festas estipuladas pela Lei são
SOMBRAS, não está falando de um aspecto negativo, muito pelo contrário, está
dizendo que essas coisas delimitam e nos mostram a IMAGEM de Cristo.
Porém, essas
festas não tem sentido algum se removermos o CORPO que é Cristo.
Portanto, a
Lei permanece plena principalmente a nós que temos crido que Jesus é o Cristo
de Deus. Aliás, um dos aspectos da chamada “Nova Aliança” feita através de
Jesus é justamente tornar a Lei Plena em nossos corações, conforme foi
profetizado por Jeremias:
“Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles
dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu
coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” Jeremias 31:33
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