Infelizmente
as igrejas têm errado de duas formas sobre a questão da Lei e da Graça. Ou o
grupo teológico segue para uma Graça que anula a Lei, ou ela tende para uma Lei
que anula a Graça.
No artigo (http://fesalvacaoeobras.blogspot.com.br/2014/12/qual-diferenca-entre-lei-e-graca.html)
tratamos sobre a distorção de uma “Graça que anula a Lei”, e recomendamos sua
leitura antes de prosseguir neste artigo.
Neste artigo
trataremos da distorção em que a “Lei anula a Graça”. É aquele pensamento de
que é necessário cumprir os mandamentos para alcançar ou manter-se na Graça.
Será que se eu descumprir os mandamentos, eu posso perder a salvação?
É necessário
entender, como foi bem explicado no artigo anteriormente citado, que a Lei é
também manifestação da Graça, a Lei sem a Graça leva a morte, e a Graça sem a
Lei fica sem graça. Ambas, Lei e Graça, andam juntas desde sempre.
Vejamos o pai
Abraão.
Quando Abraão
foi JUSTIFICADO por Deus, ele nem era circuncidado ainda.
“E creu ele no Senhor, e imputou-lhe isto por justiça.” Gênesis 15:6 (a
circuncisão de Abraão está dois capítulos a frente, em Gênesis 17).
O crer de
Abraão o levou a obedecer a Deus, fazendo a aliança com o Eterno, e logo após,
a circuncisão, que é o sinal da aliança entre Deus e a descendência de Abraão.
Mas o crer de Abraão não o impediu de pecar. No capítulo 16 ele coabita com
Agar gerando a Ismael, e no capítulo 20 ele nega que Sara é sua esposa enquanto
peregrinava na terra de Gerar. No entanto, o pecado de Abraão não o levou a
cair da Graça de Deus, nem o desmereceu como Patriarca.
O que a Torá
nos instrui com isso?
A JUSTIFICAÇÃO é mediante a FÉ e não à
obediência à Lei.
Ora, se a
justificação é mediante a FÉ, e não pela obediência à Lei, porque então a Lei
foi dada? Paulo nos ensina muito sobre isso:
“Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem
a promessa tinha sido feita; e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro.” Gálatas
3:19
A Lei foi-nos
apresentada por causa dos pecados, para que o pecado fosse devidamente
estabelecido e reconhecido, assim como também está em Romanos:
“Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. Mas eu não conheci o pecado senão pela lei;
porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não
cobiçarás.” Romanos 7:7
A Lei por si
mesma não tem poder algum para nos aperfeiçoar, visto que nós estamos
contaminados pelo pecado que habita o nosso interior. Toda a vez que a Lei nos
é apresentada, o pecado que habita em nosso interior se manifesta, nos tentando
a transgredir o mandamento:
“Mas o pecado, tomando ocasião
pelo mandamento, operou em mim toda
a concupiscência; porquanto sem a lei estava morto o pecado. E eu,
nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo
o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri. E o mandamento que era para
vida, achei eu que me era para morte. Porque
o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou, e por ele me matou.”
Romanos 7:8-11
Por acaso
Paulo está negando a importância da Lei ou denegrindo a Lei? De maneira
nenhuma, mas para a SALVAÇÃO ela se torna completamente inútil. Não há poder
nenhum de justificação na Lei, pois nós somos incapazes de cumprir toda a Lei.
E mesmo que você venha a se dedicar e cumprir certos aspectos da Lei, se caso
você falhar em um aspecto, se tornará culpado de toda a Lei, como Tiago nos
ensina:
“Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se
culpado de todos. Porque aquele que disse: Não cometerás adultério,
também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares,
estás feito transgressor da lei.” Tiago 2:10-11
Ora, isso que
os apóstolos nos ensinaram não é uma novidade do Novo Testamento, desde sempre
o justo foi salvo pela sua FÉ em Deus, como bem disse Habacuque:
“Eis que a sua alma está orgulhosa, não é reta nele; mas o justo pela sua fé viverá.” Habacuque
2:4.
E exemplos
disso não nos falta, como Sete, Noé, Enoque, Sem, Abraão, Isaque e Jacó, todos
eles foram chamados justos não por suas obras, mas por sua FÉ.
Veja em que
situação Adonai aparece a Jacó, no sonho da escada de Betel. Capítulos anteriores
ele havia ferido ao menos três dos dez mandamentos, cobiçando a primogenitura
do irmão, mentindo e desonrando seu pai. Não obstante a isso veja as palavras
de Adonai ao pai Jacó:
“E eis que o Senhor estava em cima dela, e disse: Eu sou o Senhor Deus
de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei
a ti e à tua descendência; e a tua descendência será como o pó da terra, e
estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas
todas as famílias da terra; e eis
que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a
esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado.”
Gênesis 28:13-15
Corroborando
com todo esse ensino que a Torá nos trás, os apóstolos ensinaram:
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós,
é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” Efésios 2:8-9
“Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos
discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? Mas cremos que
seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também.” Atos
15:10-11
Ora, a
Salvação é um favor imerecido, a Graça concedida através do sacrifício perfeito
de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que se fez homem, para receber em sua carne a
culpa de nossas transgressões, e tendo vivido como homem, em tudo foi tentado,
mas sem pecado, para que fosse feito JUSTO e JUSTIFICADOR de seus irmãos, e
Deus o RESSUSCITOU dentre os mortos, tornando-o SUMO SACERDOTE de uma NOVA e
SUPERIOR ALIANÇA, e agora temos um perfeito sacerdote que pode interceder por
nós junto ao Pai, Jesus Cristo homem.
Logo, qual é
então o papel da Lei? Foi abolida? Perdeu-se a necessidade de Lei? De maneira
nenhuma.
A Lei tem
hoje o papel que sempre teve:
“De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos
justificados.” Gálatas 3:24
A Palavra “aio”
neste texto também pode ser traduzida como TUTOR, ou INSTRUTOR. Ora a Lei nos
ensina e nos aponta para Cristo. Ela nos ensina sobre o caráter de Deus e nos
apresenta a maneira como Deus quer que vivamos.
A obediência
a Lei me traz uma melhor qualidade de vida, e um nível superior de relacionamento com o próximo e com Deus.
Lembre-se que “Torá” não é “Lei”, mas “instrução”.
No entanto,
sendo a Lei aquilo que define o pecado, e que me aponta para a vontade de Deus,
e me instrui no melhor caminho para obter a qualidade de vida, devo obedecê-la
para permanecer salvo? De maneira nenhuma, veja o que Paulo diz:
“Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio.” Gálatas
3:25
A Lei nos
mostra que somos pecadores, e que por nós mesmos não podemos nos salvar, mas a
Lei também mostra que por um sacrifício, o nosso pecado pode ser expiado. Logo,
o que a Lei nos ensina, é que devemos confiar no sacrifício substitutivo, que
figurava o sacrifício perfeito do Messias.
Assim a Lei
nos aponta para a FÉ na obra do Messias, e uma vez alcançado essa FÉ, não
devemos voltar a confiar em nossa própria capacidade de obedecer a Lei, pois se
assim o fizermos, iremos naufragar.
Então uma vez
tendo fé podemos ter uma vida dissoluta que nunca perderemos a salvação?
Absolutamente
NÃO!
Se pelo
entendimento da Lei descobrimos que somos transgressores, e que por causa dos
nossos pecados Cristo teve que padecer na cruz, e uma vez alcançando a FÉ, eu
confesso a Jesus como meu Senhor
e Salvador, como posso ainda
permanecer vivendo dissolutamente amando o pecado?
Assim a FÉ e
o AMOR a Deus nos leva a procurar viver da melhor maneira possível em
conformidade com a Lei, mas em hipótese alguma essa motivação tem o viés de
SALVAÇÃO, pois a SALVAÇÃO já foi alcançada pela FÉ.
O Salvo procura obedecer a Lei conforme
tem entendimento da Lei, e com sabedoria, porque AMA a Deus, e não para ser
salvo. Por isso que os apóstolos no concílio de Jerusalém não impuseram sobre
os gentios nenhuma observação à Lei a não ser os quatro preceitos básicos:
"Por isso julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os
gentios, que se convertem a Deus. Mas escrever-lhes que se abstenham das
contaminações dos ídolos, da fornicação, do que é sufocado e do sangue. Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em
cada cidade quem o pregue, e cada sábado é lido nas sinagogas.” Atos
15:19-21
Segundo o
entendimento dos apóstolos, a mesma FÉ que levou os gentios a se converterem a
Deus, conforme fossem adquirindo entendimento sobre a Lei, iriam aplicar em
suas vidas conforme fosse possível, não para que fossem salvos, mas justamente
porque já tinham sido salvos.
Esse
entendimento corrobora para a conclusão de Paulo sobre essa mesma questão,
quando ele escreveu aos Gálatas:
“Digo, porém: Andai em Espírito,
e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra
o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que
não façais o que quereis. Mas, se sois
guiados pelo Espírito, não estais
debaixo da lei...
...Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei.” Gálatas 5:16-18; 22-23
Ora, uma vez
tendo crido, e recebido o Espírito Santo da promessa, este mesmo Espírito é que
irá ESCREVER as Leis de Deus no nosso interior e em nosso entendimento, pois é
este o papel da Nova Aliança:
“Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles
dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no
seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e
eles serão o meu povo.” Jeremias 31:33
Perceba que é
o ingresso à Nova Aliança que nos torna aptos a compreender, entender e
obedecer à Lei e não o contrário. É porque fui feito participante da Nova
Aliança que tenho condições de obedecer à Lei.
Então porque
como cristão devo me preocupar em estudar a Torá e assimilar seus princípios morais,
e procurar praticá-los em minha vida, se eu já estou salvo?
Jesus nos
ensina isso:
“Vós sois o sal da terra;
e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos
homens.
Vós sois a luz do mundo;
não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a
candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que
estão na casa.
Assim resplandeça a vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso
Pai, que está nos céus.
Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir.
Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um
jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido.
Qualquer, pois, que violar um
destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém,
que os cumprir e ensinar será
chamado grande no reino dos céus.
Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e
fariseus, de modo nenhum entrareis no
reino dos céus.” Mateus 5:13-20
Jesus nos
ensina que somos SAL da terra e LUZ do mundo, se não procurarmos ser zelosos
para com esse chamado, simplesmente não haverá razão em nossa existência.
Estamos
colocados nesse mundo por uma razão, e essa razão não é satisfazer a nossa
vontade, mas a vontade daquele que nos chamou de um mundo de pecados para sua
maravilhosa GRAÇA.
Necessitamos
ser zelosos no estudo e na prática (com entendimento) da Palavra de Deus, para
podemos TESTEMUNHAR corretamente sobre QUEM É O NOSSO DEUS, sobre os seus princípios eternos, e sobre sua VONTADE
PARA O HOMEM.
Veja, em
nenhum momento Jesus disse que deixaria de ser salvo o que não obedecesse os
mandamentos, Ele afirma que aquele que “que violar um destes mandamentos, por
menor que seja, e assim ensinar aos homens, será
chamado o menor no reino dos céus”, e não diz que ficará “FORA DO REINO”.
Em
contrapartida ele diz que “aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus”.
Ou seja, em nenhum momento a obediência aos mandamentos está ligado ao perder a
salvação, mas em recompensas no mundo vindouro.
Mas e quanto ao
“ser lançado fora e pisado pelos homens”?
Ora, é a consequência
natural daquele “cristão relaxado”. A sua vida se torna uma vida sem sentido e
de sofrimentos, pelas consequências de suas ações.
E quanto ao “se
a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis
no reino dos céus.”?
Ora, o erro
daqueles escribas e fariseus era justamente terem a salvação pelas obras da
Lei. Se caso a sua justiça se resume em buscar por seus próprios esforços ser
justo diante de Deus, você nunca entrará no reino dos céus, pois não
compreendeu o ensino fundamental da Torá: “A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ”.
Há apenas uma
forma de alguém perder sua salvação: se perder o seu amor a Deus, voltando a
amar o pecado.
Todos nós
pecamos, mas se...
“...pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento
da verdade, já não resta mais sacrifício
pelos pecados, mas uma certa expectação
horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.” Hebreus
10:26-27
Este “voluntariamente”
implica não em cometer um pecado consciente, mas implica na negação da Verdade
de Deus, em voltar a amar o pecado. Quando aquele que conheceu a verdade,
experimentou a GRAÇA de Deus, conscientemente prefere viver uma vida de
pecados, porque ama e se deleita no pecado, creio ser muito difícil este voltar
para a Graça.
João também
nos diz:
“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando; antes o guarda aquele que nasceu de Deus, e
o Maligno não lhe toca.” 1 João 5:18
Assim, o que
importa para a salvação não é as suas obras, mas onde está o seu coração. Em
última instância, o que condenará o homem não é meramente o seu pecado, mas o
rejeitar a Deus por amar o pecado:
“E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes
as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.” João 3:19
Ao final
deste estudo, uma única pergunta deve estar sendo feita em sua mente neste
momento: Onde está o meu coração?
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