A Graça e o compromisso



"Ouve, ó Israel: hoje tu vais passar o Jordão para entrares para desapossares nações maiores e mais fortes do que tu, cidades grandes e muradas até o céu; um povo grande e alto, filhos dos anaquins, que tu conhecestes, e dos quais tens ouvido dizer: Quem poderá resistir aos filhos de Anaque?
Sabe, pois, hoje que o Senhor teu Deus é o que passa adiante de ti como um fogo consumidor; ele os destruirá, e os subjugará diante de ti; e tu os lançarás fora, e cedo os desfarás, como o Senhor te prometeu.
Depois que o Senhor teu Deus os tiver lançado fora de diante de ti, não digas no teu coração: por causa da minha justiça é que o Senhor me introduziu nesta terra para a possuir. Porque pela iniqüidade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti.
Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela iniqüidade destas nações o Senhor teu Deus as lança fora de diante de ti, e para confirmar a palavra que o Senhor teu Deus jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó.
Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o Senhor teu Deus te dá esta boa terra para a possuíres, pois tu és povo de dura cerviz." Deuteronômio 9:1-6

Deus introduziu Israel na terra de canaã, conforme havia prometido a Abraão, Isaque e Jacó. Israel foi retirado do Egito pelo poder de Deus, e pelo mesmo poder entrou na terra prometida.
Israel não teria nenhuma condição de sair do Egito ou entrar na terra prometida por sua própria força. Isso não estava ao alcance de Israel. Foi a Graça e a misericórdia de Deus que possibilitou Israel entrar na terra prometida.
Quando atentamos para toda a história do Êxodo até a posse da terra, vamos perceber os seguintes passos:
- Israel clamou por sua liberdade.
- Deus enviou o libertador.
- Israel seguiu a Deus até o Sinai.
- Deus revelou sua Torá.
- Israel teve de aprender a obediência.
- Deus introduziu Israel na sua promessa.
Perceba que Deus fez aquilo que era impossível à Israel, operando o milagre, ao passo que também esperou de Israel que se esforçasse em obedecê-lo.
Aqui temos um importante aspecto da Graça de Deus: não existe Graça sem compromisso.
Lembre-se que a geração que saiu do Egito não entrou na terra prometida por causa de seus pecados e rebeliões, e por isso Deus forjou uma geração que nasceu no deserto e que estava disposta a obedecer. E, a esta geração, Deus confirmou sua promessa.
Portanto, por sua Graça Deus faz aquilo que nos é impossível, mas não tira de nós a responsabilidade de fazer aquilo que nos compete fazer.
Temos que entender que pela Graça Deus deu a Liberdade a Israel, deu a nuvem para proteger do sol escaldante, deu a coluna de fogo para aquecer na noite, deu água para os sedentos e maná para o povo comer.
Pela Graça Deus deu a Israel que seus vestidos não envelhecessem, nem que as sandálias desgastassem.
Mas a maior demonstração da Graça de Deus para com Israel foi ter-lhes revelado a sua Lei, a sua Torá.
Através da Torá Israel pôde então conhecer a Deus e conhecer como poderiam servi-Lo de maneira a agradá-Lo.
Através da Torá veio a esperança do Messias, a esperança da restauração do mundo e das nações, através da Torá veio o conhecimento da natureza pecaminosa do homem, e da sua necessidade de amar a Deus.
Israel nunca poderia ter conhecido a Deus se Ele não os tivesse revelado sua Torá, portanto a revelação da Lei é demonstração da Graça de Deus para com seu povo.
Se não existe Graça sem compromisso, então é a obediência à Lei que nos possibilita permanecer na Graça.
A Graça não é fruto da obediência à Lei, se assim fosse não seria Graça. Mas ao passo que somos agraciados por Deus, somos compelidos a uma vida de compromisso, para que não caiamos da Graça.
Por isso que a revelação da Torá a Israel foi uma demonstração da Graça de Deus para com seu povo. A obediência nos mantém na Graça.
Mas Deus alerta Israel para que não colocasse em seu coração que a entrada na terra prometida era fruto da justiça de Israel.
Essa advertência se faz necessário a todos que, por algum tempo, esteja vivendo em compromisso com Deus, e desfrutando de sua Graça.
Ao passar dos anos na caminhada com Cristo, ao termos já vencido alguns pecados, e alcançado algum nível de conhecimento da Verdade, somos tentados a atribuir algumas vitórias ao nosso estilo de vida, à nossa devoção, ou à nossa própria justiça.
Esse erro pode ser fatal para qualquer um!
Como dissemos, a obediência à Deus de fato nos conserva na Graça, mas antes de enxergar a "nossa justiça" devemos reconhecer que tudo é fruto da Graça de Deus, e não de nosso esforço.
Quando somos libertos da escravidão do pecado, somos levados ao conhecimento da Lei de Deus, que nos revela nossas debilidades, e aponta para a Santidade de Deus. E então buscamos a Deus para obter perdão, e para sermos santificados por Deus.
Conforme permanecemos na obediência ao Senhor, desfrutamos de sua presença e cuidado. E o Espírito do Senhor opera em nossos corações de maneira que a Lei passa a ser escrita em nós.
Assim, tanto o conhecimento como a prática da Lei depende exclusivamente da Graça de Deus a nosso favor, sendo dEle a Justiça e não nossa.
Quando atribuímos a nós mesmos a justiça, negamos nossa necessidade da Graça, mesmo que parcialmente, e imediatamente ferimos o maior dos mandamentos.
Deus exige de nós apenas uma coisa, que seja dEle o nosso coração. A obediência a qualquer mandamento passa por esse princípio. Deus não se agrada de obediência mecânica, desassociada do coração voluntário.
Ao atribuirmos justiça a nossos feitos perdemos o único mecanismo capaz de validar nossas obras como justas: o coração que depende de Deus.
Portanto, se você tem buscado ser um servo fiel e obediente, saiba que satanás tentará fazê-lo pecar em seu coração, levando-lhe a atribuir justiça a suas obras.
Quando isso acontecer, recorde-se de que é pela Graça de Deus que você foi liberto do pecado, que é o Espírito de Deus que te revela a Santa Lei, e que tua natureza é caída, pecaminosa e falha, é a Graça de Deus que te permite ser obediente.
Tribute a Deus a Honra, a Glória e o Louvor por todas as suas misericórdias. Agradeça-o por sustentá-lo, perdoando seus pecados, e operando em você a santificação. Pois esse é um dos propósitos de Deus em nos agraciar: produzir em nós um coração dependente e agradecido a Ele.


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