O mandamento mais importante da Lei.

"Disse mais o Senhor a Moisés e a Arão: Este é o estatuto da Torá que o Senhor ordenou, dizendo: Dize aos filhos de Israel que te tragam uma novilha vermelha sem defeito, que não tenha mancha, e sobre a qual não se tenha posto jugo:" Números 19:1-2

Neste texto temos o relato interessante de um estatuto dado por Deus a Moisés. O que mais chama a atenção logo no inicio deste texto é a expressão "Este é o estatuto da Torá". Isso no original soa algo como "o estatuto mais importante da Torá" ou "o estatuto que resume a Torá".
Todos os cristãos sabem que Jesus elencou como o mandamento mais importante da Torá o "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e ao próximo como a ti mesmo".
Aqui temos um aparente problema, pois, o que um mandamento tão nobre, como amar a Deus e ao próximo, de forma tão intensa e ímpar, teria a ver com um estatuto aparentemente tão estranho.
Primeiro é necessário salientar que existe uma diferença entre mandamento e estatuto na Torá.
Mandamentos estão relacionados à princípios morais claramente inteligíveis ao homem, como por exemplo: "Não matarás". Ninguém discute a importância e validade de tal mandamento.
Estatutos, ou "Hukat" como está no hebraico, são ordenanças dadas por Deus que nem sempre é possível ao homem estabelecer uma lógica para tal prática. Um exemplo de "Hukat" está na ordenança de Deus para que os israelitas fizessem franjas em suas vestes, ou a ordenança para não comerem animais que não tivessem a pata fendida e ou não ruminassem.
A lógica por trás destes preceitos não está tão explícita, não é possível estabelecer exatamente o porquê destas ordenanças, por isso mesmo eles são chamados de mandamentos "suprarracionais", ou seja, estão acima da nossa capacidade de compreendê-los.
Esta "Hukat" descrita em Números 19 é especialmente importante pelo seu enunciado "Este é o estatuto da Torá". E pela Graça de Deus podemos aprender princípios profundos com este estatuto.
Esse estatuto trata do sacrifício de uma novilha vermelha que era sacrificada fora do arraial, e não no altar como os demais sacrifícios.
E após ser sacrificada, era queimada até sobrarem apenas cinzas. Essas cinzas eram misturadas em uma porção de água, retirada de algum córrego, ribeiro ou rio (água corrente), e esta água com as cinzas do sacrifício eram chamadas de "águas da purificação", usada em cerimoniais de purificação do povo de Israel.
Vemos ainda em Números, capítulo 31, o sacerdote Eleazar utilizando essas "águas da purificação" para purificar os israelitas que voltavam da batalha contra os midianitas.
Segundo a Torá, eram diversas situações que poderiam fazer com que um homem ficasse "imundo", e em todos esses casos as "águas da purificação" eram necessárias para que o homem "imundo" pudesse ser reincorporado ao arraial, e até mesmo adorar a Deus no Tabernáculo.
O detalhe interessante neste estatuto é que tanto o sacerdote, como todos os que auxiliavam no cerimonial, ficavam imundos até o fim do dia por ter participado do cerimonial.
E é esse detalhe que chama a atenção e trás um profundo ensino, totalmente alinhada com o maior mandamento da Torá.
Para que o povo pudesse ter acesso às "águas da purificação", era necessário que o sacerdote e demais ministros se fizessem imundos.
Quando olhamos para o nosso maior exemplo; o Senhor Jesus Cristo esvaziou-se de toda a sua glória para se fazer maldição em nosso lugar, propiciando a nós o único caminho para sermos purificados e reconciliados com a comunidade dos santos e com o Pai de nosso Senhor.
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro;” Gálatas 3:13
O amor e a benevolência do Pai se manifestaram na humilhação do Filho, se fazendo "imundo" em nosso lugar.
Mas os ensinos não param por aqui. Não apenas o Sacerdote se fazia imundo para propiciar purificação a outros, mas todos quantos ajudavam naquele cerimonial também se faziam imundos.
Todos aqueles que são discípulos do Messias de Israel, devem seguir os passos dEle. Nós também devemos nos fazer "imundos" diante dos olhos dos homens, para levar as "águas da purificação", o evangelho de Nosso Senhor, a nossos semelhantes.
O que este estatuto nos aponta é que o amor ao próximo é acompanhado da abnegação.
Os apóstolos nos deixaram claros mandamentos que apontam para o mesmo fim:
"Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?" 1 Coríntios 6:7b
"Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros." Romanos 12:10
"Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor," Efésios 4:2
Assim, vamos ver que o "Estatuto da Torá" está intimamente ligado com o "Mandamento da Torá". O Amor à Deus acima de todas as coisas é evidenciado no amor ao próximo como a si mesmo.
Ao abnegar-se em favor de seu semelhante, o discípulo de Jesus está reconhecendo que o amor do Pai por seu semelhante é igual ao amor do Pai por si mesmo.
Reconhecendo a nossa igualdade diante do Criador, que de igual modo ama a todos os filhos, estamos também nos sujeitando à sua vontade, provando nosso amor a Ele.

Que pelo seu Espírito possamos ser capacitados a ter a instrução de Adonai em nossos corações, frutificando em toda boa obra, para a glória de nosso Pai.

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