SER ou TER?

“E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.” Gênesis 12:2.

Estamos inseridos em uma sociedade de cultura imediatista e materialista, que valoriza muito o “ter”.

Infelizmente somos influenciados por essa cultura, e, podemos perceber essa influência em nossas escolhas.

Quando escolhemos nossa profissão, o bairro em que moramos, os lugares que frequentamos, mesmo inconscientemente, nós somos influenciados por nossa cultura.

E pior, essa cultura tem influenciado muito a maneira como relacionamos com Deus e expressamos nossa fé em Deus.

Mesmo excluindo os já famigerados núcleos “evangélicos” que apregoam a “teologia da prosperidade”, uma boa parcela daqueles que servem a Deus manifestam essa influência negativa de nossa cultura em suas orações, em seus cânticos, em suas esperanças e expectativas.

Ouso a dizer com segurança que mesmo aqueles que frequentam igrejas bíblicas, que se preocupam com a restauração da fé no contexto bíblico, estão sujeitos a tal problema.

E o maior problema é que valorizamos mais o “ter” do que o “ser”!

Encontramos no texto que selecionamos acima o trecho em que Adonai chama a Abrão para sair de sua terra, do meio de sua parentela, e seguir a Deus por uma terra desconhecida, que seria entregue à sua posteridade, uma grande e poderosa nação.

O que Adonai promete a Abrão é que o abençoaria e que ele TERIA muitas bençãos?

Não, não é isso que encontramos no texto, o que encontramos é que Adonai o abençoaria de forma que Abrão SERIA uma benção!

A Torá nos instrui que mais vale o SER do que o TER, e que mesmo Abrão recebendo muitas bênçãos de Adonai, essas bênçãos o responsabilizaria em SER ainda mais bênção.

Abrão foi chamado no capítulo 12 por Deus, mas não se tornou uma grande nação no capítulo 13. Desde o chamado de Abrão ele teve de passar por muitas provas. Abrão teria de demonstrar que estava realmente desejoso de SER a bênção.

Claro que Adonai conhecia o coração de Abrão, e sabia de sua fidelidade. Portanto quando Deus nos coloca em prova, o objetivo é que aquilo que está em nosso coração seja exposto e apresentado em obras.

Dentre as provas que Abrão passou, podemos destacar uma que foi bem especial.

No capítulo 18 de Genesis encontramos o agora Abraão recebendo a visita de Adonai e mais dois anjos. Adonai anuncia que em um ano nasceria Isaque, o filho da promessa, e depois Adonai segue em direção a Sodoma e Gomorra, dizendo que o pecado daquelas cidades tem subido até os céus.

Sodoma e Gomorra eram cidades conhecidas por sua depravação e imoralidade. Um povo blasfemo, idólatra, que desprezavam a Deus, eles eram materialistas, violentos, dados ao vinho e às orgias.

Deus estava colocando novamente Abraão à prova! E temo que se muitos daqueles que hoje professam sua fé no Messias de Israel, que se julgam muito abençoados, detentores de superior aliança, e que creem ter o coração segundo o coração de Deus, diante da mesma prova que foi posta a Abraão, seriam reprovados.

Imagine que Deus visitasse você e anunciasse que derramaria grande praga e destruição sobre todos os terroristas do Estado Islâmico, e todos seriam condenados ao inferno. Qual seria seu sentimento para com aqueles milhares de assassinos, violentos, insolentes e blasfemos? Como você ousaria responder a Deus? Será que de seus lábios sairia alguma palavra de alívio, ou talvez de incentivo?

“Oh Senhor! Que bom que ouviste nossas orações e vingarás agora o sangue dos mártires que foram brutalmente assassinados por causa de teu Nome!”. Será que essas seriam suas palavras a Deus?

Abraão passou no teste que lhe foi imposto, fazendo justamente o oposto do que muitos de nós faríamos.

Abraão ousou responder a Adonai: “E chegou-se Abraão, dizendo: Destruirás também o justo com o ímpio?” Gênesis 18:23.

Depois deste momento o que vemos é Abraão colocando a sua própria vida em risco diante de Adonai para interceder pelos pecadores, blasfemos e assassinos de Sodoma e Gomorra.

Abraão clama pela misericórdia de Deus para que se ao menos naquela cidade houvesse dez homens justos, Deus não despejasse de sua ira destruindo Sodoma e Gomorra.

Porque Abraão fez isso? Porque ele colocou em risco sua vida, sabendo que era “pó e cinza”, intercedendo por um povo terrível?

Porque ele sabia que havia sido chamado por Deus para SER UMA BÊNÇÃO! Ele sabia que o propósito de Adonai era que, por intermédio dele, as famílias da terra fossem abençoadas.

Sabemos a história, que não foram encontrados naquelas duas cidades nem mesmo dez homens justos. Deus despejou de sua ira sobre Sodoma e Gomorra, livrando apenas Ló e suas duas filhas.

Mas Abraão nos deixou um grande exemplo, e aquilo que havia em seu coração se manifestou em obras e testemunho que até hoje nos fala.

Temos recebido de Jesus Cristo o mesmo ensinamento:

“Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.” Mateus 5:44,45

O mesmo Jesus também nos diz:

“Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.” Mateus 5:14,15.

À semelhança de Abraão, todos aqueles que creem no Filho do Deus Vivo, são chamados para SEREM luz e bênção neste mundo caído e tenebroso. Somo chamados a ter em nós mesmos o mesmo sentimento do Messias de Israel que se esvaziou de sua glória para se fazer carne e sofrer pelos pecados de toda a humanidade.

Temos sido chamados por Adonai para SER a bênção e não para TER. E lembre-se que todas as bênçãos e experiências que você tem tido com o Senhor te torna ainda mais responsável em SER!

Que Adonai nos abençoe, dando-nos da sua instrução, escrevendo sua Torá em nossos corações e fazendo de nós a bênção que este mundo tanto precisa!