Ainda mais um pouco sobre Gálatas!



"Mas, antes que viesse a fé, estávamos guardados debaixo da lei, encerrados para aquela fé que se havia de revelar. De modo que a lei se tornou nosso aio, para nos conduzir a Cristo, a fim de que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio." Gálatas 3:23-25

Com base neste texto muitos teólogos afirmam que não devemos mais nos preocupar com a Torá, que agora o que importa é crermos em Jesus. A Lei é coisa do passado, coisa da antiga aliança.
Será que é exatamente esse ensino que podemos extrair destes versos?
Paulo escreveu sua carta aos Gálatas de forma simples e direta, não aprofundou em temas rebuscados, e isso por um motivo latente: Paulo precisava chamar a atenção dos Gálatas para um erro sério que eles estavam incorrendo.
Paulo escreveu sua carta de forma simples e direta e é assim que devemos lê-la.
Como já foi falado nos dois artigos anteriores, Paulo estava combatendo o legalismo, ou seja, a premissa de que a obediência à Torá era necessária para a Salvação. Esse engano terrível estava destruindo a fé dos Gálatas.
Nos artigos anteriores discorremos bastante sobre esse problema, e Paulo, neste capítulo 3 está demonstrando como a justificação veio pela PROMESSA, e não pela Torá.
Neste momento ele faz a declaração de que: "mas, antes que viesse a fé, estávamos guardados debaixo da lei, encerrados para aquela fé que se havia de revelar."
O que Paulo está relatando é muito simples. Desde a queda de Adão, Adonai fez a promessa de uma redenção. A promessa feita inicialmente a Adão fora confirmada a Abraão, depois, por intermédio de Moisés, foram estabelecidos cerimoniais e festas que apontavam para esta promessa. Assim, toda a Torá aponta para a promessa de redenção.
No entanto, apesar de sabermos pela Torá que haveria uma redenção e uma expiação pelos pecados, não sabíamos ainda como nem quando seria. E apesar da Torá anunciar sobre o Messias, não sabíamos ainda quem Ele seria.
Então a nossa fé estava guardada na Torá, no que ela apontava sobre o que haveria de acontecer, mas sem, contudo, sabermos exatamente como iria acontecer.
Quando Jesus se revelou e conhecemos a sua obra redentora, e então pudemos olhar estupefatos para a Torá, e vimos como ela se cumpriu com perfeição na pessoa de Jesus o Messias.
Por isso, agora, não estamos mais presos a apenas às indicações que a Torá dava sobre a redenção prometida, mas agora olhamos para a vida de Jesus e atestarmos que a redenção se manifestou. Isso nos conduz a uma fé completa.
Por isso dizemos que o Messias trouxe mais luz sobre a Torá, tornando-a plena.
Mas isso não anula ou diminui a Torá, pelo contrário, torna-a ainda mais relevante. Agora que a obra redentora do Messias foi manifestada, ao lermos na Torá os mandamentos que falam sobre essa expiação e redenção, tenho uma visão mais clara tanto da Torá quanto da obra do Messias. E isso se traduz em um maior conhecimento de Adonai, e uma fé mais plena.
Neste sentido, as palavras de Paulo na carta aos Colossenses ganham novos contornos.
"Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é de Cristo." Colossenses 2:16-17
Paulo está falando de elementos da Torá: as festas e o sábado. E devemos notar que ele diz: ninguém vos julgue pelo comer e beber; e não: ninguém vos julgue pelo NÃO comer e NÃO beber.
Nos versos anteriores Paulo afirma que os Colossenses haviam sido circuncidados por Jesus, na circuncisão do coração, e depois complementa: ninguém vos julgue pelo comer e beber.
Diferentemente do que muitos pensam Paulo não está a proibir, mas a encorajar os Colossenses a participarem das festas juntamente com o povo de Israel, porque, segundo a Torá, essas festas só poderiam ser praticadas por quem fosse circuncidado, e ao declarar que aqueles gentios haviam sido circuncidados por Jesus na circuncisão do coração, Paulo está atestando a legalidade de esses gentios participarem das festas estabelecidas pela Torá. Festas essas que falam sobre o Messias, tanto sua obra na cruz, como seu retorno. São sombras, ou seja, imagem do corpo do Messias.
Paulo encoraja os Colossenses a participarem dessas festividades estabelecidas pela Torá, mas também adverte: mas o corpo é do Messias!
Em outras palavras podemos entender Paulo dizendo: vocês têm a liberdade para celebrar as festas estabelecidas pela Torá, mas saibam que essas festas não possuem valor nelas, mas nAquele para quem elas apontam.
Ao mesmo passo em que o apóstolo encoraja os crentes a participarem das festividades, exorta a colocar a Torá dentro do contexto correto, apontando para o Messias.
Ao celebrar pessach(páscoa), bikurim(primícias), matzot(pães ázimos), shavuot(pentecostes), yom terua(trombetas), yom kippur(arrependimento) e sucot(tabernáculos), além do shabat semanal, os colossenses deveriam olhar para Jesus, e ver a completude da Torá na obra do Messias de Israel. Tanto a obra completada na cruz, como aquela que Ele ainda fará em sua volta.
Dessa forma os crentes estariam edificando ainda mais sua fé no Messias.
Infelizmente hoje os cristãos perderam o contato com essas práticas da Torá. Hoje dificilmente um cristão tem algum conhecimento sobre o calendário bíblico. E isso é uma perda lastimável.
Mas creio que, antes de qualquer coisa, este é o momento de revermos a maneira como temos tratado a Torá. Durante séculos o anti-semitismo cristão nos conduziu a ter uma visão deturpada sobre a Torá, criando uma separação entre Lei e Graça.
Devemos voltar a ler nossas bíblias sem a dicotomia entre Lei e Graça, pois na verdade a Lei e a Graça andam juntas, e se complementam.
A Torá foi-nos dada para que fosse nossa sabedoria, para que por ela conhecêssemos a Adonai nosso Deus, e para que conhecêssemos seu Ungido: Jesus o Messias.
Precisamos restaurar em nossas vidas os ensinos apostólicos, e ler a bíblia dentro de seu contexto original. Pois assim estaremos edificando nossa fé no Messias de Israel, aprofundando ainda mais no conhecimento da Salvação.

Que Adonai nos restaure plenamente, e nos instrua em toda a sua obra, escrevendo sua Torá em nossos corações e mentes.

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