O que é Legalismo?


 

Legalismo é o sistema em que as leis, normas, regras e procedimento deixam de ser um meio para ser um fim.

 

De um modo geral, em qualquer sociedade, precisamos de leis para estabelecer a ordem pública, bem como as medidas socio-educativas para inibir práticas que violem a ordem pública.

 

Portanto, as leis são um meio, para atingir um objetivo maior.

 

No legalismo as leis se tornam o fim, e não um meio. Ou seja, a observância da lei tem mais valor que o objetivo para o qual ela foi estabelecida.

 

O legalismo se manifesta principalmente nos meios religiosos, onde existe a imposição de dogmas, credos, preceitos, sem que haja a devida compreensão e confiança no resultado destas normas.

 

A bíblia trata muito sobre o legalismo, sem, contudo utilizar esta expressão em seus textos.

 

No grego koine não existe um termo que expresse a idéia que hoje expressamos pelo termo "legalismo". Paulo talvez tenha sido um pioneiro neste quesito ao cunhar a expressão "erga nomous", que tem sido traduzido em nossas bíblias como "obras da lei".

 

Infelizmente, a perspectiva adotada por grande parte dos cristãos sobre a expressão "erga nomous", que Paulo cunhou em suas cartas, tem sido entendido fora de seu contexto original, e tem sido tratada como uma depreciação à Torá, quando na verdade Paulo estava defendendo o legitimo uso da Torá, e combatendo o "legalismo" de sua época.

 

Além do mais, uma recente descoberta arqueológica nos traz ainda mais luz sobre o termo "erga nomous" usado por Paulo em suas cartas, trata-se do manuscrito "Q4MMT", encontrado nas cavernas de Qumran.

 

Este manuscrito trata-se de uma carta rabínica, desenvolvida por um grupo judaico, que trazia normas e regras para que as pessoas obedecessem a Torá.

 

O documento traz, entre várias normas, o ensino de que a justificação só é alcançada pela prática da Torá, dentro da interpretação apresentada por este documento.

 

No documento encontramos escrito: "Agora NÓS ESCREVEMOS para você algumas das OBRAS DA LEI, aquelas que NÓS DETERMINAMOS que sejam benéficas para você… e vai ser creditada a você como justiça, naquilo que você tem feito o que é certo e bom diante dEle…"

 

Pelo teor do documento, podemos entender melhor o que Paulo combatia ao escrever:

"Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei." Romanos 3:28.

 

Mas será a Torá legalista?

 

A posição defendida pelos legalistas era uma deturpação do propósito da Torá.

 

Quando olhamos para Abraão, vemos em Genesis 15 que ele foi justificado por sua fé:

 

"E creu Abrão no Senhor, e o Senhor imputou-lhe isto como justiça" Gênesis 15:6.

 

E a Fé de Abraão o conduziu a obedecer e guardar a Torá de Adonai.

 

"porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e a minha Torá" Gênesis 26:5

 

Não somente isso, mas a Torá também nos ensina que primeiro Adonai libertou o povo de Israel do cativeiro do Egito. Depois de redimir a Israel então apresentou a eles a Torá.

 

E mesmo Israel tendo falhado em muitos momentos, quebrando a aliança, Adonai ainda fez de Israel a sua propriedade peculiar entre as nações, nação sacerdotal, povo adquirido.

 

Assim, a Torá ensina que a salvação não é meritória, mas é fruto da Graça de Adonai.

 

Os mandamentos da Torá não foram apresentados ao povo de Israel para que tivessem remissão de seus pecados.

 

Mesmo os mandamentos que tratam da expiação do pecado, apontam para sacrifícios de animais, realizados no Tabernáculo, e que tinham uma característica educacional.

 

Os sacrifícios do cerimonial levítico, destinados à expiação do pecado, serviam para ensinar a Israel que o pecado produzia morte, e que era necessário que sangue fosse derramado para que pecado fosse expiado.

 

No entanto, o sacrifício em si não tinha o poder de perdoar pecados, visto que o arrependimento e a confissão antecediam ao sacrifício.

 

Lembrando-nos que Israel recebeu a Torá após terem sidos salvos por Adonai da escravidão do Egito, a Torá teria o propósito de manter o povo de Israel na Graça de Adonai.

 

Em vários momentos na Torá Adonai exorta a Israel de que, se eles se desviassem dos mandamentos da Torá, seriam espalhados entre os povos, e escravizados novamente.

 

Portanto a Torá é a Lei da Liberdade, a cerca que protegia Israel dentro da Graça e do Favor de Adonai.

 

Agora que Israel estava liberto do Egito, eles deveriam se tornar uma nação sacerdotal, para tanto eles precisavam de Leis, e não quaisquer leis, mas leis que os conduzissem ao seu propósito: serem uma nação sacerdotal.

 

A Torá é o meio pelo qual Israel conheceria a Adonai, e procederia de conformidade com a vontade de Adonai, testemunhando da Justiça de Adonai a todas as nações da terra.

 

Portanto, a revelação da Torá ao povo de Israel foi manifestação da Graça de Deus a Israel. Sem a Torá Israel não conseguiria cumprir o seu propósito: ser uma nação sacerdotal.

 

Ademais, a Torá não deveria ser entendida por Israel como apenas um conjunto legal. Adonai mesmo expressa que a Torá seria SABEDORIA para o povo de Israel.

 

"Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida." Deuteronômio 4:6

 

Tendo este entendimento, conseguimos entender melhor o que Paulo disse ao escrever:

 

"Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão. Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei." Romanos 3:30,31

 

A justificação é um processo da Graça de Deus, quando nos arrependemos de nossos pecados e nos voltamos à Ele. E a partir do momento que somos justificados, a Torá(Lei) passa a nos orientar, para permanecermos na Graça de Deus.

 

Por isso que não obedecemos a Torá para sermos salvos, mas porque fomos salvos.

 

Para aqueles que são discípulos de Jesus a Torá tem um papel de grande relevância, pois é a sabedoria contida nessas leis que capacita o discípulo a cumprir o seu chamado em Jesus: ser sal e luz para o mundo.

 

Que o Eterno grave em nossos corações a sua santa Torá, e nos capacite pelo seu Espírito Santo a andarmos de maneira a honrar aquele que nos justificou; Jesus o Messias de Israel!

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