A reciprocidade segundo o Pai Nosso!

"e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores" Mateus 6:12.
Os evangelhos nos relatam que os discípulos pediram a Jesus que lhes ensinassem a orar, assim como João (batista) havia ensinado seus discípulos (Lucas 11:1).
Quando conhecemos melhor o contexto judaico do Novo Testamento, aprendemos ser um costume bastante difundido os rabinos e mestres ensinarem seus discípulos a orarem. Para tanto era ensinado uma oração modelo.
Hoje em dia isso é visto com muita negatividade, principalmente no meio protestante, que imediatamente associa essa prática às "rezas" do catolicismo.
E a bem da verdade é que, antes mesmo de Jesus ensinar sua oração a seus discípulos, ele alertou:
"E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos." Mateus 6:7.
Dentro do contexto judaico há um conceito muito difundido, que é o conceito de "Kavanah", que é a intenção correta do coração.
Os rabinos ensinam que, as orações não devem ser tratadas como palavras mágicas. Não adianta, para o judeu, proferir o "Shemah" (Dt 6:4-9) se o seu coração não estiver naquelas palavras.
O uso de orações já era muito difundido antes mesmo do tempo de Jesus. O livro de Salmos, por exemplo, é chamado de "Tehilim" (louvores), que nada mais são do que orações cantadas. Inclusive uma das práticas de Yom Kippur é orar o Salmo 119.
As orações ensinadas pelos rabinos têm a finalidade de conduzir seus discípulos a não somente o que devem orar, mas principalmente como devem orar. E em sua maioria carregam ensinos e afirmações de fé. É isso que vemos na oração modelo apresentada por Jesus a seus discípulos.
Na oração ensinada por Jesus temos ensinos profundos sobre a Santidade do Eterno, sobre a Vontade do Eterno, sobre o Reino de Deus, sobre a confiança no Suprimento vindo de Adonai, e, de forma muito especial, sobre o perdão dos pecados.
É muito interessante a colocação que Jesus atribui à questão do perdão: "perdoa-nos assim como nós perdoamos".
Jesus complementa esse ensino nos versos seguintes, no evangelho de Mateus:
"Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas." Mateus 6:14-15.
Uma constante no ensino de Jesus consiste na reciprocidade do tratamento que recebemos de Adonai, e o tratamento que dispensamos a nossos semelhantes. O sermão da montanha aponta para essa verdade em outros momentos:
"Não julgueis, para que não sejais julgados." Mateus 7:1.
"com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós." Mateus 7:2b.
"E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei vós, também." Lucas 6:31.
Podemos aprender muitos princípios com isso: humildade, benevolência, paciência. Mas o princípio que gostaria de ressaltar aqui é o mesmo que observamos na vida de Jacó.
Jacó, quando esteve na casa de Labão, foi enganado várias vezes. Trabalhou sete anos por uma esposa, e recebeu outra. Viu-se obrigado a trabalhar outros sete anos para ter sua amada, e mais seis anos para ter seu próprio rebanho.
Viu-se obrigado a fugir com seus filhos e mulheres da terra de Haran por medo, e em sua última conversa com Labão vemos o desabafo de alguém que por vinte anos viveu sob opressão:
"Estes vinte anos eu estive contigo; as tuas ovelhas e as tuas cabras nunca abortaram, e não comi os carneiros do teu rebanho.
Não te trouxe eu o despedaçado; eu o pagava; o furtado de dia e o furtado de noite da minha mão o requerias.
Estava eu assim: De dia me consumia o calor, e de noite a geada; e o meu sono fugiu dos meus olhos.
Tenho estado agora vinte anos na tua casa; catorze anos te servi por tuas duas filhas, e seis anos por teu rebanho; mas o meu salário tens mudado dez vezes.
Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão e o temor de Isaque não fora comigo, por certo me despedirias agora vazio. Deus atendeu à minha aflição, e ao trabalho das minhas mãos, e repreendeu-te ontem à noite." Gênesis 31:38-42
O que significa perdoar?
Perdoar é quando abstemos da exigência de justiça. Quando alguém erra, é justo que pague pelo que errou. Se alguém vem na contramão e bate em seu carro, é justo que ele pague pelo conserto.
Mas o perdoar é abster-se de exigir esse reparo. É dar por justificado aquele que errou, mesmo que ele não tenha pagado pelo seu erro.
Entendamos bem: perdoar não significa que ao baterem no seu carro você dirá “pode ir em paz, está tudo certo”. Perdoar significa que, quando alguém bater em seu carro e não quiser assumir o erro, nem arcar com as consequência, você mesmo tendo muitas razões, não irá exigir o reparo.
Mas porque Adonai quer que perdoemos uns aos outros?
Primeiro porque, da mesma forma como somos afrontados pelos nossos semelhantes, afrontamos ao Eterno todos os dias, com nossos pecados e desobediências. E não obstante a isso Ele nos perdoa. Se nós recebemos o perdão do Altíssimo, devemos ter por obrigação exercer o perdão.
Segundo, porque ao perdoar, estamos entregando a situação para que Adonai opere.
No caso de Jacó e Labão, Jacó não exigiu retratação quando lhe foi dado Léa no lugar de Raquel. Não exigiu retratação quando seu salário foi alterado por dez vezes. Não exigiu retratação quando seus cunhados e primos insinuaram que estava roubando as riquezas de Labão. Em tudo Jacó foi paciente, e exerceu o perdão.
Diante da postura de Jacó, Adonai o abençoou, de forma que saiu da terra de Haran com muitos bens. E quando Labão intentou o mau contra Jacó, o próprio Adonai o impediu.
Ao exercer o perdão, Jacó permitiu que Adonai julgasse a situação, e favoreceu a Jacó.
Em diversos momentos na bíblia encontramos situações onde há opressores e oprimidos, e Adonai sempre promove compensação ao oprimido, e juízo ao opressor.
Da mesma forma, diante de situações que nos oprimem, devemos ter a confiança no Eterno, e exercer o perdão. Primeiro porque temos recebido dele um perdão muito maior. Segundo porque cremos que todas as coisas estão debaixo do domínio do Eterno, e Ele é quem julga as nossas causas.
Outro detalhe muito importante é que, a opressão que Jacó sofreu, foi importantíssimo para transformação de seu caráter. Jacó chegara a Haran fugindo de seu irmão Esaú, a quem por duas vezes havia enganado.
O sofrimento que Labão proporcionou a Jacó serviu-lhe de lição, para que fosse transformado seu caráter.
Da mesma forma cremos que todas as situações que nos acontecem, Adonai os permite para que possamos ser aprimorados na fé, transformados em nosso caráter pelo seu poder.
Perdoar é mais do que um simples "deixa pra lá", é a confissão de Fé de que Adonai está no controle de todas as coisas, agindo de forma soberana, sem impedir o livre arbítrio do homem, mas em tudo proporcionando a nós a oportunidade de sermos feitos conforme a sua Imagem.

Que o Eterno nos abençoe, e transforme os nossos corações, de maneira que possamos perdoar nossos inimigos, e de igual forma receber dEle o perdão.

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