Uma questão de identidade.

Como indivíduos, cada um de nós temos uma identidade própria, que é o conjunto de nossas crenças, valores e práticas.

O interessante é que muitas dessas crenças, valores e práticas, podem ser compartilhadas com outros indivíduos. Quando isso acontece, dizemos que nos identificamos com essas pessoas.

Quando temos um povo, uma sociedade, ou uma congregação, o que os une é justamente essa identificação mútua.

Com o corpo de discípulos de Yeshua não é diferente. Necessitamos de uma identidade conjunta que nos habilite a caminharmos juntos.

A diferença consiste em que, nos ajuntamentos cívicos, ou na formação de uma sociedade, essa identidade nasce dos indivíduos, e é regido pelas maiorias. Mas no corpo de discípulos de Yeshua, que chamamos de igreja, essa identidade nasce do próprio Yeshua, que é nosso Mestre e Senhor.

Assim, o conjunto de nossas crenças, valores e práticas, são designados por Deus a nós, a fim de que tenhamos uma identidade não apenas entre nós, mas uma identidade com o próprio Yeshua.

Neste aspecto, o calendário tem um valor especial.

Um calendário não serve apenas para contarmos o tempo e as estações. O calendário também nos permite celebrarmos em unidade eventos relevantes, e que forjaram a nossa identidade.

Como brasileiros, celebramos os dias 22 de Abril, 7 de Setembro, e 15 de Novembro, que foram datas em que ocorreram os principais eventos que nos forjaram como nação, o descobrimento do Brasil, a declaração de independência, e a proclamação da república.

Da mesma forma o Eterno nos deu um calendário, para que celebrássemos os eventos que forjaram nossa fé. Esse calendário foi entregue a Israel na Torá, e consiste em festas bíblicas, com significados proféticos, que apontam para eventos ainda por vir.

E antes que alguém diga que isso é "judaísmo", e que seguir tais festas é "judaizar", lembre-se de que cada uma destas festas marca também eventos importantes de nossa fé em Yeshua.

Foi em Pessach que Yeshua foi crucificado, em Bikurim que ele ressurgiu dos mortos. Foi durante a contagem do Ômer que ele apareceu ressurreto a muitos, e em Shavuot que ele derramou seu Espírito sobre os discípulos.

Assim, esse calendário não é apenas um calendário judaico, mas sim o calendário bíblico, o calendário de Deus, e o calendário de Yeshua.

Porém, sabemos pela história que a igreja se desconectou de suas raízes. Desde os primeiros séculos, a rixa entre judeus não crentes e gentios crentes, provocou uma ruptura, levando a igreja, a perder parte dessa identidade considerada judaica em sua essência.

A igreja passou pouco a pouco a abandonar o calendário bíblico, e a adotar outro calendário, com outras festas, outros eventos, que nada tem a ver com a nossa fé.

Foi assim que surgiu o natal, o dia de são João, e a páscoa cristã (que não tem nada a ver com a Pessach das Escrituras).

Ao abandonar o calendário bíblico, a necessidade de uma identidade própria, levou a igreja a "cristianizar" festas pagãs que já existia entre os gentios.

O natal, por exemplo, era a festividade do natalis solis invictus (nascimento do sol vitorioso), uma festa mitraica, em homenagem ao deus sol. O dia de são João coincide com as festividades do solstício de verão, a páscoa cristã coincide com o equinócio, festividades repletas de idolatria, misticismo, orgias, glutonarias, e todo o tipo de coisa detestável aos olhos do Eterno.

Mas já há tanto tempo essas festas foram cristianizadas e seus sentidos foram transformados, qual o problema com elas então?

Na verdade essas festas não foram transformadas em sua essência, e os rastros do paganismo são ainda muito fortes. Todos celebram o natal com papai noel, guirlanda e árvore de natal, todos esses itens, além de não terem qualquer rastro nas escrituras, ou na vida de Yeshua, são elementos de idolatria.

Papai noel é um ídolo nórdico, assim como a árvore de natal simboliza o carvalho de Odim, e as guirlandas são oferendas a demônios. O coelho sempre foi um símbolo de fertilidade nas festas pagãs, assim como o ovo, que agora é de chocolate. O pular fogueiras era um antigo ritual de passagem e de consagração a demônios.

Na verdade, não foram as festas que foram cristianizadas, e sim o cristianismo foi paganizado.

O Eterno tem nos levado ao conhecimento dessas coisas para que tenhamos a nossa identidade restaurada. Nossa identidade está naquilo que o Eterno tem feito na humanidade através de seu povo Israel, e nós temos sidos enxertados em Israel (Rm 11:17).

Nosso Deus é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, nossa bíblia é a bíblia de Israel, e nosso Messias é o Messias de Israel, porque nosso calendário seria outro?

Nossos apóstolos eram judeus, e todos eles celebraram as festas de Israel, que são sombra do Messias. (At 13:14; 16:13; 20:6; 20:16)

E antes que se possa citar a carta de Gálatas, nossos apóstolos condenaram sim o legalismo, e a obrigatoriedade de guardar a Torá para a salvação.

“Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo por ele conhecidos, como é que estão voltando àqueles mesmos princípios elementares, fracos e sem poder? Querem ser escravizados por eles outra vez? Vocês estão observando dias especiais, meses, ocasiões específicas e anos! Temo que os meus esforços por vocês tenham sido inúteis”. Gálatas 4:9-11.

Observe que, se Paulo está dizendo “Mas agora, conhecendo a Deus...” é porque estava direcionando sua fala a gentios, que antes não conheciam a Deus. “...estão  voltando àqueles mesmos princípios elementares, fracos e sem poder?”. Com certeza Paulo não está falando diretamente das festas da Torá, pois os gentios não guardavam essas festas. Se eles estavam voltando, é porque estavam tornando a fazer algo que faziam antes.

O que Paulo está alertando é que, a imposição das festas bíblicas como obrigatórias para a salvação, como estava acontecendo na Galácia (Atos 15:1), era o mesmo que celebrar festas pagãs, onde os gentios eram obrigados a fazer tais celebrações para aplacar a ira dos deuses. Assim, o “princípio” que estava sendo utilizado era o mesmo, “fraco e sem poder”, mesmo que as celebrações fossem bíblicas.

Em Colossenses Paulo também diz:

“No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, pela circuncisão de Cristo;” ... “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”. Colossenses 2:11;16-17.

O “não julgar” que Paulo menciona neste caso é tanto pela obrigatoriedade de celebrar como pelo impedimento de se celebrar. Os judeus não crentes criavam problemas impedindo os gentios de participarem das festas, pois não eram circuncidados. Já alguns judeus crentes queriam obrigar os gentios tanto à circuncisão, como à celebração das festas para a salvação. E haviam ainda gentios, oriundos do estoicismo, que constrangiam os gentios crentes a não celebrarem festas judaicas, por acreditarem que toda a celebração fosse carnal. Portanto, a recomendação de "não julgar" era extremamente pertinente ao momento em que estavam vivendo.

O fato de Paulo afirmar que “também estais circuncidados” indica que, por crerem em Yeshua, os discípulos dentre os gentios estavam habilitados a celebrarem as mesmas festas que os judeus. E termina afirmando que tais festas são sombras de coisas futuras, que apontam para o Messias.

Ou seja, as festas bíblicas estão totalmente sintonizadas com nossa fé em Yeshua, tanto no que ele fez, como no que ele ainda vai fazer, quando do seu retorno. Por isso, o calendário e as festas são parte de nossa identidade como servos de Deus.

Essa identidade nos foi tirada pelo antissemitismo que adentrou na igreja nos primeiros séculos.

O problema de Paulo nunca foi com as festas, pois, como vimos acima, ele mesmo celebrava essas datas. O problema era com a imposição, obrigação ou proibição, pois ele entendia que o valor das festas estão nos sinais, memoriais e ensinos que estão inseridos nestas celebrações, e não nas celebrações em si. E como estes sinais e memoriais estão alinhados à nossa Fé em Yeshua, os discípulos teriam de ter a liberdade de celebrá-las.

Assim, o gentio discípulo de Yeshua tem a liberdade para celebrar as festas bíblicas, entendendo seus significados, e enxergando Yeshua e sua obra nessas festas.

Mais do que a liberdade para celebrarmos as festas bíblicas, abandonando as celebrações pagãs que nos foram impostas na história, essa é uma questão de resgatarmos nossa verdadeira identidade, como servos de Yeshua

Que o Eterno restaure nossas vidas no conhecimento de sua vontade!

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