Vida abençoada, vida tranquila?

O capitulo 34 de Gênesis relata um evento trágico que aconteceu na família de Jacó.

 

Após ele ter experimentado um grande livramento, narrado no capítulo 33, quando encontra seu irmão Esaú e este o aceita, Jacó compra um campo nas proximidade da cidade de Siquém, ali vivia com sua família, cuidando do gado e cultivando a terra.

 

Estando habitando ali, sua filha Diná é estuprada e envergonhada pelo príncipe daquela cidade, cujo nome também era Siquém.

 

Após o ocorrido, Siquém apaixona-se por Diná, e deseja casar-se com ela. Seu pai, rei Hamor, vai até Jacó para intermediar o caso, e pedir que permita o casamento.

 

Ardilosamente, os irmãos de Diná aceitam o trato, desde que todos os homens da cidade fosse circuncidados.

 

A circuncisão, para quem não sabe, consiste na remoção cirúrgica da pele que envolve a glande do homem. Naquela época era feita com facas, pedras, ou outros instrumentos cortantes que tivessem à mão. Mas a falta de condições de assepsia, levava sempre os circuncidados a terem febres e dores muito fortes por alguns dias.

 

A Torá relata que no terceiro dia após os cidadãos da cidade serem circuncidados, quando a dor e a febre eram mais fortes, Simeão e Levi, provavelmente junto com outros servos, invadem a cidade e matam a todos os homens, inclusive o rei Hamor e o príncipe Siquem.

 

Os demais filhos de Jacó, quando viram a cidade tomada, espoliaram toda a cidade.

 

A atitude impensada dos filhos de Jacó colocou novamente Jacó e sua família em uma situação de grave risco, como a que vivera no capítulo 33, quando Esaú veio ao encontro e Jacó com 400 homens.

 

Os cananeus que habitavam em cidades vizinhas poderiam sentir-se intimidados pelo que acontecera, e atacar o acampamento de Jacó.

 

Diante do medo e da incerteza, o Eterno diz a Jacó para sair daquela terra e ir até Betel, o mesmo local onde ele teve a visão da escada que tocava os céus.

 

Jacó ordena a todos que estavam consigo a se purificarem, lançar fora todos os ídolos que tivessem consigo, e seguirem para Betel.

 

Ao chegar a Betel, Jacó tem uma experiência, e é abençoado pelo Eterno:

 

"Depois que Jacó retornou de Padã-Arã, Deus lhe apareceu de novo e o abençoou, dizendo: "Seu nome é Jacó, mas você não será mais chamado Jacó; seu nome será Israel". Assim lhe deu o nome de Israel. E Deus ainda lhe disse: "Eu sou o Deus Todo-poderoso; seja prolífero e multiplique-se. De você procederão uma nação e uma comunidade de nações, e reis estarão entre os seus descendentes". Gênesis 35:9-12

 

Mas engana-se quem pensa que após este encontro com o Eterno, a vida de Jacó foi um mar de rosas, e todos os seus problemas acabaram.

 

Ainda no capítulo 35 a Torá narra três eventos bastante tristes para o patriarca. Raquel, sua amada esposa, vem a falecer num parto complicado. Rubem, seu filho mais velho, tem uma relação amorosa com sua concubina. E seu pai Isaque, já bastante velho, vem a falecer.

 

Estes eventos aconteceram com uma boa distância de tempo entre eles, porém, a maneira como está narrada na Torá, nos dá a impressão de que esses eventos aconteceram em seqüência.

 

O que a Torá quer nos ensinar com isso?

 

As vezes temos a impressão errada de que ter uma vida abençoada, é ter uma vida sem problemas. Isso não é verdade.

 

Os patriarcas foram tremendamente abençoados por Deus, mas as suas vidas tiveram situações emblemáticas, assim como a vida de qualquer um de nós.

 

Nossa vida nesta terra passa por altos e baixos, por momentos de alegrias e tristezas. Ser abençoado por Deus consiste em ter o auxílio do Eterno em todos esses momentos.

 

Todos os servos de Deus passaram por momentos de tribulação. A diferença é que a nossa esperança nos leva a ver acima dos problemas.

 

Sabemos que o Eterno tem tudo em seu controle, e que se Ele permite que algo nos aconteça, é porque ele deseja nos ensinar com este algo.

 

E temos a convicção de que a nossa esperança não está em uma vida tranqüila e sossegada aqui neste mundo. Mas a nossa esperança está no mundo vindouro, naquele no qual todo o pecado será extirpado, e onde não haverá mais dor ou tristeza.

 

Assim, olhando para o futuro certo, procuramos viver em comunhão com o Eterno, aguardando o dia da vinda do Senhor.

 

Essa era a expectativa e a esperança de Jacó. Anos mais tarde, antes de vir a falecer, quando abençoava os filhos de José, Jacó disse:

 

"E abençoou a José, dizendo: "Que o Deus, a quem serviram meus pais Abraão e Isaque, o Deus que tem sido o meu pastor em toda a minha vida até o dia de hoje, o Anjo que me redimiu de todo o mal, abençoe estes meninos. Sejam eles chamados pelo meu nome e pelos nomes de meus pais Abraão e Isaque, e cresçam muito na terra." Gênesis 48:15-16.

 

O escritor de Hebreus, reconhecendo o teor escatológico dessas palavras, e a fé de Jacó, escreveu em sua carta:

 

"Todos estes ainda viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-nas de longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra" ... "Pela fé Jacó, à beira da morte, abençoou cada um dos filhos de José e adorou a Deus, apoiado na extremidade do seu bordão". Hebreus 11:13;21

 

 

Jacó sabia que, mesmo em meio a todas as tormentas que viveu, o Eterno esteve com ele para o livrar, e o redimir de todo o mau. E que a sua verdadeira recompensa estava reservada para ele, no mundo vindouro.

 

Que possamos aprender com Jacó a viver os problemas de nossa vida presente, olhando para o futuro, para a vida Eterna com Deus.

 

O Eterno nos abençoe!

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