Um apelo ao crescimento.

No capítulo 6 da carta aos Hebreus encontramos um forte apelo para o crescimento espiritual.

 

"Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno." Hebreus 6:1,2.

 

É curioso o escritor da carta aos Hebreus pedir para que os crentes hebreus deixassem aquilo que é, até os dias de hoje, os temas mais anunciados nos púlpitos das igrejas.

 

Entenda que o escritor não pede para abandonarmos estes temas, afinal ele os chama de "fundamentos". Mas o desejo do escritor é de que venhamos a ir além destes fundamentos.

 

É como se construíssemos uma casa, e não saíssemos da fundação. Estamos sempre ali, volta e meia, colocando mais concreto na fundação, e nunca levantamos as paredes.

 

Arrependimento de obras mortas, fé em Deus, batismos, imposição de mãos, ressurreição e juízo eterno são importantíssimos, são alicerces dos quais não podemos abrir mão. Mas devemos, segundo o escritor, crescer e construir nossas casas espirituais.

 

Mas qual é o risco que o escritor viu em não buscar o crescimento? E que tipo de crescimento o escritor deseja que os crentes desenvolvam?

 

Ele começa explicando o risco do não crescimento dando um severo alerta:

 

"Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério." Hebreus 6:4-6

 

Este é o risco de ter uma vida espiritual rasa, o risco de cair de forma a não poder mais ser levantado.

 

É importante entender o que o escritor está falando aqui. O escritor não está se referindo aos pecados que cometemos durante nossa caminhada, fruto de nossa luta contra a natureza carnal que ainda carregamos.

 

O escritor está se referindo a aquele que experimentou de fato a salvação do Eterno e conscientemente o rejeitou.

 

Mas por que a falta de crescimento espiritual levaria alguém a rejeitar ao Eterno e à sua Salvação?

 

Precisamos entender o que é o crescimento espiritual que o escritor tanto anseia que os hebreus crentes desenvolvam.

 

"Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada." Hebreus 6:7,8.

 

Segundo o escritor, o crescimento espiritual que faz de fato a diferença, e que fortalece a nossa fé, impedindo-nos até mesmo de vir a cair, é o produzir bons frutos para o Eterno.

 

O escritor nos compara à "terra" que recebe a "chuva" no tempo certo. Conforme buscamos ao Eterno ele nos dá a conhecer seus mandamentos, que é a água que cai sobre nós.

 

Lembremos que a doutrina da Torá é tida como a "chuva" que goteja:

 

"Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva." Deuteronômio 32:2

 

Essa "chuva", o conhecimento da Torá, que o Eterno nos concede durante nossa caminhada, deve produzir em nós frutos, ou seja, obras.

 

Porém, segundo o escritor da carta aos Hebreus, dois frutos podem ser produzidos pela terra ao receber essa "chuva". Ela pode produzir "erva proveitosa", ou seja, bons frutos de obediência. Mas também pode produzir "espinhos e abrolhos".

 

Produzir "erva proveitosa" é o desejo do Eterno sobre nossas vidas. Yeshua mesmo disse:

 

"Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer." João 15:5.

 

E Paulo também ensina que:

 

"Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas." Efésios 2:10.

 

Esses bons frutos, ou boas obras, é quando aprendemos o mandamento do Eterno e o colocamos em prática. Assim, em nossas atitudes damos testemunho do Eterno a quem servimos.

 

Se temos bem firmes os fundamentos de arrependimento de obras mortas e fé em Deus, batismos e imposição de mãos, ressurreição e juízo eterno, então nós temos a convicção de que precisamos aprender a Lei do Eterno para praticamos obras de justiça, demonstrar nossa fidelidade, fazer jus ao batismo ao qual fomos batizados, convicção na autoridade emanada do Nome de Yeshua, e a promessa da ressurreição para a vida Eterna.

 

Buscamos crescer no conhecimento de sua Torá, para aplicarmos em nossas vidas as Leis do Reino que ansiamos ver em breve.

 

A obediência então é fruto de entendimento e fé, de amor ao Eterno e ao seu Ungido, que nos resgatou de nossos pecados para que vivamos uma nova vida.

 

Mas, o escritor também alerta que a "terra" que recebe a "chuva" também pode produzir "espinho e abrolhos".

 

Essa é uma severa advertência.

 

Porque se não buscarmos crescer em nossa caminhada com o Eterno, é certo que o conhecimento dos mandamentos do Eterno também virá. Seja pela leitura das escrituras, seja pela ministração da Palavra nos púlpitos. O Eterno fará conhecer a sua Palavra.

 

Porém, a terra má é aquela que não quer abandonar as experiências iniciais, quer viver de forma rasa a fé, não quer mais compromissos, nem deseja ser incomodado com mais doutrinas.

 

Diante do conhecimento da Torá, esta "terra" não produz obediência, mas sim desobediência. Tende a desprezar as Leis do Eterno por acreditar que a Torá não é para nossos dias, nem para os discípulos de Yeshua.

 

Ao negar a Torá, o crente passa a relativizar a Palavra, e se firma cada vez mais em doutrinas humanas para sustentar sua fé.

 

Com o passar do tempo, as decepções com a religião o levará a questionar a Deus, questionar a Palavra, questionar a conversão. O fim disto é a rejeição ao Eterno.

 

Viver sem compromisso com os mandamentos do Eterno leva o crente a produzir espinhos e abrolhos. Isso fatalmente o levará à ruína, pois em tese, nega os fundamentos da nossa fé.

 

Por isso encontramos o relato tão emocionante do salmista:

 

"Grande indignação se apoderou de mim por causa dos ímpios que abandonam a tua lei.

Os teus estatutos têm sido os meus cânticos na casa da minha peregrinação. Lembrei-me do teu nome, ó Senhor, de noite, e observei a tua lei.

Isto fiz eu, porque guardei os teus mandamentos.

O Senhor é a minha porção; eu disse que observaria as tuas palavras. Roguei deveras o teu favor com todo o meu coração; tem piedade de mim, segundo a tua palavra.

Considerei os meus caminhos, e voltei os meus pés para os teus testemunhos. Apressei-me, e não me detive, a observar os teus mandamentos.

Bandos de ímpios me despojaram, mas eu não me esqueci da tua lei. À meia-noite me levantarei para te louvar, pelos teus justos juízos.

Companheiro sou de todos os que te temem e dos que guardam os teus preceitos." Salmos 119:53-63

 

Que o Eterno nos abençoe, e que sua Torá encontre em nós terras boas, que produzam bons frutos, para a glória de nosso Deus.


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