Páscoa ou Pessach?

Você já se perguntou o porquê os cristãos celebram a Páscoa num dia diferente dos judeus? 

Se na bíblia há apenas uma festividade chamada Páscoa, tanto no novo como no antigo testamento, por que há essa diferença de datas?

O que aconteceu na História do cristianismo foi algo muito triste, uma verdadeira decepção com relação às tradições que foram deturpadas.

No final do primeiro século, quando apenas um dos apóstolos, João, encontrava-se vivo, ganhou corpo no meio da igreja um sentimento de aversão ao povo judeu, e a tudo o que era judaico.

Precisamos entender os eventos que aconteceram entre o final do primeiro século e inicio do segundo século e que foram marcantes para que houvesse a separação entre a igreja gentílica e o povo judeu.

A morte dos principais apóstolos se deram na década de 60d.C. Sem os apóstolos, a autoridade doutrinária da igreja passou a ser disputada por bispos das regiões mais importantes o império romano.

A partir do segundo século, três bispos ganharam proeminência: o bispo da Antioquia, o bispo de Alexandria e o bispo de Roma.

Em 70d.C. houve a revolta judaica, e a conseqüente destruição do Templo. Com a derrota dos judeus, além de muitas mortes, muitos judeus foram espalhados pelo império. 

Mas em 132d.C. houve a terceira revolta judaica, comandada por BarKoba, que fora apontado pelo rabino Akiva como o messias esperado.

Os judeus crentes se viram em maus lençóis neste momento, pois eles nunca lutariam por um messias falso, eles criam em Yeshua, o verdadeiro Messias.

O resultado desta revolta foram 580 mil judeus mortos pelas legiões romanas. Jerusalém teve seu nome mudado para Aélia Capitulina, e a terra de Israel seu nome mudado para Filistina. 

Os judeus crentes em Yeshua, que não juntaram armas com seus irmãos, foram recriminados como traidores, e culpados pela derrota.

Temos então o seguinte cenário no início do segundo século: Muitos gentios em posição de liderança, bispos que tinham a sua cosmo visão a partir da filosofia grega, e pouco contato com o pensamento judaico. 

Um número cada vez menor de judeus crentes, e estes ainda sendo segregados por outros judeus devido aos recentes acontecimentos. 

Foi neste momento que o bispo de Roma decidiu pela mudança na data da celebração da Páscoa. A idéia era exatamente desvincilhar-se dos costumes e tradições judaicas. 

O bispo romano, Victor II, definiu que o dia da Páscoa deveria ser celebrada sempre no primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre após o equinócio da primavera (no hemisfério norte).

Esta determinação, que alterava o dia da celebração da Páscoa, deveria ser acatada por todas as igrejas. Mas a mudança não foi tão bem aceita. 

Eusébio de cesárea, historiador, registrou o seguinte:

"Uma questão de importância maior apareceu naqueles tempos. Pois as paróquias de toda a Ásia, seguindo uma tradição mais antiga, afirmavam que o décimo-quarto dia da lua, no dia em que os judeus precisavam sacrificar o cordeiro, deveria ser também o dia da Páscoa do nosso Senhor... Mas este não era o costume das igrejas do resto do mundo... Mas os bispos da Ásia, liderados por Polícrates, decidiram preservar o antigo costume que lhes foi herdado. Ele mesmo, numa carta que endereçou à Vítor e à Igreja de Roma, nestas palavras colocou o costume que chegou até ele" - História Eclesiástica, Eusébio.

Segue abaixo a carta citada por Eusébio, escrita por Polícrates ao bispo Victor, em resposta à ordem para mudança da data da Páscoa:

"Nós observamos o dia exato, sem tirar nem por. Pois na Ásia grandes luminares também caíram no sono [morreram], do qual devem despertar novamente no dia da volta do Senhor, quando ele virá em toda sua glória do céu e irá procurar por todos os santos. Dentre eles estão Filipe, um dos doze apóstolos e que dormiu em Hierápolis, suas duas filhas virgens e idosas, e outra filha, que viveu no Espírito Santo e que agora descansa em Éfeso. E, adicionalmente, João, que foi tanto uma testemunha quanto um professor, que se deitou no peito do Senhor e, sendo um padre, vestiu a placa sacerdotal. Ele também caiu no sono em Éfeso. E Policarpo, que foi bispo e mártir; e Tráseas, bispo e mártir de Eumênia, que dormiu em Esmirna. Por quê precisaria eu mencionar o bispo e mártir Sagaris, que se deitou em Laodiceia, ou o abençoado Papírio ou Melito, que viviam juntos no Espírito Santo, que repousa em Sardes, esperando o episcopado do céu, quando ele se levantará dos mortos? Todos estes observavam o décimo-quarto dia da Páscoa judaica de acordo com o evangelho, não desviando em nenhum aspecto, mas segundo a regra de fé. E eu também, Polícrates, o menos importante de todos, faço de acordo com a tradição de meus pais, alguns dos quais eu segui muito de perto. Pois sete deles foram bispos e eu sou o oitavo. E meus parentes sempre observaram o dia que as pessoas separavam o fermento. Eu, portanto, irmãos, que vivi sessenta e cinco anos no Senhor e encontrei com irmãos em todo o mundo, e que já li todas as escrituras, não me assusto fácil com palavras terríveis. Pois os que são maiores que eu disseram 'Nós devemos obedecer a Deus ao invés dos homens...' Eu poderia mencionar bispos que estavam presentes, que eu mesmo convoquei a seu pedido, cujos nomes eu deveria escrever e que certamente seriam uma multidão. E eles, admirando minha pequeneza, consentiram com esta carta, sabendo que eu não porto esses cabelos brancos em vão e sempre governei minha vida pelo Senhor Jesus." - Polícrates, bispo de Éfeso.

A carta de Polícrates é importante para nós, pois, demonstra claramente que o costume original da igreja era de celebrar a Pessach (páscoa judaica) conforme os judeus celebravam. 

Além de celebrar na data exata aos judeus, dia 14 do mês de Aviv (ou Nisan), é mencionado o "separar o fermento".

A festa de Pessach é ordenada na Torá. Nosso Senhor Yeshua morreu exatamente no dia do sacrifício de Pessach, dia 14 de Aviv, e ressuscitou no dia de Bikurim. 

No livro de Atos (20:6) vemos o apóstolo Paulo guardando a festa de Matzot, que fazia parte das celebrações de Pessach.

Em I Corintios 5:7-8 encontramos a ordem de Paulo para celebrarmos a festa dos pães sem fermento (matzot).

Em Apocalipse encontramos uma importante admoestação de Yeshua: 

"Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres." Apocalipse 2:5.

A história da igreja revela que houveram grandes desvios ao longo dos séculos. E é uma necessidade nossa, nos últimos dias, reconhecer os erros cometidos no passado, e regressar para as primeiras práticas.

Precisamos restaurar a prática da nossa fé e o ensino apostólico.

Que o Eterno nos conduza nesta restauração.

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