Proibido comer sangue?

A parashá desta semana (Acharei môt - Lv 16:1-18:30) dentre muitos assuntos trata da proibição de comer sangue.

"Também qualquer homem dos filhos de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que caçar animal ou ave que se come, derramará o seu sangue, e o cobrirá com pó; porquanto a vida de toda a carne é o seu sangue; por isso tenho dito aos filhos de Israel: Não comereis o sangue de nenhuma carne, porque a vida de toda a carne é o seu sangue; qualquer que o comer será extirpado." Levítico 17:13,14.

Este ponto da Torá tem sido motivo de controvérsia em dois aspectos. Há aqueles que extrapolam a orientação da Torá, e com base neste verso proíbem também a transfusão de sangue. Há outros que dizem que esta norma da Torá não possui mais nenhum valor para aqueles que vivem sob a Nova Aliança.

Os dois pontos desta controvérsia demonstram total falta de conhecimento do texto bíblico, e da profundidade que há nesta determinação do Eterno.

Vamos entender o que a Torá ensina sobre esta proibição de comer sangue. 

A Torá diz que a vida está associada ao sangue, e isto é muito fácil de entender. No sangue está o oxigênio, as proteínas e vitaminas e tudo o que foi absorvido pelo aparelho digestivo para permitir o metabolismo celular. 

No sangue também estão as células de defesa do organismo, que impedem que bactérias ou vírus ataquem os tecidos do nosso corpo. 

É também no sangue onde as células despejam o gás carbônico e as toxinas geradas pelo metabolismo, e que são excretadas pelo organismo.

Assim, a vida de fato está associada ao sangue. E o Eterno diz que este sangue foi dado para expiação em seu altar.

"Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma." Levítico 17:11.

Aqui se faz necessário entendermos outro ponto muito intrigante. A Torá apresenta diversos tipos de sacrifícios sendo realizados desde Abel. Sacrifícios pacíficos, ofertas, holocaustos. Porém, a figura do sacrifício para expiação de pecados só aparece com a construção do Tabernáculo.

Este tema fica ainda mais pertinente quando vemos que esta parashá começa justamente com o sacrifício de Yom Kippur (Lv 16), onde era feito um cerimonial bastante focado na expiação dos pecados.

Antes de tratar da proibição de comer sangue, o capítulo 17 ainda vai tratar que os israelitas deveriam oferecer seus sacrifícios à Deus, levando-os ao Tabernáculo.

Assim, o sangue é separado pelo Eterno para realizar expiação, este sangue deveria ser apresentado no altar, e sem derramamento de sangue não há expiação pelo pecado. Esta é a razão pela qual o Eterno proíbe o comer sangue. Mas, qual a relevância disto na Nova Aliança?

Yeshua derramou seu sangue para a expiação de nossos pecados, e, apesar de não ter apresentado seu sangue no Tabernáculo terrestre, apresentou-o no Tabernáculo celeste, que é o Tabernáculo visto por Moisés no monte Sinai. 

Moisés ordenou a construção do Tabernáculo terrestre seguindo exatamente o modelo do Tabernáculo celeste.

Assim, se o sangue de animais no Tabernáculo terrestre provia expiação pelos pecados de forma simbólica e temporária, o Sangue de Yeshua, apresentado no Tabernáculo Eterno, sobre o Altar verdadeiro, provê real e total expiação pelos pecados de todos os homens.

"Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito Tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção." Hebreus 9:11,12.

Portanto, apesar de o sacrifício de Yeshua ter ocorrido em um determinado tempo, tem um efeito atemporal, abarcando a expiação de todos os pecados tanto do passado, como do futuro, pois foi apresentado num Altar Eterno.

Por isso, a figura do Sangue no Altar é uma figura extremamente relevante na Nova Aliança. E por isso mesmo os apóstolos mantiveram a proibição de comer sangue como algo importantíssimo a ser observado por qualquer discípulo de Yeshua, seja ele judeu ou gentio, juntamente com as proibições relacionadas à idolatria, à prostituição, e ao assassinato.

"Por isso julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus. Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da fornicação, do que é sufocado e do sangue." Atos 15:19,20.

Lembrando que a proibição de comer sangue não tem nada a ver com a proibição de carnes impuras de Levítico 11. Levítico 11 trata de impurezas, a proibição de comer sangue é tida como abominação. O peso da Torá para quem comer carnes impuras é ficar impuro até a tarde, aquele que come sangue deveria ser extirpado do povo. São situações distintas que não podemos misturar.

Por isso, comer sangue é uma proibição para qualquer que teme ao Eterno. 

Mas extrapolar o mandamento e proibir também a transfusão de sangue é um erro. A proibição se limita a comer o sangue, e não o usar o sangue para fins de proporcionar vida.

As campanhas de doação de sangue assertivamente convocam as pessoas dizendo: "Doe vida". E de fato, doar sangue é doar vida.

Nada mais alinhado com os ensinos da Torá e de Yeshua do que amar o próximo como a si mesmo, e, doar vida em favor de outros faz parte deste amor.

Não comer sangue é mais do que simplesmente se abster de algo, é respeitar aquilo que o Eterno separou como um sinal daquilo de mais sublime foi derramado por nós: o Sangue de Yeshua.

Que o Eterno nos abençoe!

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