Santidade e Salvação.

Na última sexta publicamos um artigo sobre a parashá Kedoshim, falando sobre Santidade. Para as Escrituras, Santidade não se limita à moralidade e ética, mas abrange a obediência a todos os mandamentos da Torá.

(Segue o link do artigo publicado: http://fesalvacaoeobras.blogspot.com/2019/05/o-que-e-santidade.html)

A pergunta que surge a partir desta premissa é: se santidade está relacionada à obediência aos mandamentos da Torá, e, como o escritor aos Hebreus diz: "Sem santificação ninguém verá ao Senhor" (Hb 12:1), qual a correta relação entre Santidade e Salvação? Será que estamos propondo a Salvação pelas obras da Torá?

Devemos ter em mente que "Salvação" é a designação que a Torá dá para aquele que estava em perigo eminente, ou em escravidão, e que foi livre deste perigo, ou desta escravidão.

Assim, a Salvação que temos em Yeshua (Jesus) é quando somos livres da condenação dos nossos pecados, obtendo Vida Eterna prometida a todos os que se aliançam com o Eterno.

A Torá, apesar de prometer vida a aqueles que a obedecem, não pode efetivamente produzir vida. Não por alguma falha que há na Torá, mas por causa da falha que há em nós. Rabino Shaul (apóstolo Paulo) diz:

"Porque, aquilo que a lei fora incapaz de fazer por estar enfraquecida pela carne (nossas inclinações carnais), Deus o fez, enviando seu próprio Filho, à semelhança do homem pecador, como oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado na carne, a fim de que as justas exigências da lei fossem plenamente satisfeitas em nós, que não vivemos segundo a carne, mas segundo o Espírito." Romanos 8:3,4.

Assim, a Salvação é ofertada gratuitamente ao homem, sendo necessário apenas que este creia na obra do Messias, e entre na Aliança com o Eterno fazendo a Teshuvah (arrependimento/retorno ao Eterno).

Mas Aliança é compromisso! E aqui entra a Santificação.

Santificação é o processo em que a Torá passa a ser escrita no coração do discípulo de Yeshua. O estar na Santificação implica em estar na Aliança. Sair da Santificação implica em sair da Aliança.

Para entendermos corretamente esta dinâmica, precisamos ter em mente que Santificação é um processo, que começa com o Teshuvah, e que só acabará na ressurreição dos mortos.

Vamos exemplificar.

"José era um homem comum, que, assim como muitos, não matava, não roubava, mas que vivia sua vida alheia à Deus, seguindo seus próprios caminhos, cometendo vários pecados contra a Torá, mas sem ter a consciência exata de seus atos.

A ele foi apresentado o Evangelho, ele reconheceu seus pecados, creu na obra de Yeshua e arrependeu-se de seus pecados, decidiu voltar-se a Deus e viver uma vida de obediência à sua Palavra. Aqui ele foi salvo.

José, de imediato à sua salvação, abandonou vários pecados tolos e evidentes: a idolatria, as impurezas sexuais, a bebedice, a mentira. A Santificação começou a transformar sua vida.

José passou a freqüentar uma igreja, e foi ensinado sobre outros mandamentos do Eterno, descobriu que seu linguajar precisava mudar, parou de utilizar certos palavreados, mudou algumas roupas, passou a assumir uma postura de maior sobriedade. José continuou sendo santificado pela Palavra do Eterno."

Perceba que a Santificação está atuando na vida de José, colocando a Torá em seu coração. Ele está obedecendo a todos os mandamentos da Torá? Não. José está Santo? Não. José ainda comete pecados? Sim. José é Salvo? Evidentemente.

José está salvo, mesmo não guardando shabat, festas, leis alimentares e muitos outros mandamentos que talvez nem tenha tido ainda qualquer entendimento a respeito deles.

Mas a evidência da Salvação de José é que ele está no processo de Santificação. A Santificação é um processo, que ainda não está concluído na vida de José. Mas, por mais que José ainda tenha falhas e pecados, na vida dele a Santificação está atuando, portanto, ele está na Aliança, e está Salvo.

Mas se José decide mudar seu coração, e começa a praticar pecados que já tinha abandonado, e volta a viver conforme seus próprios caminhos, desprezando os caminhos do Eterno dados na sua Torá, então José saiu da Aliança, e por conseqüência saiu da Salvação.

Assim, quando falamos que Santificação também envolve o Shabat, as festas, as leis alimentares, e demais mandamentos da Torá, não estamos condicionando essas práticas à Salvação. Alguém pode estar no processo de Santificação sem estar guardando estas coisas, aliás, este é o cenário da imensa maioria dos discípulos de Yeshua atualmente.

A Santificação é o aperfeiçoamento do crente, e a Torá existe justamente para orientar quanto a este aperfeiçoamento. Tudo o que defendemos a respeito dos mandamentos da Torá é focado no aperfeiçoamento do crente, e não com relação à sua Salvação.

A prática da Torá deve ser sempre fruto deste entendimento e de fé, e nunca de imposição ou necessidade para Salvação, visto que isso seria uma deturpação do propósito da Torá. Contra esta deturpação rabino Shaul  (apóstolo Paulo) se posicionou frontalmente. Atualmente temos um nome para esta deturpação, nós a chamamos de legalismo.

Não podemos condicionar a obediência da Torá à Salvação, apesar de reconhecer que ela é parte do processo de Santificação. Mas, a Santificação sendo um processo, possui estágios, e quanto mais nós caminhamos e vencemos estes estágios, melhor somos aperfeiçoados.

E aqui temos uma chave para você se auto avaliar quanto à sua própria Santificação:

Para saber se sua observância aos mandamentos da Torá (seja quais forem estes mandamentos, morais, éticos ou cerimoniais) está sendo fruto de Santificação ou legalismo, basta avaliar o resultado primordial do nosso aperfeiçoamento: Como está o seu amor com relação ao próximo?

Se você tem usado a Torá para acusar, culpar ou condenar o próximo, o amor de Deus não está pleno em você, e possivelmente sua obediência tem sido fruto de legalismo. Se você olha para as fraquezas de seu irmão com amor, olhando e reconhecendo as próprias fraquezas, e tem procurado orientar seu irmão quanto às instruções do Eterno na sua Torá, então sua obediência provavelmente tem sido fruto de Santificação.

"Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz. Há só um legislador que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?" Tiago 4:11,12.

Que o Eterno nos abençoe, e nos santifique pelos seus mandamentos escritos em nossos corações.

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