A Justiça que vem da fé.

Na parashá desta semana (Nitsavím – Dt 29:10-30:20) vamos encontrar um trecho muito interessante, que foi citado pelo apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos no capítulo 10:

“Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo). Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” Romanos 10:6-9.

Quando analisamos este texto de Paulo à luz do contexto da Torá, vamos ter uma dimensão muito mais assertiva das palavras de Paulo. Estes versos de Paulo têm sido usado para afirmar que a Salvação pela fé desobriga o crente de obediência, pois, segundo o entendimento destes, a confissão apenas é suficiente para dar ao crente o status de Salvo.

É com base neste verso 9, que até hoje em todas as igrejas evangélicas, aqueles que desejam se converter ao Senhor são encorajados a fazer uma oração confessando o Messias, e ao concluí-la, o confessor é dado por Salvo.

Não sou contra a prática em si, de encorajar alguém à confessar a Yeshua, mas sou contra o arrazoamento de que isto seja o simples necessário para a Salvação. Na verdade, o que a Torá e Paulo ensinam é que a conversão é fruto da fé, e a confissão é parte desta fé, e que o objeto da confissão não se limita a um simples reconhecimento do Senhorio do Messias.

Antes de entrarmos no texto da Torá, vamos relembrar as palavras do próprio Messias que disse sobre o dia do juízo:

“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.” Mateus 7:22-23.

Somente essas palavras do Messias já seriam o suficiente para questionarmos este entendimento sobre Romanos 10:9 de que basta a confissão de que Yeshua é o Senhor para declarar alguém Salvo. Mas vamos analisar o contexto do texto citado por Paulo da Torá:

“Converter-te-ás, pois, e darás ouvidos à voz do Senhor; cumprirás todos os seus mandamentos que hoje te ordeno. E o Senhor teu Deus te fará prosperar em toda a obra das tuas mãos, no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto da tua terra para o teu bem; porquanto o Senhor tornará a alegrar-se em ti para te fazer bem, como se alegrou em teus pais, quando deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escritos neste livro da lei, quando te converteres ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, e com toda a tua alma. Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.” Deuteronômio 30:8-14.

O texto da Torá afirma, no início do capítulo, que Israel iria se afastar dos caminhos do Eterno, mas que quando as maldições os alcançassem, eles se arrependeriam, e se converteriam ao Eterno de coração e alma, e por causa desta conversão eles se disporiam à obediência.

Este ponto é importante por dois motivos, primeiro porque a própria Torá aponta aqui para a mesma “justiça que vem da fé” defendida por Paulo, em contraposição ao que Paulo denomina “justiça que vem da lei” defendida pelos opositores de Paulo.

O pensamento daqueles do chamado “partido da circuncisão”, que se opunham ao ensino de Paulo e ensinavam que era necessário o gentio se converter ao judaísmo para salvação, era de que a prática da Torá, segundo as interpretações rabínicas, e observância das muitas halachás (mandamento rabínico) era essencial para a salvação.

O manual intitulado como “as importantes obras da Lei”, encontrado entre os manuscritos do Mar Morto, e citado por Paulo na carta aos Gálatas, começa nas primeiras frases afirmando que, aqueles que observassem os mandamentos daquele manual seriam salvos.

Este manual era um compêndio de halachás definidas com base em interpretações rabínicas da Torá, porém, apresentava-se como um manual legalista, que ensinava a salvação por obras.

O que a Torá defende nesta parashá é justamente o oposto disso. No trecho que destaquei acima fica claro que a obediência esperada pelo Eterno é aquela motivada pela conversão, pelo que a Torá chama de “circuncisão do coração”.

É necessário primeiro haver a conversão, para que haja a obediência genuína. Afinal, o verso 14 destaca onde estão os mandamentos da Torá nos convertidos: “Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires”.

O segundo motivo muito importante, é que a Torá, neste texto, deixa claro que não há conversão sem compromisso. Observando as palavras do Messias ele diz: “apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”. Iniquidade é a condição em que o homem vive como se não houvesse lei. O termo no grego aqui é “anomia” (a = partícula de negação / nomia = lei).

Em outras palavras Yeshua estará dizendo aos que se achavam salvos por dizer de Yeshua “senhor, senhor”: “apartai-vos de mim vocês que viveram como se não existisse a Torá”.

A obediência pela obediência, sem haver arrependimento e conversão, como defendiam os adeptos do “partido da circuncisão” não pode salvar. A Salvação é manifestação da Graça de Deus concedida pela fé daqueles que mudaram seu coração de volta à Deus, e o efeito prático na vida destes é que eles são dados à obediência.

Mas Paulo vai fazer um midrash (associação de ideias) dando uma maior profundidade ao texto da Torá. Ele vai dizer: “Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo).”

Paulo está associando o efeito mais profundo da conversão anunciada na Torá, a circuncisão do coração, à obra do Messias. Era o Messias quem iria promover a real conversão de Israel, mudando de fato a natureza do homem, escrevendo a Torá na mente e no coração de Israel, como anunciado pelos profetas.

Assim, ao confessarmos que Yeshua é o Senhor, reconhecemos que Ele é o Messias enviado para transformar a nossa natureza, extirpando o pecado de nós, colocando em nosso coração a Torá. E por esta fé, de que na ressurreição dos mortos seremos como Ele é, buscamos viver em obediência ao Eterno, aprendendo e observando a sua Torá não por imposição ou medo, mas por causa de um coração convertido à Deus.

O Eterno nos abençoe!
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#JustiçaDaFé #JustiçaDaLei
#Conversão #CircuncisãoDoCoração

Comentários

  1. Obediência e testemunhar o amor de Deus,e primordial, é um passo muito importante para a salvação,que está em Jesus.um shabat abençoado,para vocês.

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