O pecado sem perdão.

O capítulo 12 do evangelho de Mateus é um capítulo fascinante. É neste capítulo que encontramos o chamado "pecado sem perdão", que é a blasfêmia contra o Espírito de Deus. Mas, além de nos fazer compreender melhor sobre o que é este pecado, o contexto de Mateus 12 irá nos ensinar sobre muitas outras coisas importantes sobre nossa fé.

O capítulo começa com os discípulos de Yeshua colhendo espigas no Shabat, porque tinham fome.

"Naquele tempo passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas, e a comer. E os fariseus, vendo isto, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado." Mateus 12:1,2.

Neste mesmo capítulo Yeshua ainda seria acusado de realizar curas, e libertar endemoniados no Shabat. Aqueles fariseus chegaram a tal ponto de ira contra Yeshua que o acusaram de expulsar demônios por Belzebu.

O Shabat tornou-se um ponto de atrito constante entre Yeshua e alguns fariseus, isso tudo por causa da maneira como esses fariseus interpretavam a Torá.

A base de toda esta distonia está na citação que Yeshua faz do profeta Oséias:

"Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos." Oséias 6:6.

Enquanto aqueles fariseus buscavam uma aplicação legalista dos mandamentos, Yeshua ensinava e pratica os mandamentos baseado em seus princípios.

A Torá de fato trás a proibição do trabalho no dia de Shabat, porém, os discípulos de Yeshua não estavam trabalhando ao colher espigas, eles o estavam fazendo porque estavam com fome. E não há nenhuma proibição na Torá de realizar curas no Shabat, nem mesmo de cuidar de enfermos.

É bom deixar claro também que os discípulos não estavam roubando o trigo para comer, pois a própria Torá ordenava aos produtores a deixarem alguns grãos para trás para que o pobre, o órfão e o estrangeiro pudessem comer.

Nada do que estava acontecendo ali nos primeiros versos de Mateus 12 violava os mandamentos da Torá acerca do Shabat.

Mas os fariseus acusaram os discípulos, e o próprio Yeshua, de estarem fazendo aquilo que não era lícito fazer no Shabat. Por que disseram não ser lícito? Porque a lei judaica da época é que proibia tal ação.

Para evitar que alguém violasse os mandamentos da Torá, os rabinos desenvolveram um conjunto de normas práticas, chamadas halachá. Apesar de haverem boas halachás, como o de lavar as mãos antes das refeições, os fariseus colocavam sobre elas um peso condenatório que elas não tinham. E essas halachás partiam de uma interpretação legalista dos mandamentos, ou seja, a lei pela lei.

A Torá não apresenta esta visão, pelo contrário, os mandamentos da Torá têm um objetivo final que é a vida:

"Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir." Deuteronômio 32:47.

Foi por isso que Davi comeu dos pães da proposição, que de fato não era lícito a ele comer, e ficou sem culpa. Davi não tinha outra opção, ou ele comia os pães da proposição ou morria de fome. A vida está acima destes mandamentos.

Segundo a própria Torá há apenas quatro classes de mandamentos que estão acima da vida, ou seja, o crente morre, mas não descumpre estes mandamentos. São estes: os mandamentos contra a idolatria, contra a promiscuidade sexual, contra o assassinato, e o não ingerir sangue.

Contra o legalismo dos fariseus Yeshua cita o profeta Oséias, relembrando o princípio da Torá: "Misericórdia quero e não sacrifícios".

Mas há uma mensagem muito mais poderosa, escondida nestes versos de Mateus 12. Porque Yeshua realizava tantos sinais no Shabat? Naquele mesmo dia ele curou um homem com as mãos atrofiadas, curou uma multidão de enfermos, libertou um surdo-mudo endemoniado. Em outras passagens vamos ver Yeshua curando cegos, paralíticos, tudo em um dia de Shabat, porque?

O Shabat é o memorial da criação, mas ele funciona como uma seta dupla. O Shabat aponta para o inicio e para o fim ao mesmo tempo. Ao passo que o Shabat é o memorial da criação, e de que tudo foi criado pelo Eterno e é governado pelo Eterno, ele também nos faz lembrar de que um dia o Eterno restaurará a sua criação como no princípio.

O Shabat aponta para a redenção final, a ressurreição dos mortos, e o reino vindouro do qual Yeshua é o Rei. E este era o ensino apostólico acerca do Shabat, por isso encontramos na carta aos Hebreus:

"Assim, ainda resta um descanso sabático para o povo de Deus; pois todo aquele que entra no descanso de Deus, também descansa das suas obras, como Deus descansou das suas. Portanto, esforcemo-nos por entrar nesse descanso, para que ninguém venha a cair, seguindo aquele exemplo de desobediência." Hebreus 4:9-11.

Ao realizar curas no Shabat, Yeshua estava dando uma pequena demonstração do Reino Vindouro, no dia em que o Reino Vindouro deveria ser lembrado. Nada mais lógico do que fazer essas obras no Shabat.

Mas aqueles fariseus, inchados pelo orgulho, pela vaidade, pela religiosidade e pela prática legalista, mesmo conhecendo a Torá não conseguiram enxergar a nobreza dos atos de Yeshua, nem seus significados. Não conseguiram ao menos enxergar o bem que Yeshua estava fazendo às multidões, aliviando seus sofrimentos, operando vida onde reinava a morte.

Yeshua ainda alerta-os dizendo:

"Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus." Mateus 12:28.

Por estarem cegos pelo legalismo, aqueles homens pecaram contra o Espírito Santo, difamando a obra que Yeshua estava operando. Esta blasfêmia não foi um ato acidental, nem um tropeço, eles estavam decididamente rejeitando ao Messias, difamando a obra do Espírito, apenas por estarem com o orgulho ferido, por não estarem dispostos a reconhecer que estavam errados em suas premissas.

Sobre este pecado o escritor aos Hebreus ainda vai destacar:

"Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério." Hebreus 6:4-6.

Que nunca sejamos cegados pelo orgulho, pela religiosidade e pelo legalismo, mas que estejamos sempre com nossa mente e corações abertos para receber a boa Palavra de Deus, e nunca resistamos ao seu Espírito.

O Eterno nos abençoe!
#Mateus12 #Pecado #SemPerdão
#Shabat #Curas #ReinoVindouro
#EspíritoSanto #Yeshua

Comentários