Jacó e Esaú.

A parashá desta semana (Vayishlách Gn 32:3-36:43) começa narrando o encontro entre Jacó e Esaú, e termina falando sobre a genealogia de Esaú, pai dos edomitas.

Neto de Esaú com Adah, filho de Elifaz, temos nesta parashá o nome de Amaleque. Amaleque foi o pai dos amalequitas, povo que é apresentado na Torá como inimigos terríveis de Israel.

Primeiro embate entre os Amalequitas e Israel aconteceu logo no Êxodo, quando Israel estava atravessando o deserto em direção ao monte Sinai. Israel acabara de atravessar o mar vermelho quando:

“Então veio Amaleque, e pelejou contra Israel em Refidim.” Êxodo 17:8.

Segundo a tradição judaica, os amalequitas atacaram Israel por detrás, pegando desprevenidos os mais velhos e as crianças que andavam mais devagar. Josué foi escalado por Moisés para reunir homens e ordenar batalha contra os amalequitas.

Moisés subiu num monte com Arão e Hur, e, quando estendia os braços, abençoando Israel, Israel vencia os amalequitas, mas quando cansava e abaixava os braços, os amalequitas prevaleciam sobre Israel.

Hur e Arão colocaram uma pedra sob Moisés para que sentasse, e cada um segurou um dos braços de Moisés, sustentando-os, até que Israel vencesse a batalha. Assim, Israel venceu a primeira batalha contra os amalequitas.

Foi neste momento que o Eterno ordenou Moisés a escrever um memorial, e lê-lo para Josué, dizendo: “eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus.” Êxodo 17:14. Diante da vitória naquele momento, e da promessa da vitória vindoura, Moisés edificou um altar e chamou “Adonai Nissi - O SENHOR É MINHA BANDEIRA” (Êxodo 17:15).

Os amalequitas se tornaram o símbolo daqueles que odeiam a Israel, e querem sua destruição. Assim como Amaleque descende de Esaú, irmão de Jacó, o pior tipo de inimigo é aquele que está perto, que vem da mesma família. Quando nosso inimigo é aquele que está perto, que conhece nossas fraquezas, este inimigo tende a ser mais cruel.

Observando o que a Torá diz, Amaleque não foi apenas um inimigo do passado, mas é uma representação profética do futuro. Por isso a Torá diz: “eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus”.

Nesta perspectiva, precisamos fazer um reconhecimento histórico. Desde o início do século II tem nascido em algumas comunidades cristãs um terrível antissemitismo. Podemos perceber o quão terrível foi este antissemitismo nas palavras de alguns “pais da igreja”:

“Os judeus são ‘filhos de meretrizes’” – Justino, o mártir.
“O diabo é o pai dos judeus” – Cipriano.
“As sinagogas são um lugar pior que um bordel ou um bar: refúgio de malandros, toca de feras selvagens, templo de demônios, esconderijo de ladrões e pervertidos, caverna de demônios, uma assembléia de assassinos de Cristo” – João Crisóstomo.
“Os judeus carregam eternamente a culpa pela morte de Jesus” – Agostinho de hipona.

Por causa deste sentimento antissemita que dominou a liderança da igreja nos seus primórdios, vimos na história diversos crimes cometidos contra os judeus por ditos “cristãos”. As cruzadas, os pogroms, a inquisição espanhola, todos esses movimentos surgiram da mesma raiz antissemita cristã.

Se considerarmos que o cristianismo e o judaísmo são religiões irmãs, pois crêem no mesmo Deus, e tem como regra de fé e prática a mesma bíblia, podemos ver como o espírito amalequita ficou bem representado no antissemitismo cristão.

“Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.” Apocalipse 2:5.

Esta advertência foi dada por Yeshua à igreja de Éfeso, uma das sete cartas do apocalipse. Consideramos esta carta uma carta profética, não destinada apenas à igreja localizada em Éfeso, mas à igreja do Messias representada por um evento:

“Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.” Apocalipse 2:4.

Talvez o ‘primeiro amor’ que Yeshua se refere neste verso esteja intimamente ligado ao primeiro amor do Eterno, o qual fica evidenciado pelo profeta Jeremias, falando à Jerusalém:

“Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.” Jeremias 31:3.

Nesta perspectiva, é um mandamento de Yeshua a nós que reconheçamos onde caímos, e retornemos à prática das primeiras obras, ou, às práticas legadas pelos apóstolos, que amavam a Israel e trabalhavam pela sua salvação, como apóstolo Paulo testemunhou:

“Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, exalto o meu ministério; para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles.” Romanos 11:13-14.

Nesta parashá encontramos profeticamente a figura capaz de trazer a correção para esta perversão amalequita: a reconciliação entre Jacó e Esaú. O capítulo 33 de Gênesis narra este encontro emocionante entre os dois irmãos que durante décadas estavam distanciados.

Da mesma forma, esperamos que haja a reconciliação entre judeus e cristãos, crendo que este será o último ato antes da vinda do Messias. Talvez representado pelas palavras de Jacó:

“porquanto tenho visto o teu rosto, como se tivesse visto o rosto de Deus” Gênesis 33:10b.

Que o Eterno nos abençoe!
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