Trabalho e o testemunho a Deus.

A comunidade dos discípulos de Yeshua no primeiro século era conhecida por suas obras. Era uma comunidade militante, que atuava em várias frentes, a fim de apresentarem ao mundo a glória de Deus. Eles ensinavam, anunciavam o Messias com base na Torá e nos Profetas, chamavam os gentios à fé no único Deus, clamavam ao arrependimento de obras mortas.

Mas não ficavam apenas no ensino, eles também ajudavam os mais pobres, órfãos e viúvas, repartiam o que tinham sempre que possível, não se misturavam com o que de corrupto havia nos seus dias, não participavam de festas pagãs e rejeitavam comer daquilo que era ofertado aos deuses, e eram trabalhadores exemplares.

Este deve ser sempre o nosso objetivo. Devemos de fato testemunhar de Yeshua em meio a essa sociedade caída na qual vivemos. E alguns fazem isso com primazia, no que concerne à explanação dos textos bíblicos, no chamado ao arrependimento e a fé em Deus. Porém, outras frentes nas quais devíamos também despontar como discípulos de Yeshua, temos sido negligentes, entre elas o trabalho.

É interessante que este tema não seja abordado com a freqüência necessária nos cultos de estudo bíblico das igrejas. Afinal, o trabalho não é apenas uma necessidade que temos para sobrevivência, mas é principalmente um mandamento do Eterno a nós. E este mandamento foi-nos dados ainda no Éden, antes do pecado.

"E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar." Gênesis 2:15.

Neste verso, no hebraico, aparece os temos "לעבדה ולשמרה" (LeAvdah U'Leshamrah), que são traduzidas por "lavrar e guardar", mas os significados literais destas palavras são "trabalhar e manter".

Assim, desde que Adão foi criado, foi dado a ele uma tarefa de trabalhar e manter o jardim do Éden. O trabalho é designado ao homem desde a sua criação. Não por menos, o apóstolo Paulo, em sua carta aos tessalonicenses, escreveu as seguintes recomendações:

“Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebeu.
Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos, pois que não nos houvemos desordenadamente entre vós, nem de graça comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes.
Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão.
E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão.” 2 Tessalonicenses 3:6-15

É interessante como Paulo apresenta a questão do trabalho como uma tradição que deveria ser imitada pelos demais discípulos. Paulo, como ministro e apóstolo, tinha todo o direito legítimo de receber pelo trabalho que fazia relacionado ao cuidado espiritual da comunidade.

De fato, em outros momentos, ele recebeu ajuda financeira dos filipenses, enquanto estava no ministério. Mas, em outros momentos ele optou por trabalhar secularmente, além do trabalho como ministro, com dois objetivos claros: não ser pesado para a comunidade dos discípulos, e, dar exemplo para os demais discípulos.

Infelizmente, o que vemos hoje são pessoas engajadas no ministério visando os ganhos financeiros que alguns conseguem. Isso vai à contramão do que o apóstolo ensinou como tradição.

Não que não seja legítimo que um ministro que atue em uma comunidade tenha o direito de ser sustentado por ela. Mas o objetivo principal do ministro nunca pode ser o ganho financeiro. Sempre que possível, espera-se que, o que deseja prosperar, consiga a prosperidade através do trabalho.

Mas, a admoestação de Paulo nesta carta não é direcionada a ministros, mas sim a pessoas preguiçosas que estavam aproveitando da boa fé dos crentes para viverem de doações e ajudas.

Era uma característica marcante dos crentes do primeiro século a disponibilidade em ajudar pessoas necessitadas. Vimos isto no artigo em que falamos de Ananias e Safira. E pessoas oportunistas estavam aproveitando da boa fé para viverem sem ter que trabalhar.

Paulo adverte essas pessoas para que trabalhem, e consigam através do trabalho o seu sustento. E não somente isso, mas aos Efésios Paulo complementa este mandamento, dando a ordenança para que, com o trabalho, não consigam apenas o próprio sustento, mas também ajudar a sustentar os necessitados.

“Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade.” Efésios 4:28.

Temos visto que o trabalho é um mandamento dado ao homem desde a criação no Éden, e a ordem do trabalho veio conjugado com a ordem para manter o Éden. O que aprendemos com a Torá é que o trabalho não tem o simples objetivo de alcançar prosperidade. Mas tem o objetivo de fazer do mundo um lugar melhor de se viver. Adão deveria trabalhar e manter o jardim. Ele tinha que fazer do jardim um lugar melhor, e mantê-lo sempre melhorando. Por isso Paulo recomenda “fazendo com as mãos o que é bom”.

Ao realizar nossas atividades profissionais, devemos fazê-las tendo em mente que pequenas ações podem fazer do ambiente de trabalho um ambiente melhor, fazer das pessoas com quem trabalhamos pessoas melhores, e a empresa em que trabalhamos uma empresa melhor.

Para isso são fundamentais a ética e a moral, combinadas com entusiasmo, empatia e simpatia, e foco em atividades que vão produzir um bem maior, que resulte em valorização dos produtos e serviços prestados, gerando satisfação aos clientes, fazendo do mundo um lugar melhor. E não se engane, isso não é um mero trabalho, mas é uma forma de fazer a glória de Deus ser manifestada através de sua vida.

Infelizmente, muitos têm uma visão de que vida espiritual não se mistura com a vida secular. O que a Torá e os apóstolos ensinam é justamente o oposto. A vida espiritual não se separa da vida secular. As atividades seculares podem, e devem produzir frutos espirituais.

Que o Eterno nos abençoe!
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