A carta do apóstolo Paulo aos Gálatas é um claro desabafo
contra o legalismo. O legalismo, como já definimos aqui neste blog algumas
vezes, consiste na deturpação da Torá. No legalismo, a Torá deixa de ser o meio
para ser o fim. Assim, o legalista obedece a Lei de Deus simplesmente porque
essa é a Lei, e não para conhecer a Deus e servi-lo com qualidade.
Mas, o legalismo tem outra faceta terrível, ela dá à Lei o
peso de salvação. Para o legalista, não é apenas uma questão de fazer o certo,
mas uma questão de ser justificável diante de Deus quando julgado. Em suma, o
legalista acredita que o fato de obedecer aos mandamentos de Deus pode livrá-lo
do juízo sobre seus pecados, como se um acerto pudesse eliminar um erro.
Essa visão deturpada da Lei ganha algum fundamento dentro da
seguinte argumentação: Se a obediência à Torá não nos justifica, então
pequemos, pois Deus tudo perdoa. Paulo cita essa acusação feita por seus
oponentes na sua carta aos romanos:
“Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a
graça abunde?” Romanos 6:1.
Por isso, em sua carta aos Gálatas, Paulo vai ensinar qual a
única maneira efetiva de combater o pecado, sem cair nos laços do legalismo.
“Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a
concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito
contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que
quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.”
Gálatas 5:16-18.
Segundo Paulo, a única maneira efetiva de lutar contra o
pecado é sendo cheio do Espírito Santo, e ser guiado por Ele. A expressão que
Paulo usa “debaixo da lei” para dizer que os que são “guiados pelo Espírito não
estão debaixo da lei” é no sentido de “oprimido pela lei”.
Os legalistas de fato estão opressos pela Lei, pois eles
precisam cumprir a Lei a fim de ter a sua consciência tranquila diante de Deus,
como se sua salvação dependesse unicamente de sua capacidade em fazer o certo.
E, por violarem o mandamento de Deus, pois eles acabam
pecando, cria em suas consciências o peso do pecado, a culpa. Aos romanos Paulo
vai ensinar que:
“Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para
com todos usar de misericórdia.” Romanos 11:32.
Óbvio que aqui Paulo não está dizendo que foi Deus quem fez
com que os homens pecassem, o que ele está dizendo é que a desobediência de
cada um tem o mesmo peso de pecado diante de Deus. Seja judeu, seja grego, os
pecados de todos os homens têm o mesmo peso diante de Deus. Desta forma, todos
carecem da mesma misericórdia, do mesmo perdão.
Mas a própria Torá também anuncia que é a misericórdia de
Deus, sua Graça, que nos garante Salvação:
“Passando, pois, o Senhor perante ele, clamou: O Senhor, o
Senhor Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em
beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a
iniqüidade, e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente;
que visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos
até a terceira e quarta geração.” Êxodo 34:6-7.
No original, a palavra traduzida por “beneficência” é “chessed”
que na verdade significa “graça”. Assim, o texto diz que o Eterno é grande em
Graça e Verdade, e que Ele guarda consigo a Graça que perdoa os pecados.
Essa passagem é muito interessante, pois anuncia que o
Eterno é aquele que usa de sua misericórdia, ao mesmo tempo em que julga e trás
juízo. Ele é quem tem o poder de salvar, ao conceder a sua Graça, e de
condenar, ao exercer seu juízo.
Assim, a Torá atesta que a Salvação não está nas obras que o
homem pode realizar, mas na misericórdia de Deus que perdoa nossos pecados. A
graça guardada no Eterno, anunciada no verso 7 de Êxodo 34, foi manifestada
através de Yeshua. Por isso o evangelista e apóstolo João escreveu:
“E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por
graça.” João 1:16.
Mas se a salvação é pela graça de Deus, revelada através da
obra do Messias Yeshua, o que fazemos com o pecado? Lembre-se da acusação dos
legalistas: “Permaneceremos no pecado?”. Paulo ensina que, o viver daquele que
está unido ao Messias Yeshua, unido a essa graça de Deus que perdoa os pecados,
não tem consonância com a vida pecaminosa:
“E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas
paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.”
Gálatas 5:24-25.
Antes, ele havia falado que, ao andar em Espírito, não
cumpriremos as concupiscências (desejos) da carne, e não estaríamos oprimidos
pela Lei. Mas a explicação melhor sobre essa dinâmica está na carta aos Romanos:
“Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as
coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito.
Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e
paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é
sujeita à LEI DE DEUS (Torah), nem, em verdade, o pode ser. Portanto, os que
estão na carne não podem agradar a Deus. Vós, porém, não estais na carne, mas
no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem
o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.” Romanos 8:5-9.
A Graça de Deus se manifesta a aqueles que entram na Nova
Aliança através da obra de Yeshua não somente perdoando os pecados, mas também
capacitando-os espiritualmente a obedecerem aos mandamentos de Deus. Por isso a
Torah, apesar de não salvar, tem grande relevância para estes.
Assim, a obediência aos mandamentos, para aqueles que estão
na Nova Aliança, não é fruto de uma imposição, ou uma obrigação, mas fruto de
uma inclinação interior, que conduz o homem à uma vida de santidade.
Apóstolo Paulo ensina que a Lei é espiritual. Assim, a
melhor maneira de sermos obedientes à Deus é sendo inclinados pelo seu
Espírito, na revelação sobrenatural de sua Palavra em nosso interior, mudando a
nossa natureza, antes pecaminosa, e agora obediente.
Não que sejamos perfeitos, ou que o pecado tenha sido erradicado
de nossas vidas, mas a nossa tendência agora é, a cada dia que passa,
atingirmos um nível melhor de obediência. Ainda temos que lidar com o pecado. Ainda
precisamos nos arrepender e nos refugiar na Graça de Deus, mas sentimos que
essa Graça tem nos transformado de dentro para fora, e por isso aumentamos ainda
mais a nossa confiança de que em Yeshua temos a Salvação.
Que o Eterno nos abençoe!
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