Colossenses 2:16 e a Torá!

Na carta de Paulo aos Colossenses encontramos um mandamento apostólico que, além de pouco observado, é pervertido pelos mestres atuais:

“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados.” Colossenses 2:16.

Sempre que falamos acerca das vantagens de celebrar as festas bíblicas, como o shabat por exemplo, surge um ou outro que lança este texto de Paulo, fazendo justamente o que ele ordena não fazer: julgando-nos pelo que comemos, ou deixamos de comer, e por causa das festas que o Eterno estabeleceu.

A ordem apostólica é não julgar. Isso compreende tanto em não julgar quem não pratica, como não julgar quem pratica.

Já falamos em um pequeno artigo que o objetivo desta carta era levar os colossenses à uma fé não fingida, e não baseada em doutrinas humanas, mas no pleno conhecimento da vontade de Deus, expressa em seus mandamentos.

Naquele período da história da igreja, haviam dois grupos antagônicos que disputavam e tentavam angariar cada vez mais adeptos. De um lado os legalistas que queriam fazer dos gentios prosélitos do judaísmo, muitas vezes julgando os gentios crentes por celebrarem as festas sem passarem pela circuncisão, de outro lado gnósticos e antissemitas que julgavam os gentios crentes por fazerem parte de festas tipicamente judaicas.

Ambos os grupos erravam em suas premissas básicas, e, voltar-se a uma ou a outra vertente seria um erro. Paulo escreve aos colossenses a fim de dar a eles uma visão mais clara sobre o que é santidade, e quais os fundamentos que os habilitariam a guardar as festas e as leis alimentares.

Mas, antes de apresentar as perspectivas de Paulo sobre o assunto, vamos entender os equívocos de ambos os grupos.

Primeiro, sobre os legalistas, que queriam fazer de todos os gentios crentes prosélitos do judaísmo, a premissa era o enfoque na religião judaica como a única verdadeira, e a prática religiosa como o único meio de alcançar redenção. 

A verdade é que, essas premissas sustentadas pelos legalistas do primeiro século são exatamente as mesmas sustentadas pela maioria das igrejas cristãs de nosso tempo. Não é difícil encontrar um cristão que sustente a tese de que a sua denominação é a única religião verdadeira, e que sustente as suas práticas religiosas como meios para alcançar a redenção.

Eu já ouvi pastores, que foram meus pastores, exortando a igreja dizendo que quem não frequenta a escola dominical, não frequenta os cultos, e não contribuem com seus dízimo e ofertas, não “subirão no arrebatamento”, ou que não “receberão a benção”. Se você é evangélico é bem provável que já tenha ouvido coisa parecida.

Ora, o que é isso senão uma visão cristianizada do mesmo tipo de legalismo que Paulo combateu? Então a redenção, a restauração da natureza humana através de um novo nascimento, a reunião com o Eterno através do sacrifício do Messias ficou reduzido a participar de uma reunião religiosa e contribuições financeiras?

Ser salvo no Messias é muito mais que isso! Não que não seja importante estudar a bíblia, ou contribuir com a comunidade, mas os valores destas coisas estão muito maximizados pelo cristianismo. E a verdade é que, em muitas comunidades cristã, o simples participar delas acaba nos afastando de Deus, através de ensinos falsos e práticas reprovadas por Deus.

Tenha muito cuidado ao escolher a comunidade na qual você estará frequentando para alimentar sua fé. Muito cuidado ao escolher o pastor que será seu líder. Escolha alguém que ame ao Eterno e abomine a religião. Pois a religiosidade, seja ela qual for, é um veneno para a fé.

Mas, ao mesmo tempo em que Paulo combateu os religiosos legalistas, ele também combateu os antissemitas gnósticos. Para esses a fé consistia apenas em ser moralmente correto, e ser desprovido de qualquer apego físico. Os gnósticos entendiam que o corpo era mau, e que tudo que satisfizesse o corpo era mau. Valorizavam a morte, a pobreza e a privação. Por não entenderem muitos aspectos da Torá, combatiam a guarda de mandamentos como as celebrações das festas, e tinham a alimentação com mais privações do que aquelas dadas na Torá.

Esses gnósticos antissemitas classificavam os judeus como aqueles que receberam os mandamentos, mas não os compreenderam. Por não terem reconhecido Yeshua como o Messias, foram rejeitados e perderam a sua aliança com Deus, e mesmo aqueles que haviam crido em Yeshua deveriam provar sua fé rejeitando todas as tradições e a própria nacionalidade judaica.

O cristianismo moderno comprou todas essas ideias. Para a maioria dos cristãos, um judeu crente em Yeshua não pode continuar sendo judeu, ele precisa passar a ser e viver como um cristão.

Para evidenciar o quanto essas ideias estão equivocadas, basta lermos alguns versos que Paulo escreveu aos romanos:

“DIGO pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência d’Abraão, da tribo de Benjamim. Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Digo pois: Porventura tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum, mas pela sua queda veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude! Porque convosco falo, gentios, que, enquanto for apóstolo dos gentios, glorificarei o meu ministério; para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne e salvar alguns deles. Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos? E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.” Romanos 11:1-2a;11-13;15;17-18.

A visão do apóstolo Paulo sobre Israel é claríssima: Israel continua sendo o povo da Aliança, e o gentio não pode se vangloriar contra Israel. O fato do gentio crer no Messias deve ser um fator de aproximação do gentio a Israel, e não ao contrário. O antissemitismo é um grave problema que deve ser enfrentado. Os gentios, por crerem em Yeshua, devem se sentir enxertados em Israel. Israel que é a figueira, não os gentios. Os gentios são apresentados por Paulo como zambujeiros.

O antissemitismo cristão é como aquele ramo que está se desconectando do tronco principal, seu destino é a morte espiritual.

Ainda observando a figura do enxerto apresentado por Paulo, ao estarmos conectados a Israel pela fé no Messias, recebemos de Israel a seiva que nos sustenta. O que seria essa seiva senão a Torá, que é comparado ao alimento. É na Torá que encontramos os ensinos mais profundos a respeito de Yeshua, nosso Messias, sua obra em nós, o caráter que Ele imprime em nós através do seu Espírito, e a verdadeira moral que nos faz exercer a justiça e a paz com nosso próximo.

E, não há como separar a Torá em castas de leis e ficarmos com o que gostamos e recusarmos o que não entendemos. A igreja resolveu separar a Torá em “mandamentos da velha aliança” e “mandamentos da nova aliança”, ou em “leis morais” e “leis cerimoniais”. O Eterno é UM, o Messias é UM, e a Torá também é UMA, por isso:

“Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.” Deuteronômio 4:2.

Assim, devemos, como Paulo ensina, focar nossa fé e nossa conduta nas coisas que são de cima, não com religiosidade, mas com entendimento. As festas bíblicas são um capítulo especial neste particular, e, se compreendermos bem, veremos que Paulo estava, na verdade, incentivando os colossenses a celebrarem as festas.

“Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” Colossenses 2:16-17.

Perceba como Paulo constrói a relação de causa e efeito: “Estais circuncidados (...) Portanto ninguém vos julgue (...) Que são” (versos 11, 16 e 17). Os gentios estão circuncidados no Messias, portanto ninguém deve julgá-los pelas festas ou alimentos, que são imagens (sombras) do Messias e das coisas vindouras.

As festas apontam para a obra do Messias, e celebrá-las com entendimento nos leva a reconhecer as coisas que ainda estão por vir, pois as festas são proféticas. O fato dos gentios estarem circuncidados no Messias os habilita a participarem das festas, por isso ninguém pode julgá-los.

Nossa fé em Yeshua deve nos aproximar de Israel, pois recebemos a mesma seiva que é a Torá, com suas promessas e alianças. Não podemos nos deixar ludibriar pela religiosidade, seja de qual religião for, mas atentos para a realidade do nosso relacionamento com o Eterno, e o pleno conhecimento de sua vontade para nós, expressa em sua Torá.

Que o Eterno nos abençoe!
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