Como entender Gálatas 5?

“ESTAI, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” Gálatas 5:1.
 
Se queremos entender corretamente o capítulo 5 da carta do apóstolo Paulo aos Gálatas, devemos fazer duas perguntas sinceras: qual a liberdade conquistada pelo Messias, e qual a prisão que devemos nos manter livres dela.

A resposta a essas duas perguntas nos levará a compreender mais profundamente, não só a carta aos Gálatas, mas também a mensagem do evangelho.

A teologia cristã normativa afirma que, neste capítulo 5 de Gálatas, Paulo estava se referindo à Torá. Desta forma, guardar o Shabat, as festas, as restrições alimentares, é prender-se novamente a um jugo do qual o Messias nos libertou.

Nesta leitura, deveríamos assumir primeiro que essas coisas (Shabat, festas, restrições alimentares) são prisões, e que a obra do Messias consistiria em libertar-nos delas. No entanto, quem deu o Shabat, as festas e as restrições alimentares na Torá foi o Eterno. Toda a Torá foi dada pelo Eterno a nós. E o Eterno é claro em afirmar que o propósito destas leis era produzir em nós vida.

E esse é apenas o começo das contradições que teremos de assumir caso venhamos a validar esta leitura equivocada de Gálatas capítulo 5.

Em suma, teríamos que assumir que o Messias veio para desfazer as obras do Pai. Imagine o Pai enviando Yeshua, e se alegrando ao ver Yeshua desfazendo tudo o que Ele mesmo havia instituído para dar vida ao seu povo. Nessa leitura maluca teríamos um Deus que enganou seu povo ao dar a eles uma Lei que tinha a finalidade de dar vida, mas que na verdade servia de prisão, e que, para consertar as coisas, mandou seu Filho para desfazer tudo e estabelecer uma nova aliança, desconectada dos feitos anteriores. Ou, assumir que Yeshua é um filho rebelde que desfez a obra do Pai.

De todas as formas essa leitura de Gálatas 5 nos leva a absurdos. Mas, se essa não é a leitura correta do capítulo 5 de Gálatas, qual seria? 

Até mesmo as criancinhas assíduas da escola dominical pode nos ajudar nessa compreensão. Pergunte a qualquer uma delas: do que Jesus te salvou? Elas responderão cantando: 

“O sabão lava meu rostinho, lava meu pezinho, lava minhas mãos, mas Jesus, para me deixar limpinho, quer lavar meu coração. Quando o mal faz uma manchinha, eu sei muito bem quem pode me limpar, é Jesus, eu não escondo nada, tudo Ele pode apagar” (se você foi aluno assíduo da escola dominical creio que você leu cantando).

Yeshua veio nos libertar dos nossos pecados, dos vícios, das nossas fraquezas. Yeshua veio para desfazer as obras do diabo, e veio para nos garantir a Expiação dos nossos pecados.

Ótimo, acho que não resta dúvida alguma quando à resposta à primeira pergunta: do que Yeshua nos libertou? Dos nossos pecados e das consequências maléficas que nossos pecados nos trazem.

Mas, se Yeshua nos libertou dos nossos pecados, qual a prisão que Paulo alerta os Gálatas a se manterem libertos dela ao dizer:

“Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído.” Gálatas 5:2-4.

Paulo está direcionando seu alerta a aqueles que se deixam circuncidar. E quem são esses que se deixam circuncidar? Com certeza não são os judeus, pois o judeu é circuncidado ao oitavo dia de seu nascimento, e o rabino não pergunta ao bebê se ele aceita ser circuncidado. Quem circuncida o bebê são seus pais. O bebê não se deixa circuncidar.

Paulo está falando de gentios adultos que estavam se deixando circuncidar, pois estavam se deixando levar pelo ensino dos legalistas que apareceram em Atos 15:1 dizendo:

“ENTÃO alguns que tinham descido da Judeia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos.” Atos 15:1.

A prisão que Paulo se refere, da qual devemos nos manter longe para viver a liberdade que o Messias conquistou para nós é o legalismo e a religiosidade. É a confiança em suas ações e em sua religião para ser salvo, desprezando assim a obra do Messias na cruz.

Podemos expandir este entendimento para os nossos dias, e acrescentar que, se você acha que alguém para ser salvo tem que fazer parte da sua denominação, ou professar o mesmo conjunto de dogmas que você, você está debaixo de uma prisão, desfazendo a obra de Yeshua na sua vida.

Foi do pecado que o Messias nos libertou, mas ao assumir um viés legalista e religioso para sua salvação, você está desfazendo a obra do Messias, e aprisionando-se novamente debaixo do jugo do pecado.

O legalismo favorece o pecado, e não o combate, apenas torna a mente do legalista obtusa, de maneira que ele está imerso no pecado, mas acredita que está vivendo em justiça.

Olhe para os legalistas entre os fariseus aos quais Yeshua os repreendeu. Eles dizimavam até as hortaliças, mas não consideravam o principal da Torá; a misericórdia. Da mesma forma os legalistas da atualidade (e são muitos) são extremamente ávidos em criticar e julgar todos os que pensam diferente, e até mesmo os mais fracos na fé. Agindo dessa forma ignoram completamente o mandado de Yeshua: “NÃO julgueis, para que não sejais julgados.” Mateus 7:1.

Paulo não está se opondo à Torá, ao Shabat, às festas ou às restrições alimentares. Paulo está se opondo ao legalismo e à religiosidade. Quando entendemos o que de fato é celebrar o Shabat, e as festas, vamos entender o qual alinhadas essas coisas são com a obra de Yeshua. Celebrar essas festas é celebrar a obra de Yeshua em nós.

Que o Eterno nos abençoe!
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