Não ao proselitismo, e não à teologia da substituição (uma leitura de Efésios 2).

 “Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo.

Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.

Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades.” Efésios 2:11-16.

 

Em sua carta aos Efésios, o apóstolo Paulo trata da nova realidade dos gentios que creram no Deus de Israel e no seu Messias Yeshua. Esse assunto era de primeira necessidade naquele momento devido aos problemas que essa comunidade estava sofrendo.

 

De um lado, o apóstolo precisava dar uma resposta adequada aos “judaizantes” (assista nosso vídeo “O que é judaizar”, https://www.youtube.com/watch?v=7t86HfKXxCU). De outro lado, estava-se começando a desenhar-se o que viria a ser conhecido como a “teologia da substituição”.

 

A “teologia da substituição” é a doutrina na qual acredita-se que a Igreja substituiu a Israel nos planos de Deus. Essa doutrina é bastante antiga, e a vemos sua apresentação, já bastante organizada, no documento intitulado “Epístola de Barnabé”. Este documento provavelmente foi produzido no final no primeiro século ou início. Mas essa teologia também aparece nos documentos produzidos pelos teólogos conhecidos como “pais da Igreja”. Dentre eles, o mais antigo é Inácio de Antioquia, que no documento intitulado “Carta aos Magnésios” defende os pontos mais importantes desta teologia.

 

Sendo uma doutrina tão antiga, é provável que seu desenvolvimento se deu justamente no período apostólico, entre as décadas de 60 e 80 do primeiro século. E isso não passou desapercebido dos apóstolos, principalmente Paulo.

 

Por isso, quando lemos Efésios 2, Romanos 11, 1 João, 3 João, vemos que os apóstolos estavam, na verdade, apresentando respostas a essa doutrina, contrariando-a em seu âmago.

 

No caso de Efésios 2, vemos claramente que o apóstolo Paulo destaca que, através da obra do Messias, o gentio é aproximado à comunidade de Israel, sendo feito participantes das promessas da aliança que o Eterno tem estabelecido com seu povo Israel. Ao mesmo tempo em que, com essas mesmas palavras, Paulo se opõe aos legalistas “judaizantes” que queriam impor aos gentios a conversão ao judaísmo para que fossem salvos. (Se você assistiu ao vídeo, entendeu melhor este parágrafo).

 

Mas no verso 15 os antinomistas (que pregam a anulação da Torá) utilizam da tradução para embasar seu discurso, pois neste verso a tradução diz que: “Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz”.

 

O discurso dos antinomistas se resume em que, através do sacrifício de Yeshua, Deus rasgou a sua Torá que consistia em sacrifícios e cerimoniais. Dessa forma, acabou a inimizade entre os povos.

 

Em uma leitura superficial, o que os antinomistas propõem é que Israel estava aprisionado em cerimoniais, dos quais, através do sacrifício de Yeshua eles foram “libertos”, sendo feitos iguais aos gentios.

 

Não precisa de muito para perceber o quanto essa leitura é equivocada e não condiz em nada com o que o apóstolo escreveu versos antes, dizendo: “Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto.” Efésios 2:12,13

 

É obvio, pela leitura dos versos 12 e 13 que os gentios que são aproximados à Israel mediante a obra do Messias, e não o contrário. E que é Israel quem detêm as promessas da aliança estabelecida com Deus. Assim, no verso 14, os gentios são unidos à Israel fazendo um só povo, o povo de Deus.

 

Mas como compreender o verso 15? O que é “a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças” e que foram desfeitos pelo sacrifício do Messias?

 

Quando olhamos para o original grego encontramos a expressão “ton nomon ton entolon en dogmasin” que é traduzido literalmente por “a lei das ordens nos dogmas”. Assim, olhando para o original, vemos claramente que Paulo não está se referindo aos mandamentos da Torá, como a tradução erroneamente sugere, mas sim aos dogmas religiosos do judaísmo que afastavam os gentios da comunidade de Israel.

 

A obrigação de um gentio passar pelo processo de proselitismo para ser aceito como parte da comunidade de Israel é desfeito pela obra do Messias, que, pela Graça de Deus, perdoa os pecados dos gentios, e os fazem participantes da promessa de acesso ao Reino Vindouro, que é dada inicialmente aos israelitas.

 

A controvérsia do legalismo judaico gerou uma profunda discussão sobre o tema em Atos 15, que na ocasião ficou destacado que, mesmo os judeus, necessitam da Graça perdoadora do Eterno, através da obra do Messias, para que possam fazer parte da mesma promessa: “Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, como eles também.” Atos 15:11.

 

A questão que talvez ainda não tenha sido percebida até o momento, é que, estes mesmos argumentos que Paulo e Pedro usam contra o legalismo do proselitismo judaico, ferem de morte também a teologia da substituição.

 

Pois a defesa dos apóstolos é de que é justo que o gentio crente em Yeshua seja recebido pela comunidade de Israel como participantes da mesma aliança, e se o gentio é trazido para dentro da comunidade de Israel, para fazer parte da mesma aliança, é óbvio que este gentio não está posto a substituir Israel, mas para caminhar junto com Israel, aprendendo as mesmas leis, praticando os mesmos princípios.

 

Exatamente por isso que Paulo defende, na carta aos Colossenses, que ninguém poderia julgar os gentios por participarem das festas bíblicas e do Shabat, pois eles também haviam sido circuncidados com a circuncisão do Messias: “No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, pela circuncisão de Cristo” Colossenses 2:11.

 

O que se destaca entre o tratamento para com os gentios, é que, aos gentios crentes a Torá não deve ser imposta, mas sim ensinada para que a mesma fé que levou o gentio a reconhecer Yeshua como o seu Messias, o conduzisse à obediência aos demais mandamentos da Torá.

 

Assim, o que vemos é que os mesmos argumentos utilizados por Paulo para desmontar os argumentos dos legalistas proselitistas do judaísmo, também desmonta os argumentos da teologia da substituição.

 

Somos enxertados em Israel, e só atingiremos a plenitude de nossa fé quando entendermos a importância que Israel tem para nossa fé e para a consolidação do Reino Vindouro.

 

Que o Eterno nos abençoe!

#Fé #Religiosidade #TeologiaSubstituição #Proselitismo #Yeshua #Enxerto #ReinoVindouro  

 


Comentários