"Ouviste o que foi dito aos antigos...". Mas será que você ouviu certo?

Nos dias de Yeshua, Israel estava vivendo debaixo da dominação romana. Os romanos impunham sobre Israel algumas leis que humilhavam o povo judeu. 

Por exemplo, qualquer soldado romano tinha o direito de ordenar a um judeu que carregasse seu equipamento por uma distância de até mil passos. Ou, poderia também tomar compulsoriamente a capa de um judeu, caso necessitasse.

Com o apoio destas leis, os soldados romanos usavam e abusavam dos judeus, essa situação humilhante era como um tapa na cara dos judeus. O desejo de libertar-se da dominação romana, e a insatisfação com as muitas injustiças praticadas, levaram muitos a associarem-se a movimentos nacionalistas, como os zelotes.

Os zelotes desejavam a liberdade de Roma de todo o jeito, e para isso lançavam mão de todos os recursos que tinham, inclusive o assassinato. Eram violentos e vingativos. Agiam na surdina, armavam emboscadas, usavam técnicas de guerrilha e espalhavam o medo nas tropas romanas.

Esse contexto é essencial para entendermos as palavras de Yeshua no final do capítulo 5 do evangelho de Mateus:

“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.” Mateus 5:38-41.

Muitos teólogos cristãos olham para este texto e dizem: “Jesus anulou a lei de Moisés, apresentando uma nova lei, melhor adaptada para uma sociedade mais evoluída”. Este pensamento equivocado parte de uma leitura incorreta sobre a Torá que diz:

“Mas se houver morte, então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe. E quando alguém ferir o olho do seu servo, ou o olho da sua serva, e o danificar, o deixará ir livre pelo seu olho. E se tirar o dente do seu servo, ou o dente da sua serva, o deixará ir livre pelo seu dente.” Êxodo 21:23-27

Como fica evidente nos versos 26 e 27, este princípio da Torá tem a finalidade de estabelecer as compensações financeiras pelo delito praticado. Assim esse texto foi entendido pelos rabinos de Israel, e assim foi aplicado.

Mas alguns poderiam estar deturpando o objetivo deste princípio, para justificar as atitudes vingativas dos zelotes contra os romanos. Diante desta perspectiva, Yeshua resgata o ensino na Torá referente à vingança. Ao dizer “eu porém vos digo, não resistais ao homem mau”, Yeshua está fazendo uma citação do cântico de Moisés que diz:

“Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder, se apressam a chegar.” Deuterônomio 32:35.

É necessário entendermos que é um mandamento da Torá perseguir a justiça, e manifestar toda a nossa indignação com a injustiça, levando todos os infratores à responderem ao devido processo legal, que através de um julgamento justo, estabeleça a justiça. Este é o ensino que permeia toda a Torá.

Mas a Torá alega que haveria um momento em que Israel se afastaria do Deus vivo, e que, por causa de seus pecados, seriam dominados pelos estrangeiros, sofrendo diversas injustiças. E que neste tempo clamariam ao Eterno, e o Senhor vingaria o seu povo.

Aqueles zelotes estavam cometendo diversas injustiças e assassinatos, achando que estavam agindo corretamente. Mas o ensino da Torá é contra qualquer tipo de vingança e de executar ”justiça” com as próprias mãos. À Deus pertence a vingança, e só Ele tem a capacidade de executa-la de forma justa.

Essas palavras de Yeshua tem muito a nos ensinar hoje. Pois, assim como os judeus do tempo de Yeshua, vivemos debaixo da dominação de homens maus. Homens que pervertem a justiça por suborno, que transformam a mentira em verdade, que oprimem pelo medo.

Muitas vezes somos tomados pelo ódio contra políticos e autoridades que claramente agem com hipocrisia, visando a manutenção do poder, e, pouco se lixando para a saúde, bem estar e segurança da população. Que inflam o medo para impor seu domínio. Que tiram o sustento dos mais pobres para favorecer os mais ricos.

É legítimo indignar-se com tamanhas injustiças. É legítimo desejar que a justiça seja executada. Mas não é legítimo ofender, agredir, ou buscar vingança contra estes e contra os que os apoiam.

Primeiro devemos entender que é de Deus que virá a vingança, e, em suas mãos devemos por todas essas questões. E devemos olhar por nós, para que nós mesmos sigamos praticando a justiça, pois temos a convicção de que o Eterno vingará o seu povo contra toda a injustiça.

Yeshua não anulou a Torá, mas resgatou o seu verdadeiro ensino, apregoando que a nossa esperança deve estar no Reino Vindouro, onde o Messias restaurará o reino a Israel, fazendo participantes deste Reino todos aqueles que amam e praticam a justiça.

O Eterno nos abençoe.

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