O Shabat e a Torá

“Assim diz o SENHOR: Guardai o juízo, e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, para se manifestar. Bem-aventurado o homem que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão disto; que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum mal.” Isaías 56:1,2.

 

A perseverança é a condição mais requerida do justo. Uma vez que somos alcançados pela graça perdoadora de Deus, que nos coloca no caminho da justiça, precisamos prosseguir e perseverar neste caminho de Salvação.

A Salvação não é pelas obras, pois nada do que possamos fazer é capaz de cobrir os pecados que cometemos. Mas a prática das boas obras é esperada daquele que foi tirado do reino das trevas e transportado para o reino da luz. Se morremos para o pecado como viveremos nele ainda?

Portanto, é requerido de nós que perseveremos no caminho da Salvação, no qual fomos colocados pela Graça de Deus.

Este texto de Isaías 56 trará a tônica dois aspectos importantes que o justo deve perseverar: guardar-se de praticar o mal, e guardar-se de profanar o Shabat.

Esta expressão deve trazer muita estranheza, principalmente considerando que a grande parte do mundo cristão não entende e nem sabe o que significa “guardar o Shabat”. Infelizmente, devido a graves distorções históricas, o tema do Shabat que era tão facilmente compreendido pelos primeiros discípulos de Yeshua, se tornou um grande tabu.

É importante que se diga que o profeta está sim falando do sétimo dia da semana, o dia separado por Deus desde a criação, e dado aos filhos de Israel como sinal de uma aliança nos dez mandamentos.

O Shabat, ao contrário da grande celeuma criada em torno dele, é tão claro nas Escrituras, tanto no antigo como no novo testamento, que é estranho como que por quase dois mil anos o cristianismo ainda consegue ignorá-lo. Quando não o desprezam, alteram-no para o primeiro dia da semana, e quando não fazem nenhum dos dois, ressuscitam o legalismo que foi tanto combatido por Yeshua e seus apóstolos. É muito difícil encontrar um cristão que compreenda o Shabat e sua importância.

Acima de qualquer coisa o Shabat é um sinal, um memorial estabelecido por Deus na Criação. Este memorial aponta para dois momentos fundamentais para nossa compreensão da vida e da eternidade. Primeiro, o Shabat aponta para o fato de que Deus é o Criador dos céus e da terra, e o nosso Criador. Temos uma origem, surgimos porque Deus nos quis, ele nos desejou e nos formou à sua imagem e semelhança. Por isso, não somos donos de nós mesmos, mas temos um Deus a quem devemos prestar contas, pois Ele nos criou.

Mas o Shabat aponta para outro evento na história, que ainda é aguardado por todos os justos: A Vinda do Reino de Deus. E quem melhor expressa esta realidade é o autor da carta aos hebreus, que diz:

“Porque nós, os que temos crido, é que entramos no descanso, tal como disse: Assim jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso; embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo; pois em certo lugar disse ele assim do sétimo dia: E descansou Deus, no sétimo dia, de todas as suas obras; e outra vez, neste lugar: Não entrarão no meu descanso. Visto, pois, restar que alguns entrem nele, e que aqueles a quem anteriormente foram pregadas as boas novas não entraram por causa da desobediência, determina outra vez um certo dia, Hoje, dizendo por Davi, depois de tanto tempo, como antes fora dito: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações. Porque, se Josué lhes houvesse dado descanso, não teria falado depois disso de outro dia. Portanto resta ainda um repouso sabático para o povo de Deus.” Hebreus 4:3-9.

Assim, vemos que o Shabat é também um sinal, um memorial da nossa esperança, e da necessidade de nos esforçar para entrar nesta esperança. Guardar o Shabat é mais do que simplesmente guardar o sétimo dia da semana, é efetivamente viver essa esperança que o Shabat aponta.

Celebrar o Shabat consiste principalmente em celebrar o que ele significa. Considerar valiosa e deleitosa a promessa guardada para o justo, de maneira que o justo é levado a perseverar no caminho da justiça, pois tem como mais valioso o prêmio da esperança do que os prazeres deste mundo.

Por isso que a melhor maneira de celebrar o Shabat é aquela também definida pelo profeta Isaías, que diz:

“Se desviares do sábado o teu pé, e deixares de prosseguir nas tuas empresas no meu santo dia; se ao sábado chamares deleitoso, ao santo dia do Senhor, digno de honra; se o honrares, não seguindo os teus caminhos, nem te ocupando nas tuas empresas, nem falando palavras vãs; então te deleitarás no Senhor, e eu te farei cavalgar sobre as alturas da terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do Senhor o disse.” Isaías 58:13,14.

Neste ponto é necessário fazer uma observação importante. Não trabalhar no sétimo dia é sim uma maneira de celebrar o Shabat e fazer deste dia um dia especial, um dia de memória da nossa origem e do nosso destino. Mas é importante que se diga que o mandamento não é dado ao empregado, e sim ao empregador. Aquele que ordena o trabalho é que deve dar repouso aos seus empregados. A maioria de nós vivemos em uma situação em que somos obrigados a trabalhar no sábado, e isso não deve ser um peso para ninguém. Mais importante do que não trabalhar no sétimo dia é celebrar o significado que ele carrega.

Mas, porque no capítulo 56 o Eterno coloca como bem-aventurança para o justo a perseverança em não praticar o mal e celebrar o Shabat? Porque a celebração do Shabat é equiparada com o abster-se de fazer o mal? Porque celebrar o Shabat é tão importante quanto ter uma conduta moralmente correta?

Com certeza isso deve dar um nó em muitos que tem o conceito de santidade orientada pelas premissas estoicas.

Através do profeta Ezequiel o Eterno apresenta este mesmo princípio quando diz:

“E dei-lhes os meus estatutos e lhes mostrei os meus juízos, os quais, cumprindo-os o homem, viverá por eles. E também lhes dei os meus sábados, para que servissem de sinal entre mim e eles; para que soubessem que eu sou o Senhor que os santifica.” Ezequiel 20:11,12.

Os estatutos e juízos de Deus, ou seja, o aspecto moral dos mandamentos do Eterno são os princípios que devem nortear a nossa conduta, nossa prática de vida, para que possamos viver dentro do plano e do propósito de Deus. Os mandamentos produzem vida para o justo, ao mesmo passo que o pecado produz a morte na vida do ímpio.

A graça de Deus se manifesta em retirar-nos do caminho de morte, fruto dos nossos pecados, e nos colocar no caminho de vida, através da Torá do Eterno escrita em nosso coração e mente, trazendo como consequência uma vida transformada pelo poder da santificação, operada em nós através de seu Espírito.

Ao mesmo passo os Shabatot, tanto o Shabat como as festas que o Eterno estabeleceu em sua Torá, são os sinais, os memoriais estabelecidos no tempo que constantemente corrigem a nossa memória e mente para a realidade que nos está proposta em suas promessas. São os sinais que o Eterno estabeleceu para que constantemente fossemos lembrados de que Ele é Adonai, que nos santifica.

Alguém pode dizer: “Eu não preciso do Shabat nem das festas para lembrar das promessas de Deus”. E a resposta é muito simples: “OK, mas isso não muda o fato de que Deus estabeleceu esses dias para servirem de sinal. Celebrá-los ou não é uma escolha sua.”

Por outro lado, nós não podemos cair no engano do legalismo, que transforma aquilo que foi dado como sinal em algo moral. Os apóstolos foram claros em não impor sobre os gentios nenhum aspecto da Torá que não fossem os quatro mandamentos cujas práticas são consideradas abominação na Torá. O espírito por trás da normativa estabelecida em Atos 15 é a valorização da prática da Torá mediante a Fé, e não mediante a imposição.

Mas o fato de que a guarda do Shabat e das festas não serem impostas como obrigatórias para os gentios, não pode significar o desprezo aos sinais que o Eterno estabeleceu para nosso ensino.

É verdade que você não é obrigado a guardar o Shabat, ou celebrar as festas. Mas também não é bom que você ignore sua relevância, e a razão pela qual Deus os instituiu.

Infelizmente o que vemos já a milênios no cristianismo são apenas os extremos. Ou se ignora completamente aquilo que Deus nos deu para servir para nós de ensino, ou se torna aquilo que Deus estabeleceu como sinal em um requisito moral. Precisamos compreender as Escrituras, e procurar vive-las com fé e intensidade.

Qual o resultado disto? O justo será bem-aventurado. A grande vantagem em abraçar toda a bíblia, ou seja, viver a moral que os mandamentos apresentam, e celebrar as datas santas que Deus estabeleceu, só redundam em benefícios para aqueles que os cumprem.

O mais importante que há na Torá é sem dúvida os seus preceitos que trazem pureza moral ao justo. Isso é ressaltado por Yeshua quando adverte os fariseus que, ao contrário do que vemos hoje, guardavam com extremo rigor aspectos cerimoniais da Torá, mas omitiam o seu principal. A advertência de Yeshua, porém, não foi que deviam guardar o aspecto moral ao invés do cerimonial. A advertência de Yeshua foi que deviam fazer isto, sem omitir aquilo:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas.” Mateus 23:23.

É tempo de restaurarmos a compreensão das Escrituras, aprender seus ensinos e sermos transformados pelo poder de Deus. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

O Eterno nos abençoe.

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