Qual é a base para a FÉ?



Deus tem se revelado à humanidade de duas formas, através da revelação NATURAL (a criação) e através da revelação SOBRENATURAL (a bíblia).
Sobre a revelação NATURAL foi publicado neste blog o seguinte artigo que recomendo a leitura: http://fesalvacaoeobras.blogspot.com.br/2013/09/conhecendo-deus.html
Mas o nosso objetivo aqui neste artigo é explanar sobre a revelação SOBRENATURAL, ou seja, a Palavra de Deus.
Enquanto que a revelação NATURAL nos mostra que há um Deus Eterno, ou seja, as coisas criadas testificam de um Criador, a revelação SOBRENATURAL nos mostra QUEM É esse Deus Eterno.
Deus se revelou ao mundo, na revelação sobrenatural, através de um POVO a quem foram confiados os ORÁCULOS de Deus:
“Qual é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhe foram confiadas.” Romanos 3:1-2
A bíblia nos conta que Deus chamou a Abraão para fazer dele pai de muitos, e através dele e de sua semente ABENÇOAR todas as famílias da terra. (Gn 12:3 || Gn 22:18 || Gn 26:4)
Aos filhos de Abraão, Isaque e Jacó, Deus deu as suas Leis e os seus mandamentos, para que o caráter de Deus fosse conhecido entre os povos. (Ez 20:11 || Rm 2:18)
A bíblia nada mais é do que a compilação de vários livros escritos ao longo da história do povo de Israel. Temos a TORÁ, que são os primeiros 5 livros da bíblia, e contém as revelações dada por Deus a Moisés. A criação, o dilúvio, a história dos patriarcas, a libertação do Egito, as Leis.
Temos os ESCRITOS, que são registros históricos da ação de Deus na vida do povo de Israel, como a conquista da terra de cannaã, os juízes, os reis, a deportação para babilônia e o retorno. Temos também neste conjunto os livros de sabedoria e os cânticos de Israel.
Depois temos os PROFETAS, registros feitos de profecias dadas por Deus aos Profetas de Israel. Terminamos aqui a primeira porção da bíblia conhecida atualmente como “antigo testamento”.
Temos também na bíblia o Novo Testamento que é formado pelos registros da vida e obra de Jesus Cristo através dos evangelistas, o registro histórico do inicio da Igreja, as cartas doutrinárias redigidas pelos apóstolos e mestres da Igreja, e a profecia do Apocalipse.
Assim vemos que toda a bíblia é a revelação que veio de Deus a nós, produzida através de uma nação eleita por Deus para ser luz para as nações(Isaías 42:6-8). De todos os escritores da bíblia, apenas Lucas, no novo testamento não era judeu.
Vemos, portanto, que a bíblia possui um pano de fundo, a comunidade de Israel. A nação de Israel e a sua cultura é o contexto cultural da bíblia, isso tanto no antigo como no novo testamento.
A questão da COMUNICAÇÃO:
Toda a comunicação é formada por um EMISSOR, uma MENSAGEM e um RECEPTOR. O emissor é aquele que EMITE a MENSAGEM, pois deseja transmitir uma INFORMAÇÃO ao RECEPTOR.
Para que a mensagem seja inteligível ao receptor, o emissor deve usar uma LINGUAGEM e um CONTEXTO que permita ao receptor decifrar a MENSAGEM e receber a INFORMAÇÃO.
Deus usou uma linguagem (a língua hebraica no antigo testamento, e a língua grega no novo testamento) e usou um contexto (a historia e a cultura do povo de Israel).
Portanto para o receptor (nós) compreenda a MENSAGEM e adquira a informação, deve entender a MENSAGEM dentro do CONTEXTO em que ela foi gerada.
Precisamos aprender grego e hebraico? Não, pois homens estudiosos já fizeram um importante papel de traduzir para nossa língua a bíblia. Não obstante, é necessário recorrer sim aos originais, caso queiramos aprofundar alguns conceitos.
Mas é indispensável que o texto (mesmo traduzido) seja contextualizado no CONTEXTO ORIGINAL das escrituras para não DETURPARMOS o que está escrito.
A bíblia EXPLICA-SE a si mesma, pois a cultura e a história judaica são uma CULTURA e HISTÓRIA bíblica, ou seja, tanto a cultura como a história do povo de Israel está registrada na bíblia.
Assim a autoridade para interpretar a bíblia é a própria bíblia.
O povo de Israel recebeu durante 1400 anos os textos que foram formando a bíblia, e esses textos foram anexados e compilados pela primeira vez por Esdras em 400 a.C. formando assim a TANACH.
A TANACH hebraica é o nosso antigo testamento.
Aqui cabe uma análise.
Em 285 a.C um grupo de judeus que moravam em Alexandria (norte do Egito) decidiram traduzir os livros mais importantes da cultura hebraica para o grego, formando assim a SEPTUAGINTA. Quando a Septuaginta foi feita, não havia nenhuma preocupação em montar um cânon, pois Esdras já tinha feito isso em 400 a.C.
Os livros sagrados que estavam nas sinagogas eram os textos em HEBRAICO compilados por ESDRAS e não a SEPTUAGINTA. A Septuaginta era apenas um esforço para disseminar e popularizar a cultura judaica entre os gregos. Por isso ela possui livros além daqueles que formam o CÂNON HEBRAICO.
A TANACH não possuí os 7 livros que estão na Septuaginta (Tobias, Judite, I e II Macabeus, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruc, adições em Ester e adições em Daniel). Inclusive um dos critérios para o cânon hebreu era que os livros sagrados estivessem escritos em HEBRAICO. Flavio Josepho, historiador judeu do primeiro século, lista os livros sagrados do cânon hebreu sem esses 7 livros da Septuaginta, e o concílio de Jâmnia (primeiro concílio judeu após a destruição do templo) manteve o cânon hebraico conforme determinado por Esdras.
Jerônimo (tradutor da vulgata latina) sabia disso e deixou claro sua posição quanto a esses livros:
“Portanto, a Sabedoria (...) Judite e Tobias (...) NÃO FAZEM PARTE DO CÂNON (...). a igreja lê Judite e Tobias e Macabeus mas NÃO os RECEBE entre as Escrituras canônicas (...) [são] livros úteis para a edificação do povo, MAS NÃO PARA ESTABELECER DOUTRINAS DA IGREJA." (Merece confiança o AT, G.L, Archer Jr. Edições Vida Nova, Pág. 76).
Não obstante essa declaração de Jerônimo, em 1546, no concílio de Trento, a igreja Católica assumiu esses 7 livros como canônicos. Durante 1200 anos aproximadamente a igreja Católica tinha esses livros apenas para consulta histórica, não os tendo como escritos canônicos devido à ressalva feita por Jerônimo no século IV.
Portanto, quando o catolicismo romano declara que estes livros são canônicos, ela erra, e erra porque ignora o contexto histórico e cultural da bíblia, o povo de Israel.
Não há no novo testamento NENHUMA referencia ou citação a estes livros acrescentados pela igreja católica. Assim, por ignorar um ponto cultural e histórico importante da nação de Israel (o seu cânon), a igreja católica entendeu que a Septuaginta era um cânon, quando na verdade nunca foi.
A formação do cânon do Novo Testamento já foi um trabalho bem mais rápido comparado à formação do Antigo Testamento. Vários bispos dos primeiros séculos foram os primeiros a recomendarem a leitura de cartas produzidas pelos apóstolos e os evangelhos. Ainda no século II temos uma relação do chamado “Cânon de Muratori”, que apenas não continha os livros de Tiago, Hebreus e I e II Pedro. Todos os demais livros são os que temos hoje em nosso Novo Testamento.
As regras para escolher os livros que entrariam no cânon do Novo Testamento eram: ter sido produzido na era apostólica, ter sua autoria reconhecida, e o autor ter sido ou um apóstolo ou algum discípulo ligado a um apóstolo. O primeiro registro contendo os 27 livros do Novo Testamento data de 367 d.C.
De todos os escritores do Novo Testamento, apenas Lucas não era judeu. Todos os demais escritores do Novo Testamento eram judeus que haviam sido apóstolos ou discípulo de Jesus, ou teriam se convertido a Cristo após a sua ressurreição, como é o caso de Judas e Tiago (irmãos carnais de Jesus).
Mas qual a importância da bíblia para a Fé?
O protestantismo levantou no século XVI o que ficou conhecido como os 5 SOLAS, dentre esses havia o SOLA SCRIPTURA, que era a premissa de que SOMENTE AS ESCRITURAS eram a única regra de FÉ e PRÁTICA para aqueles que professavam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Mas será que a bíblia confirma a SOLA SCRIPTURA?
Vejamos o que os apóstolos falaram sobre as bases da Fé:
“De sorte que a FÉ é pelo ouvir, e o ouvir pela PALAVRA DE DEUS.” Romanos 10:17
“E que desde a tua meninice sabes as SAGRAS ESCRITURAS, que podem FAZER-TE SÁBIO para a salvação, pela FÉ que há em Cristo Jesus.” 2 Timóteo 3:15
“Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, EXAMINANDO cada dia nas ESCRITURAS se estas coisas eram assim. De sorte que CRERAM muitos deles, e também mulheres gregas da classe nobre, e não poucos homens.” Atos 17:11-12
“Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado; se não é que CRESTES em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as ESCRITURAS, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as ESCRITURAS.” 1 Coríntios 15:2-4
Neste texto de 1 Coríntios fica claro que Jesus morreu e ressuscitou CONFORME as ESCRITURAS. Ou seja, Jesus não fez nada além, nem aquém daquilo que estava profetizado a respeito dele nas escrituras.
Vejamos agora o que Cristo disse sobre as escrituras:
“EXAMINAI as ESCRITURAS, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” João 5:39
Perceba que em todas as referências acima, as ESCRITURAS ou a PALAVRA DE DEUS é a BASE para a FÉ que temos em Jesus Cristo. Portanto é somente através de examinarmos a bíblia que podemos ter a FÉ na OBRA de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!
Por isso a importância de conhecermos as escrituras, de estudarmos o que elas dizem, e principalmente, compreender a razão pela qual ela é digna de Fé.

Nos próximos artigos iremos tratar de 4 questões que mostram o porque a bíblia digna de FÉ: a sua formação, a sua historicidade, a sua moral, e a questão profética.

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