Fim da Lei?

“Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe de ti.
Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?
Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?
Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires.” Deuteronômio 30:11-14

“Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.
Ora, Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas.
Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo.)
Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” Romanos 10:4-9

O que Paulo estava ensinando quando disse: “o fim da lei e Cristo”?
A teologia normativa ensina que em Cristo acabou as prescrições da Torá. Desta forma a teologia normativa distância Paulo do contexto ao qual ele mesmo citou em sua carta. No capítulo 10 da carta aos Romanos Paulo está tratando sobre a sua perspectiva pessoal quanto à situação de Israel.
A liderança de Israel havia rejeitado o Messias, e mesmo algumas décadas após a ressurreição do Messias, e milhares de judeus terem se tornado discípulos de Jesus (Atos 21:20), a liderança de Israel persistia em não reconhecer Jesus como o Messias.
Paulo então diz que intercede pela a salvação de todos os judeus, e dá testemunho de que eles são zelosos para com Deus, porém sem conhecimento. Então Paulo afirma que eles (os judeus) não conhecem a JUSTIÇA de Deus, e procuram estabelecer a própria JUSTIÇA.
O termo JUSTIÇA em hebraico é TZEDEK e está ligada à retidão, ou seja, ao andar em obediência à Torá.
Paulo está atestando que os judeus se esforçam e tem zelo por andar em retidão segundo a Torá, porém o fazem sem conhecimento, e por rejeitarem a JUSTIÇA que vem de Adonai, estabelecem a sua própria JUSTIÇA. (Romanos 10:1-3)
Mas qual é a JUSTIÇA que vem de Adonai segundo Paulo?
Paulo cita expressamente Deuteronômio 30 para explicitar a JUSTIÇA segundo Adonai. Ou seja, Paulo usa Deuteronômio 30 para explicar no que consiste o viver em retidão segundo a Torá.
No capitulo 30 de Deuteronômio Adonai está falando ao povo de Israel, por intermédio de Moisés, que:

“E será que, sobrevindo-te todas estas coisas, a bênção ou a maldição, que tenho posto diante de ti, e te recordares delas entre todas as nações, para onde te lançar o SENHOR teu Deus, e te converteres ao Senhor teu Deus, e deres ouvidos à sua voz, conforme a tudo o que eu te ordeno hoje, tu e teus filhos, com todo o teu coração, e com toda a tua alma, então o Senhor teu Deus te fará voltar do teu cativeiro, e se compadecerá de ti, e tornará a ajuntar-te dentre todas as nações entre as quais te espalhou o Senhor teu Deus. ... E o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao Senhor teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas. ... Converter-te-ás, pois, e darás ouvidos à voz do Senhor; cumprirás todos os seus mandamentos que hoje te ordeno.” Deuteronômio 30:1-3;6;8

Adonai predisse que Israel iria se desviar dos caminhos da Torá, e por causa de sua rebelião, os israelitas seriam espalhados por todas as nações da terra. Mas quando Israel se lembrasse dos mandamentos do Senhor, e se ARREPENDESSEM, e se CONVERTESSEM a Adonai, então Adonai os restauraria como nação, e mais, Adonai mesmo circuncidaria o coração dos israelitas, para que fossem purificados de seus pecados, e então obedeceriam aos mandamentos da Torá.
Era sobre essa CIRCUNCISÃO DO CORAÇÃO que Jeremias estava profetizando a respeito da Nova Aliança:

“Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” Jeremias 31:33

Perceba que a Torá mesmo ensina que a obediência aos mandamentos depende da CIRCUNCISÃO DO CORAÇÃO, que Adonai opera em nós mediante a sua GRAÇA. Assim, não é a prática religiosa dos preceitos da Torá que transforma o homem, mas o poder de Deus que opera no crente que capacita o homem a viver em JUSTIÇA.
Quando Adonai fez a aliança com o povo de Israel no monte Sinai, para fazer de Israel uma nação sacerdotal para todos os povos da terra, esta aliança dependeria da obediência de Israel:

“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha.” Êxodo 19:5

A Torá então foi apresentada em mandamentos gravados em pedras, e recitados a Israel com vozes e sons de trombetas, de modo que todo o povo temeu muito (Êxodo 20:18-19).
Israel quebrou a aliança no episódio do bezerro de ouro, invalidando a aliança. Mas mesmo assim Adonai fez de Israel uma nação sacerdotal para todos os povos (Jeremias 31:32). Quando Adonai mantém a sua parte da Aliança, mesmo com a desobediência de Israel, Adonai estava demonstrando sua Graça.
Mas Israel continuou quebrando a aliança, desobedecendo aos mandamentos da Torá em vários momentos de sua história. E é nesse contexto em que a Nova Aliança é apresentada a Israel através de Jeremias.
Nesta Nova Aliança a Torá que estava escrita em pedras passaria a ser escrita nos corações dos israelitas, de forma que eles não mais desobedeceriam a Adonai. O propósito da antiga aliança só seria alcançado com a Nova Aliança, pois afinal o propósito de Adonai sempre foi a Nova Aliança, por isso que temos o capítulo 30 de Deuteronômio dizendo “o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração”.
Por isso que o escritor de Hebreus também afirma:

“Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar.” Hebreus 8:13

Os judeus que não reconhecem a obra expiatória do Messias de Israel, derramando o “sangue da Nova Aliança”, ainda persistem na antiga aliança, onde a obediência à Torá depende deles e não da GRAÇA de Adonai. Por isso que Paulo afirma que “não conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus.” Romanos 10:3.
Ainda citando Deuteronômio 30, Paulo ensina que os mandamentos do Senhor não são difíceis para nós, pois é o Messias quem os escreve em nossos corações, nos fazendo participantes da Nova Aliança:

“Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo.)” Romanos 10:6-7

Mas o que Paulo quis dizer com a expressão “o fim da lei é Cristo”?
No grego, a palavra que Paulo utiliza neste verso é TELOS (τελος) que significa “propósito” ou “finalidade” e não “fim” no sentido de “acabar”, “terminar”.
Paulo nunca escreveu que a Torá terminou com o Messias, afinal, o próprio contexto da citação que Paulo faz (Deuteronômio 30) ensina justamente o contrário. Paulo escreveu que o propósito da Torá é o Messias.
Ou seja, a Torá aponta para uma JUSTIÇA que não pode ser alcançada meramente por nossos esforços, mas sim pela ação de Adonai em nós, que é concretizada na Nova Aliança, inaugurada pelo Messias de Israel.
A Torá nos ensina que devemos estar anelados ao Messias, pois é Ele quem nos capacita a viver em JUSTIÇA verdadeiramente.
Assim, para nós que somos discípulos de Jesus, a Torá deve ter grande relevância. Não para sermos salvos, mas porque fomos salvos por Jesus. Pois “Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.” Romanos 10:9
Que Adonai purifique nossos corações com o Sangue da Nova Aliança, e escreva a Torá em nossos corações, para que andemos em JUSTIÇA, frutificando ao Senhor em toda boa obra.


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