“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores;” Mateus
6:12
Perdoar significa cessar os ressentimentos ou a raiva por uma ofensa
recebida, e cessar a exigência de castigo ou restituição por danos cometidos.
Em tese perdoar é simplesmente deixar de executar a justiça diante de uma ofensa.
É justamente isso que Deus nos proporciona desde que assumamos o
compromisso de consagrar nossas vidas a Ele e abandonar definitivamente a
ofensa ou o pecado. Afinal a justiça de Deus foi executada em Jesus, quando
este foi crucificado por causa de nossos pecados.
Interessante entendermos que quando Jesus foi morto naquela cruz, concomitante
à aquele momento, no mundo espiritual, o que aconteceu foi exatamente o que
João viu e descreveu no livro de apocalipse.
“E olhei, e eis que estava no meio do trono e
dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido
morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus
enviados a toda a terra. E veio, e tomou o livro da destra do que estava
assentado no trono. E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os
vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles
harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos.
E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os
seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens
de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; E para o nosso Deus os
fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra.” Apocalipse 5:6-10
E o escritor de Hebreus também indica este acontecimento simultâneo no
reino espiritual. Paralelamente ao momento em que Cristo estava padecendo na
cruz, o mesmo Cristo estava se apresentando diante do santuário de Deus.
“Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens
futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é,
não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu
próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna
redenção.” Hebreus 9:11-12
No texto de apocalipse podemos
notar que o sacrifício de Jesus foi aceito diante do santuário de Deus, motivo
pelo qual ele tomou o livro. Mas que livro é esse? Este livro, escrito por
dentro e por fora, e selado com sete selos que estava continuamente no
santuário, à direita de Deus, do qual ninguém era digno de tocá-lo nem de olhar
para ele, era a condenação pelos nossos pecados, motivo pelo qual a justiça de
Deus deveria ser aplicada a todos os homens.
Sabemos disso pelo texto que se segue na abertura destes selos e vemos
que a cada selo aberto um julgamento será realizado na terra. Este texto ainda
não se cumpriu, é profético, um dia este julgamento irá começar, mas o
interessante que quem toma o livro e começa a abrir seus selos é justamente o
Cordeiro.
Nós tínhamos uma dívida para com nosso criador, por causa de nossos
pecados, Jesus pagou na cruz essa dívida, portanto agora está nas mãos de
Cristo perdoar ou cobrar a dívida que temos.
O evangelho deixa bem claro as condições que existem para que o perdão
aconteça e alerta para aqueles que não derem ouvidos ao evangelho que a dívida
será cobrada, integralmente.
Mas sabemos que o perdão existe, está disponível, e é total, de forma
tão sublime que é capaz de prometer ao pecador não apenas o cessar da ira e da exigência
de justiça de Deus, mas também de torná-lo participante de um reino eterno,
como rei e sacerdote do Deus altíssimo. O perdão que Cristo nos oferece é fruto
de sua imensa graça e amor.
Paralelamente a este perdão vertical, de Deus para os homens, a bíblia
nos fala muito acerca de outro perdão, agora horizontal, entre os homens. No
primeiro texto que destacamos no inicio, refere-se à parte do Pai Nosso, uma
oração que Cristo deixou registrada para que aprendêssemos a orar de maneira a
sermos ouvidos por Deus.
Nesta parte do Pai Nosso que destacamos, fica claro que o perdão
horizontal é intimamente ligado ao perdão vertical, de forma que Cristo usa a
expressão “assim como” que
denota “do mesmo jeito”, “com a mesma intensidade”, “com os mesmos critérios”.
Para enfatizar ainda mais essa situação Jesus faz uma explicação logo
após, ele diz:
“Porque, se perdoardes aos homens as suas
ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não
perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as
vossas ofensas.” Mateus 6:14-15
Perceba que o perdão vertical é condicional ao perdão horizontal.
Existe ainda outra parábola que nos ensina muito a respeito do perdão, a
chamada parábola do credor incompassível:
“Por isso o reino dos céus pode comparar-se a
um certo rei que quis fazer contas com os seus servos; e, começando a
fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos; e,
não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus
filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse.
Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso
para comigo, e tudo te pagarei. Então o senhor daquele servo, movido de
íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele
servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e,
lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o
seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso
para comigo, e tudo te pagarei. Ele, porém, não quis, antes foi
encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. Vendo, pois, os seus
conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor
tudo o que se passara. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença,
disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste.
Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também
tive misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou aos
atormentadores, até que pagasse tudo o que devia.
Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.” Mateus 18:23-35
Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.” Mateus 18:23-35
Percebemos nessa parábola que o homem devia ao seu Senhor dez mil
talentos, que equivaleria a algo entre 350 toneladas de ouro ou prata. Sem
dúvida alguma era um valor exorbitante, muito superior ao valor que se conservo
o devia, cem dinheiros, que era o equivalente a um dia de serviço de um assalariado.
Assim logo de cara Jesus nos mostra que a nossa divida para com Deus é
infinitamente maior do que qualquer ofensa que você pode receber de seu
próximo. Portanto tendo recebido um perdão tão expressivo de alguém muito
superior a nós, o nosso rei, devemos moralmente perdoar as ofensas de nossos
semelhantes.
Vemos também que este servo que não perdoou a divida de seu conservo
teve seu perdão revogado, sendo lançado aos atormentadores. Perceba a
similaridade com a declaração feita antes por Jesus dizendo que se não perdoarmos
aos nossos semelhantes também Deus não nos perdoaria.
Percebemos uma distinção clara do perdão horizontal para com o perdão
vertical, visto que existe uma condição para que Deus nos perdoe, e a condição
é o arrependimento de nossos pecados e a consagração de nossas vidas a Deus,
enquanto que o perdão horizontal deve ser incondicional. Perceba que tanto em
Mateus 6 como em Mateus 18, não existe exceção para o não perdão horizontal.
Podemos entender isso claramente com a questão levantada logo no
inicio, onde foi afirmado que o perdão significa a não exigência da execução da
justiça. Quando não perdoamos estamos assumindo o papel de juízes e queremos
nós mesmos aplicar a condenação àqueles que nos ofenderam, e Jesus nos fala
claramente para não julgarmos:
“Não julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que
tiverdes medido vos hão de medir a vós.” Mateus 7:1-2
No momento em que há a liberação do perdão, efetivamente deixamos de
ser o juiz e deixamos a cargo do justo Juiz a questão. Perceba como Cristo toma
para si mesmo todas as ofensas feitas entre os homens:
“Então dirá também aos que estiverem à sua
esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o
diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive
sede, e não me destes de beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes;
estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.
Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome,
ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?
Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes
pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.” Mateus 25:41-45
Assim o perdão tem dois fundamentos importantes que não devem ser
desprezados, primeiramente é uma questão de reconhecimento de que as nossas
ofensas diante de Deus são muito maiores do que quaisquer ofensas que outros
são capazes de nos fazer. Assim se buscamos o perdão divino devemos perdoar. Segundo
que o perdão implica no reconhecimento de nossa incapacidade de julgar com
justiça, portanto entregamos para Deus, o justo Juiz, o caso para que Ele
julgue.
O perdão não é esquecer a ofensa nem reatar o relacionamento rompido,
isso só será possível se o ofensor promover condições substanciais para isso,
perdoar é algo muito mais profundo, que deve ocorrer antes mesmo de que o
ofensor venha reconhecer seu erro. A bíblia nos ensina muito a respeito do
perdão e nos encoraja e tomar essa atitude sempre que alguém lhe ofender.
O que aprendemos na prática é que o perdão é o melhor remédio para as
magoas e rancores, pois consiste na entrega da situação a Deus, e como conseqüência
o seu descanso no Senhor.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns pelo texto!!! Muito bem explicado, de uma forma simples e clara! O Senhor continue te abençoando e capacitando a transmitir Suas mensagens! Graça e Paz!
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